Família
Sacrifícios precisam ser feitos
Ponho-me a lhes narrar uma história bem conhecida no Distrito de Elefantes, situado na Republica Federativa do Brasil. Pouco tem-se, no entanto, de conhecimento sobre a veracidade dos fatos que irei contar.
Aos vinte e um dias do décimo segundo mês do quinto ano do segundo milênio do calendário ocidental a chuva era torrencial e incessante. E foi em meio a raios e trovões que Vitor Salazar, herdeiro do trono Luso-Brasileiro, adentrou o casebre onde armazenava sua mais antiga vítima: Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga Salazar, sua irmã.
A conversa foi a mesma de sempre, carregada de ódio e um vazio mais que substancial; a perturbação verbal era demonstrada na boca tremulante de “Bebelzinha”, apelido carinhoso que o príncipe dava à consanguínea.
Mantendo há doze translações sua irmã trancafiada, acompanhada de apenas água, arroz e um pinico, Vitor tornou-se o mais procurado homem de toda a Federação. Tendo seu nome estampado em cartazes espalhados por postes de norte a sul do país e sendo obrigado a viver escondido vinte e quatro horas por dia, sua vida se tornou tão aporrinhante quanto a que ele proporcionou à sua irmã.
A família, humilde, nunca deu por encerrada as buscas por sua mais jovem descendente. “Quero ver o porco que saiu de meu ventre embaixo da maior quantidade de terra que eu puder carregar”, disse a mãe de ambos em entrevista exclusiva ao Portal R7. O pai, que era um bêbado tatuador, nunca esteve próximo à família, e é tido pela mãe como a provável causa de todo o problema.
Vício.
Por quantos Yakults você destruiria sua família? Por quantos Yakults você chicotaria pela eternidade a alma de sua própria irmã?
Ou, mais, por quantos você aceitaria deixar de destruí-lá?
Dedico este texto à Vitor S., que fez a escolha errada.