Privilégio do Mar

O mundo é mesmo de cimento armado, disse Drummond

Paulo Victor Ribeiro
O EXPRESSO
2 min readOct 15, 2017

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Complexo do Alemão, Rio de Janeiro — 23.09.2017

Quando viajamos, re-ligamos, re-acendemos, re-percebemos todas as percepções que o cotidiano nos tira. É por isso que você se sente mais cansado. Mas é por isso também que se liga em uma riqueza de detalhes que costumam passar despercebidos. Sair do automático te traz novas vistas. As curvas do pixo, as luzes da cidade, o sorriso que está ao seu lado. Tudo parece ter mais vida quando você está inteiramente presente.

Foi assim que me senti no Rio de Janeiro: presente. Por inteiro. Não deixei nada de mim em São Paulo. Larguei de mão trabalhos da faculdade, provas e um curso. Tudo pelo Rio. Não só pela experiência, mas pela possibilidade. Fui pro rio de peito aberto, tipo aquela maravilha arquitetônica. E me apaixonei.

Me apaixonei pela cidade maravilhosa e por suas maravilhosas cores.

O que me disseram ser branco e amarelo me apresentou outro pantone. O Rio pra mim é verde, marrom e laranja.

Notei o tom no topo do alemão, quando estávamos acima da bandeira da pátria amada e em frente a uma infinidade de complexidades cor de laranja e sem reboco. Cada casa com suas história. Às vezes não era possível nem identificar os contornos, onde acaba uma e onde começa outra. Parecem estar interligadas. A favela e sua realidade. Faz sentido se chamar complexo.

Verde. Assim fiquei quando, com espanto, encontrei o verde das águas do Leme. Que plenitude! Infinito até segunda ordem, por vezes não era possível identificar até onde era água e onde começava o céu. Aquele mar me levou e me trouxe diversas vezes. Sua gelada temperatura brigando com o calor que crescia dentro de mim sempre que olhava pro lado. A areia quase tão macia quanto a mão em que meus dedos se entrelaçavam. O calçadão característico, que eu conhecia antes mesmo de ter conhecido. A praia e suas belezas.

Mas dentre todas as belezas, o marrom foi a que mais me encantou. Não sei se o da pele ou dos olhos. Não sei se verdadeiro, tampouco correto. Mas sei que real. Permiti que as sensações me guiassem e entrei de cabeça no Rio que ela era -e que dela saía. A pouca luz deixava, entre nós, tão escondido quanto deixávamos aos demais. No escuro, não era fácil dizer onde era um e onde era outro. E foi nessa confusão de pernas, cabelos e sentimento, que entendi porque o Rio de Janeiro é lindo.

Estive pleno como não me sentia há tempos. E livre. Um turista, ora visitando os Arcos da Lapa, ora revisitando suas próprias decisões.

Abraços demorados, lágrimas e cara de bobo. O Rio foi o meu amor de verão.

E eu estou torcendo muito pra que todo dia faça sol.

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Paulo Victor Ribeiro
O EXPRESSO

cachaceiro, debochado e jogador. repórter freelancer de qualquer veículo legal.