Surma
Fotografia de Matilde Soares
Débora Umbelino é a talentosa jovem de 21 anos que dá vida ao Projecto noise/experimental Surma. O seu interesse pela música começou muito cedo e rapidamente revelou uma aptidão e entrega pouco comuns à sonoridade experimental, que pode ter origem em coisas tão aleatórias como um som de sapatos ou uma garrafa com arroz. O seu single e vídeo de estreia, Maasai, reflecte uma panóplia de cores musicais num cenário visual monocromático em que Débora é mais do que uma protagonista. Dotada de uma energia excepcional, Surma promete ser um dos nomes mais marcantes que a cidade de Leiria já produziu.
Como começou o teu interesse pela música?
Quando tinha 5 ou 6 anos quis aprender bateria, mas os meus pais preferiram que aprendesse flauta e acabei por desistir. Desde miúda que sempre quis aprender música, sempre tive um grande interesse pelo ramo. Os meus pais tinham discos de vinyl e CD’s lá em casa e eu andava sempre a cuscar aquilo. Aos 13 comecei no piano mas, como eram aulas de piano clássico, desisti. Um ano depois passei para a guitarra e, como também era clássica, desisti. A partir daí fui pela vertente autodidata. Aos 18 anos entrei no Hot Club, em contrabaixo e voz, depois saí também. Estive em bandas como Backwater and The Screaming Fantasy (que agora são os Whales), e acabei por seguir um caminho a solo. Agora estou a estudar pós-produção audiovisual na Restart, em Lisboa. Queria uma vertente diferente da música e escolhi a visual.
O nome do teu projecto está relacionado com a Etiópia. Podes explicar esta relação?
Um dia estava a ver um documentário na televisão e estavam a falar sobre tribos etíopes. O nome “Surma” ficou-me no ouvido. O nome do primeiro single, Maasai, também tem uma ligação com as tribos.
Fotografia de Jessica Ferreira
Qual a diferença entre tocar a solo e com Backwater and the Screaming Fantasy?
É totalmente diferente. Com banda, se dás um prego, tens a banda atrás contigo. Quando estás sozinha, estás por ti. É muita pressão e lido mal com isso. Costumo ficar bastante nervosa e só à terceira música é que começo a relaxar. Retraio-me um bocado! Com a banda sentia-me mais tranquila.
Achas que a música electrónica é o futuro?
Muitas bandas estão a enveredar por esse caminho. A música electrónica está a sair aí em peso, por isso acho que sim. Uma fundação de música clássica é sempre boa para ter umas bases musicais e explorar a técnica. No entanto, não é necessária: muitas pessoas nunca tiveram formação clássica fazem coisas muito boas.
Qual o teu processo de composição?
Começa sempre por um riff muito minimal, depois vou juntando coisas em cima. Vou eliminando o que não gosto e adicionando melodias, uma baralhação autêntica. Às vezes apanho coisas giras na rua e reparo em algo que me agrada, como sons de sapatos ou qualquer outro som aleatório. Agarro no telemóvel e depois faço um sample disso. Tenho até uma garrafa com arroz que costumo usar também. Gosto de experimentar com coisasrandom, daí considerar a minha música experimental. Cada vez se torna mais difícil fazer algo original, mas tento sempre envergar por um caminho diferente do normal.
Qual o balanço que fazes do teu percurso na música até agora?
Tenho noção de que é muito difícil viver da música. Às vezes temos de pagar para ir tocar, em vez de receber. Se tiveres um emprego e conciliares as duas atividades, a coisa torna-se possível. Tudo o que eu ganho tem sido investido em material, mas não consigo poupar nada. No entanto, comecei com low expectations e tem sido uma grande viagem! Tenho tido um apoio de loucos e tenho recebido convites atrás de convites para tocar.
Fotografia de Joana Guilherme