A Lei do Retorno

Erik
O Grande Freixo
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5 min readMay 12, 2019

— ou “Me Ensinaram a Temer Minhas Capacidades, e Meus Desejos”

“Se você fizer isso, retornará 3 vezes para você!” Provavelmente já ouvimos de algum amigo alinhado à lei tríplice, muito difundida no meio da bruxaria, e parte integrante dos dogmas de algumas práticas religiosas. É importante começar esse post dizendo que: Não, se você não vive sob os dogmas da lei tríplice, ela não se aplica a você. Se ela não faz parte do seu paradigma, da egrégora a qual você está alinhado, você não tem nada a temer sobre ela.

Mas isso não te torna intangível de qualquer consequência sobre seus atos, mesmo eles não estando sob qualquer tipo de “justiça divina”. Afinal, a terceira lei de Newton nos diz que “Toda ação possui uma reação”, é física básica, e indiscutível lei do universo. Mas, o que é constantemente ignorado, é como fomos ensinados a temer nossas capacidades e desejos, castrando nossos posicionamentos, e transformando cada um de nós em seres docilizados, e adestrados, quando o mundo se mostra selvagem e agressivo.

Não que ser uma pessoa pacifica e serena seja algo negativo, ou que deva ser corrigido, tampouco modificado, pacifismo é uma qualidade valiosa nos dias de hoje, mas saber defender-se e se mostrar ofensivo quando necessário também é.

Fomos ensinados que tudo possui um lado “bom” e outro “ruim”, quando na verdade, observar o universo de uma maneira extremamente dualista entre bem e mal, é podar suas próprias capacidades, e as possibilidades que você pode explorar. É dizer a si mesmo que existe uma linha que não deve ser cruzada, ou experimentada, e na magia, uma arte e ciência experimental, desenhar linhas que prendem nosso progresso é dizer que existem coisas que não podem, e não devem fazer parte de nossas descobertas. É negar nossa sombra.

Não estou dizendo que devemos sair utilizando magia para atacar, vampirizar ou mexer com o livre arbítrio dos outros, mas que isso não é proibido, e vou além, não é certeza que se você fizer isso, automaticamente, algo de ruim acontecerá com você, não é assim que o universo funciona, mas não estou dizendo que você sairá sem consequência alguma, o universo afinal tende ao equilíbrio, é entropia.

Um exemplo palpável da entropia em uma visão menos física e termodinâmica, é dentro da biologia: A única certeza é que todos os organismos vivos um dia irão morrer, retornando à natureza, alimentando e nutrindo provavelmente o que um dia dali retiramos. Morrer e nutrir nova vida é uma lei universal, assim como a “Lei do Retorno”, nosso universo tende a equilibrar tudo que é retirado ou colocado nele, física ou energeticamente.

Quando fazemos um ato mágico, qualquer ato mágico, sem distinção de valor, origem, sistema, ou complexidade, estamos movimentando energia. Se há movimento de energia, estamos diminuindo a entropia universal, estamos desequilibrando o curso das coisas, e isso não é exatamente algo ruim, é natural, o universo está constantemente em um estado de desordem e retorno à ordem, fazer magia é apenas movimentar a “desordem” em nosso favor, posteriormente recebendo os efeitos disso, as providencias que o universo toma para que haja maior entropia, para que as coisas se equilibrem novamente. Isso vale para qualquer ato mágico, todo ato possui uma consequência, boa ou ruim, e o valor dela independe do valor das nossas atitudes, se dependesse, o mundo seria um lugar menos agressivo e muito mais “justo” aos olhos humanos.

Uma magia inofensiva para atrair amor pode ter consequências catastróficas, uma magia de cura bem intencionada também, afinal estamos movimentando energia, não sabemos se o adoecimento serviria para fortalecimento, assim como não sabemos se um ataque ou vampirização não são uma maneira do universo agir entropicamente sobre a outra pessoa, se isso trará consequências ruins para o atacante apenas o tempo dirá, as leis sob as quais ele está, e o universo, a única certeza é: Haverá consequência. Sempre.

Traçar linhas de bom ou ruim cabe ao magista, isso vem de suas próprias concepções morais, e traçar essa linha para o outro é ainda pior.

Cabe apenas ao praticante escolher que linhas ele vai traçar em sua prática, que tipo de atitudes ou atividades ele irá se engajar.

Afinal, não são nossas atitudes de ética ou falta dela que decidem os resultados que obteremos após nossa movimentação de energia, nem o valor que elas carregavam moralmente, já que moral é um conceito variável, e um construto social, que é se não apenas um ponto de vista.

Cabe ao magista ainda bom senso, se suas práticas estão dentro da lei, e avaliar o motivo de suas atitudes, para evitar arrependimento, mas isso não vale apenas para as práticas tidas como “egoístas”, “magia negra” e “maldade”, mas para qualquer coisa que qualquer pessoa venha a recorrer magicamente (ou não, bom senso é eficiente em todas as áreas da vida.)

Este texto não é uma mensagem baderneira de que você deve amaldiçoar alguém que furou a sua fila na venda da esquina, mas um aviso: Todo ato mágico, toda ação, possui uma reação. Tenha cuidado com o que pede, uma boa intenção não te protege do equilíbrio do universo, e um objetivo moral dúbio não te condena automaticamente.

Não vamos então, podar a nós mesmos em visões simplistas de bem e mal, e explorar o máximo possível de nossas capacidades magísticas, já que não podemos prever as consequências de qualquer atitude, uma cura pode ser destruição, e destruição pode ser cura.

O universo é o caos que tende a desordem, é dever do magista saber tirar o máximo disso para si, e compreender que os sistemas vão além de suas próprias concepções morais, e que elas não se aplicam a ninguém além de você.

Não tema as consequências e valores morais de seus atos, avalie-os de uma ótica do bom senso, não tema suas capacidades, seus desejos. Não tema a entropia do universo, já que ela é indiscutível, imanipulável e imprevisível, mas abrace-a e aprenda com ela.

Dito isso: Dedo no cu e gritaria.

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Erik
O Grande Freixo

Sou o Ratatoskr da magia do caos, descobrindo as palavras acima, trazendo-as para baixo, em uma grande fofoca cósmica.