Hannah Gadsby: Nanette o soco na minha cara que eu não sabia que ia tomar

Welbe
O Grotto
Published in
3 min readJul 30, 2018

Mas ainda bem que tomei

Um mês depois do meu ultimo post eu finalmente vi algo que realmente me da vontade de falar sobre, essa vontade talvez só dificulte o trabalho.
Bem provavelmente você não faça ideia de quem Hannah Gadsby é, eu não sabia, o especial de comédia dela chegou na Netflix escondidinho e num estouro virou assunto comentado na mídia internacional. Se ela ainda não passou pela sua timeline de qualquer rede social eu quero tentar fazer ela passar.

Batizado de “Nanette” o show de stand-up não é o que os outros costumam ser. Hannah não sobe no palco com o intuito de te fazer rir e no final sacar uma critica social foda pra te fazer pensar, vai muito além disso. MUITO. ALEM.

Lésbica, nascida em Smithton, cidade pequena da Tasmânia(Onde ela faz questão de mencionar que a Homossexualidade foi crime até 1997), feminista, graduada em história da arte Hannah traz o texto que passa de um stand-up comum a um monologo dramático autobiográfico de um tom sério, um desabafo sincero e politizado.

No texto de autoria própria a comediante disseca a própria técnica, explica pra todos o como ela faz humor, diz que cria tensão pra dissolve-la com uma piada em seguida, como se ela fosse a heroína que salva a vibe merda na sala, usando quase sempre de piadas autodepreciativas. E anuncia que não é isso que ela quer fazer mais. Desse momento pra frente Hannah vai aos poucos passando de um tom de voz “surpreso” pra uma postura mais assertiva de quem se assumiu cansada.

Muito da experiência de Nanette vem de não saber o que acontece, experiência da qual eu vou tentar preservar pra caso você tenha a intenção de assistir (E você tem.) o que talvez faça mais dificil o trabalho de te fazer investir uma hora do seu tempo nessa aula, sim aula. O que você tem agora é só minha palavra, e vai por mim, vale muito a pena.

“Porque, vocês entendem o que autodepreciação significa quando vem de alguém que já está à margem? Não é humildade. É humilhação.”

Nanette existe pra atacar o próprio stand-up da autora, como se seu texto de agora fosse a arma perfeita pra desamar seus textos antigos. Agora Hannah não vê mais sentido em transformar sua trajetória em piada já que a mesma é marcada por muita dor, e que transformar ela em piada tira o peso de como é viver sendo “diferente” num mundo que não os aceita. Sem se vitimizar ela procura criar conexões, daquele tipo de que você só consegue se conectar com outra pessoa verdadeiramente se souber o que ela passou.

Mais pro final do texto ela diz que está com raiva, que guarda uma fúria dentro dela e que não quer mais ter que cuidar da história dela sozinha, que se sente no direito de estar puta da vida mas não no direito de espalhar esse ódio por ai, porque “o ódio assim como o riso pode unir uma sala de desconhecidos de um jeito único”.

Esse grito chamado Nanette é o estopim, essa raiva ou inconformismo (Chame como quiser) é o estopim de uma revolução, assim como de toda outra revolução na história. Hannah diz em um momento que rir não é o melhor remédio, o que cura são histórias, o riso é só um açúcar pra melhorar o gosto do remédio amargo.

E isso é um puta soco.

--

--

Welbe
O Grotto

Ninguém mais me aguentava falando das coisas que eu costumo falar, até que me mostraram o Medium pra eu falar sozinho.