Tom Yum Soup
A busca pelo simples
Nessa semântica percebo uma ligação muito estreita com o democrático. Simplicidade e democracia. Mas bem lembrado é que o simples nem sempre é o mais fácil. E quando o assunto é gastronomia, aí sim, acredite, é muito mais difícil.
Arroz e feijão, o par icônico da gastronomia Brasileira.
Qualquer panela, que se julgue digna em fazer parte de uma cozinha familiar ou profissional no Brasil, em algum momento fez um arroz ou um feijão.
Por outro lado, um bom arroz com feijão não se encontra em qualquer esquina. Arroz soltinho, no ponto e ajustado no sal, juntamente com o feijão novinho, deixado de molho na noite anterior, com caldo espesso na precisão e bem temperadinho… É raro e sabemos disso!
Utilizo dessa expertise em busca de pratos simples, mas bem feitos, pelo mundo a fora.
E o prato que nos inspira hoje é a Sopa Tom Yum.
Agora entramos no universo dos pratos que foram eleitos pela soberania popular como seus representantes. Estamos falando de mais de um bilhão de pessoas que apreciam este tipo de sopa quente e azeda. Laos, Camboja, Malásia, Indonésia, Brunei, Cingapura, sudeste da China para citar algumas regiões onde este prato é cotidianamente servido. E a trago diretamente da Tailândia. A palavra “yum” em tailandês faz referência para a combinação picante/azedo. Mas não é aquele azedo que conhecemos.
Falando um pouco sobre paladar, vale lembrar que, por aqui, estamos mais acostumados com uma significativa diferença entre o que é salgado e aquilo que é doce. Por outro lado, os povos de lá transitam por mais sensações, como o agridoce, o picante, o adstringente, o amargo, o fermentado, o sauer (azedo), o salgado, o doce e o queimado. Por estes motivos, a culinária asiática vem ganhando tanta notoriedade mundo a fora.
Durante as diversas fases das fortunas transitórias dos tempo, o mundo da gastronomia não ficou de fora. Houve uma época, não muito distante, entre o golpe militar de 64 até a posse do presidente Fernando Collor de Mello, em que vivíamos em uma escuridão absoluta no quesito gastronômico.
Não faço referência para os produtos importados de alta gama, mas aos primários. Como por exemplo as especiarias. Ingredientes de extrema necessidade para a elaboração dos pratos. Pimenta do reino, pimenta verde, anis estrelado, cardamomo, noz moscada e por aí vai. Acreditem, era proibida a importação. Juntamente com outros motivos, mas especialmente esse, o paladar brasileiro sofreu fortes restrições. Posso afirmar que cozinhas que atingiram um certo grau de aceitação pelo mundo fora, foram facilitadas pelo acesso aos mais diversos tipos de especiarias para a confecção de seus pratos.
Mesmo com a abertura do Brasil para o mercado internacional, proporcionando as importações, foram décadas perdidas. Por mais que a gastronomia local tenha a sua personalidade, os sabores são democráticos, e quando uma cultura, nação ou povo, tem o acesso digamos “secreto” a tal tempero, a concorrência é desleal. No caso Brasileiro foi uma espécie de “auto sabotagem”, pois quem limitou as importações foram os próprios governantes locais.
Exemplos históricos de globalização na gastronomia é o que não falta. O que seria da Itália sem os tomates ou sem o milho latino americano para a polenta e o molho ao ‘Sugo”, e da pizza então, sem o molho vermelho vivo?
Dos Belgas e dos Suíços, sem o cacau Mexicano?
De todo o sudeste asiático sem a pimenta vermelha?!!!
Tive a oportunidade de visitar mercados e bazares na busca por especiarias. Khan El Khalili no Cairo, Gran Bazzar em Istambul, por Nova Deli, Katmandu, Beijing, até o epicentro da produção em nosso planeta, em Cardamomo Hills, mais especificamente no vilarejo de Kumily, Kerala na Costa do Malabar, sul da Índia. Adentro das ruelas e desviando dos sacos de cravo da índia, gengibre seco, cominho, e tantas outras, sigo por esta fascinante estrada até aqui.
Felizmente o Brasil está tendo a oportunidade de proporcionar ao mundo a sua contribuição provinda das panelas, não somente de ferro e alumínio, mas também as de barro, consolidando a nossa origem indígena.
O navegador Cristóvão Colombo, reza a lenda, foi um dos grandes responsáveis pela confusão que as pimentas causaram cruzando os mares.
Na realidade tudo aquilo que chamamos de pimenta, só porque arde, não deveria ser assim. Deveriam ser chamadas de “chilli” ou na pronúncia local somente “tchilli”. Povos das culturas pré-colombianas, astecas, incas, maias e as indígenas brasileiras eram as detentoras desse “ardido” e delicioso conhecimento.
E as expressões de “Americas das Índias”, veio para confundir. Ainda hoje na ponta da língua do povo, não se sabe exatamente onde começa as Índias do Brasil e termina as terras da Índia.
A palavra “tom”, em tailandês, significa borbulhante, fervente, vaporizam-te. E Yum vimos que seria azedo/picante.
Tom Yum: a tradução mais próxima para o português seria algo como azedo borbulhante. Não gostei!
Sopa Picante acho que fica melhor.
Sobre o azedo que comentei anteriormente, imaginem pimenta, limão e folhas de coentro juntos no mesmo condimento. Pronto, está aí a nota gustativa da Tom Yum. Adicione, caldo de peixe ou frango, molho de ostras, cogumelos frescos, tomates frescos, pasta de tamarindo, lemongrass (erva-cidreira) e camarões (veja receita e passo-a-passo logo abaixo), sirva quente.
Caríssimo leitor, espero que esta singela receita possa lhe oferecer a oportunidade de viajar no imaginário. Que te transporte para terras distantes. Amadas ou odiadas, as pimentas e as suas mais fantásticas combinações, nos remetem para experiências intensas em nosso paladar.
Muito obrigado e bom apetite!
Fabian Da Costa.
Com vocês, a Sopa Tom Yum:
Ingredientes para duas pessoas:
- Meio litro de um bom caldo de frango (por favor jamais utilize caldo em cubos)
- 50 ml de caldo de peixe (se for o caso pode inclusive dispensar)
- Seis camarões descascados e limpos de tamanho médio para grandes
- Meia cebola
- Suco de um limão
- Um tomate cortado em quarto
- 50 gramas de gengibre fresco
- Alho al gusto
- Capim Limão al gusto
- Ao menos duas pimentas!
- 100 gramas de cogumelos a sua escolha
- Duas colheres de sopa de molho de ostras
- Y duas colheres de pasta de tamarindo , ou se preferir pode ser a pasta Nam Prik Pao (no vídeo)
- E umas duas folhas de um limoeiro caem muito bem!
Basicamente seria isso !
Com algumas variants aqui e ali, e com o famoso método de tentativa e erro, sou seguro que em pouco tempo você irá desenvolver a sua super receita de Tom Yum. Mais picante, menos picante, mais ácida, menos ácida e por aí vai.
Esta é a primeira da série de reportagens de Fabian da Costa, repórter especial do Guaxinim. Para ler a próxima, um perfil do intrépido repórter, clique aqui ;)