A sonolenta trama de Awake

Marcel Silva Gervásio
The Halo
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3 min readJun 16, 2021

Já faz um certo tempo que o selo de Original Netflix perdeu força dentro da plataforma. Se há uns anos isso era sinônimo de qualidade, hoje em dia, com a empresa mais preocupada em quantidade do que qualidade, isso mudou de forma drástica.

Agora passamos a ser sobrecarregados com estreias quase que diárias de qualidade duvidosa e boa parte das produções é soterrada e desaparece no limbo do catálogo.

Eu mesmo já fui um consumidor assíduo da plataforma e hoje prefiro garimpar pelos outros streamings primeiro antes de me aventurar pelo catálogo da Netflix.

Então quando eu assisti ao trailer de Awake, o fã de ficção científica que vive dentro de mim acabou ignorando como a empresa é ótima em vender produtos ruins como se fossem bons e eu até me animei com a premissa esperando um filme bem farofa como A Quinta Onda, porém a trama se revelou bem mais decepcionante e cheio de furos.

Com Mark Raso dirigindo o seu terceiro longa e dividindo os créditos do roteiro com Joseph Raso, Awake é um thriller de ficção científica protagonizado por Gina Rodriguez que vive Jill, uma ex-militar que precisa proteger seus filhos depois que todas as pessoas perdem a capacidade de dormir sem nenhum motivo aparente.

Mesmo com um bom início, o roteiro e a direção desse filme são um pouco decepcionantes. Os primeiros minutos te prendem e a cena do acidente é muito boa em plantar na audiência a sensação de que algo está errado. O problema começa a partir do momento em que os personagens são jogados de um lado para outro pela trama sem nenhuma construção de tensão ou sensação de perigo.

Elas até estão lá, mas o filme desperdiça as chances ao tornar os sintomas da privação de sono num artifício de roteiro muito barato, onde as fases acabam ficando todas emaranhadas e terminam sem nenhum apelo no filme.

Enquanto o trailer transmite uma espécie de progressão dos sintomas, no filme temos pessoas se comportando de forma irracional tanto nas primeiras doze horas do acontecimento, quanto seis dias depois. Enquanto com os personagens principais a privação evoluiu de forma mais lenta, bem mais interessante de acompanhar.

O que não significa que tanto o roteiro quanto a direção foram capazes de aproveitar os momentos mais dramáticos do filme. Perdido em que tipo de filme Awake seria, a direção desperdiça potenciais arcos dramáticos entre Jill e o filho, não sabe usar o momento meio road movie da trama, além de jogar um Shamier Anderson de forma avulsa na trama. O personagem não acrescenta nada na história e serve apenas como ferramenta de roteiro durante todo o filme.

Outro ponto importante no filme são as atuações, com falas muito fracas, eu me senti assistindo vários atores com nenhuma vontade de estar ali. Gina entrega uma atuação no automático, o que não chega a ser ruim, mas em certos momentos fica meio visível que ela estava meio de saco cheio daquilo ali.

A atuação de Ariana Greenblatt como Matilda é bem fraca e fica evidente que é resultado de uma direção de atores ruim sendo que ela até que está bem em Amor e Monstros.

Como uma resolução fraca, Awake entrega um roteiro preguiçoso e atuações ruins. Não chega a ofender a quem assiste deixando aquela sensação de perda de tempo quando os créditos sobem, só que entrega respostas nada satisfatórias para as próprias perguntas se tornando apenas mais um dos vários filmes genéricos e ruins da Netflix.

Nota: 1,5/5.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).