Elon Musk comprou o Twitter, mas o que eu tenho a ver com isso?

É hora de debandar para o Mastodon?

Marcel Silva Gervásio
The Halo
4 min readMay 2, 2022

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A semana passada começou com a notícia de que Elon Musk comprou o Twitter. O bilionário já vinha fazendo insinuações sobre o interesse da compra dentro da própria plataforma desde o início de abril, e o que parecia apenas mais um dos seus rompantes de tédio se tornou realidade causando uma série de reações e discussões pela internet.

O fato que foi comemorado pela bolsa e nas manchetes dos cadernos de economia não parece ter agradado muito os usuários da rede social e tem gerado discussões bem mistas. Logo na segunda feira, muitos usuários demonstraram sua preocupação em relação a compra subindo as hashtags “#rip twitter” e “#deletetwitter”.

Por outro lado, os perfis de extrema direita têm comemorado a compra acreditando que o novo dono irá garantir uma suposta “liberdade de expressão” que eles afirmam terem perdido.

Coincidência ou não, essa é uma das justificativas que o próprio bilionário deu para sustentar a compra. Em março, Elon Musk já havia ameaçado criar uma nova rede social por considera as recentes medidas de moderação de conteúdo tomadas pela plataforma excessivas .

Entre discussões sobre o futuro da plataforma e se valia a pena ou não sair do Twitter, eu me pergunto se essa dança das cadeiras entre bilionários entediados muda alguma coisa na minha vida.

Se a gente pensar por um instante, o Twitter não é a maior rede social em questão de usuários e sempre foi permissiva com discursos problemáticos. Por mais que minha vontade seja dizer que nada muda, acho que existem uns pontos que valem a pena considerar antes de afirmar que “nada acontece feijoada.”

O último defensor da liberdade de expressão.

Elon Musk se vende como um dos maiores defensores da liberdade de expressão desde que manifestou sua intenção de comprar o Twitter. Ao tentar se mostrar um guardião da liberdade do discurso, o empresário tweetou que espera que seus críticos permaneçam na rede após a compra.

Seria uma atitude louvável até, se não estivéssemos falando mesma pessoa costuma difamar seus críticos e perseguir sindicatos. Quem não se lembra do episódio das crianças presas numa caverna na Tailândia em 2019?

Um dos mergulhadores que auxiliaram no resgate das crianças se mostrou insatisfeito com o envolvimento do bilionários, chamando de “golpe de PR” a sua tentativa de usar um submarino no resgate. Elon não pareceu nada satisfeito com a crítica e chamou Vernon Unsworth de “pedo guy” ou pedófilo num bom português, sendo o obrigado a se explicar para justiça mais tarde.

Outro caso interesse é o tweet anti-sindicato que ele fez em 2019 e todo o esforço de Musk em impedir que um grupo de trabalhadores da Tesla na Califórnia se sindicalizassem.

Mesmo com esse histórico, O bilionário acredita que moderar a plataforma para que exista menos discurso de ódio e desinformação deve ser parada. Ainda que nenhuma das recentes medidas tenham diminuído essas práticas.

No entanto, seu desejo de tornar a plataforma mais permissiva tem seus desafios. A União Europeia pode banir o Twitter caso as medidas de moderação sejam afrouxadas, coisa que pode ser difícil para rede social que já enfrenta problemas de crescimento.

Essa discussão só existe no Twitter.

Alguém pode argumentar que o Twitter nem é tão grande assim para que a compra tenha se tornado tão alarmada assim. No Brasil, a plataforma conta com 17 milhões de usuários, enquanto o Facebook e o Whatsapp contam com mais de cem milhões de usuários cada uma.

Parafraseando o próprio Elon Musk, o Twitter é uma arena de discussão, sendo considerada uma das redes mais influentes atualmente. Mesmo as redes de Mark Zuckerberg sendo responsáveis pela disseminação de desinformação por ai, é a rede do passarinho azul que é a plataforma que políticos e celebridades usam como porta-voz.

Querendo ou não, o que acontece nessa rede social se torna assunto no Facebook e Instagram, seja um meme ou um tópico discutido da pior maneira possível para dois dias depois virar uma reportagem na televisão.

Correndo o risco de parecer um doido que usa chapéu de alumínio, eu acho que o plano do empresário vai muito além de uma leitura equivocada da compreensão de liberdade de expressão.

Elon quer começar a controlar um pouco mais a narrativa, não é como se isso já não estivesse sendo feito antes, isso sempre foi feito, as grandes redes de mídia hegemônica estão ai para provar.

Existem matérias e mais matérias sobre como o Facebook influenciou resultados de eleições tanto Brasil quanto nos EUA. As coisas vão um pouco além de políticos que pagam por post de desinformação.

O homem que já declarou que acha correto financiar golpes de estado para poder continuar comprando lítio, se tornou dono da rede social mais influente do mundo. o simples fato do Elon Musk ter anunciado sua vontade de fazer algo já é o suficiente para que seus fãs realizem esses atos. Nós estamos passando por isso nos últimos quatro anos.

Nosso presidente nunca precisou levantar a mão contra uma minoria, tudo o que ele precisava fazer era se mostrar indignado com tal assunto para que seus fãs se sentissem com permissão para realizar todo tipo de discurso e ato de ódio.

Não acho que a melhor coisa a se fazer é deixar o Twitter e não acho que isso seja o fim do mundo, mas não acredito que nada mude daqui para frente.

O dono de uma empresa que é acusada de promover atitudes racistas contra trabalhadores negros, além é de um passado controverso com o Apartheid pode agora se tornar o Chefão de uma história cyberpunk que ele que sempre quis ser.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).