Mank: Review.

Marcel Silva Gervásio
The Halo
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3 min readApr 9, 2021

Cidadão Kane é considerado uma das grandes obras do cinema, estrelado e dirigido por Orson Welles o filme é responsável por garantir o único Oscar que o ator ganharia em toda sua carreira. Mas para além disso, o filme é cercado por uma polêmica que levanta até hoje uma série de discussões sobre autoria no cinema. E Mank se apresenta como uma parte dessa discussão.

Idealizado por Jack Fincher, Mank gira em torno da criação de Cidadão Kane, mais especificamente em torno de Herman Mankiewicz um de seus roteiristas (e pela visão do filme o único) e explora não somente a dificuldade que o roteirista em decadência teve em criar o material, mas também sua relação com a figura central do filme de 1941.

Dirigido por David Fincher, o filme se baseia num artigo controverso que carrega suas próprias polêmicas sobre autoria. Além de ser uma espécie de homenagem ao pai, Mank é um daqueles indicados ao Oscar que giram em torno da própria indústria, mesmo não sendo bem uma homenagem e com uma visão bem cínica desse mundo, o filme pode não agradar o grande público ficando confinado apenas entre os círculos dos cinéfilos e amantes de história do cinema.

Um filme sobre um bêbado deitado em uma cama reclamando da própria vida não é exatamente minha primeira escolha numa quinta-feira a noite, mas como um projeto de cinéfilo eu preciso explorar os filmes além daqueles que me interessam juntei toda minha força de vontade e fiquei sentado por duas horas tentando me convencer que esse filme era bom.

O que não aconteceu, mesmo com a direção de Fincher, o filme é maçante e eu tive muita dificuldade de me interessar por qualquer coisa que estava acontecendo na tela. Primeiro porque historicamente o filme é impreciso, Welles nunca omitiu a participação de Mank no roteiro de Cidadão Kane. E o filme nem se aprofunda nessa questão, somente de forma apressada no final.

O filme explora mais o processo de criação do roteiro, mas como criar trama sobre escrita num meio visual é muito chato, o roteirista nunca está de fato escrevendo em tela, um momento ou outro ele está ditando para assistente e nunca além.

Existe uma pincelada nos problemas dele com o álcool, mas nunca de forma profunda o bastante para que tornem esses momentos interessantes. O roteiro deixa muito claro quem são os mocinhos e vilões dessa história e Herman Mankiewicz é o mocinho e para essa história acaba não sendo interessante se aprofundar tanto assim nessas falhas.

Mesmo não sendo um dos meus filmes favoritos do diretor, é inegável que ele trabalha muito bem nos flashbacks que se tornam as partes mais interessantes do filme. Fincher também tem seus problemas com Hollywood e aborda a indústria com uma visão cínica sobre a indústria do início ao fim do filme.

Eu não sou muito fã de filmes modernos em preto e branco e tirando os efeitos visuais feitos digitalmente para emular uma película antiga esse fator não me afastou do filme, o filme é muito bem iluminado e acabei não sentindo falta das cores nessa história.

Eu gostei bastante da abordagem política que o filme traz, trazendo uma subtrama de eleições e fake news para a história, mas eu fiquei com impressão que teria gostado mais se o filme fosse mais sobre isso do que as outras questões.

Todas as relações entre os personagens são muito frias e distantes, até mesmo a forma como Mank se comporta com sua mulher ou com Marion Davies, atriz com o roteirista tem uma espécie de paixão platônica. As atuações são meio conflituosas, enquanto alguns personagens são meio canastrões, falam de uma forma até meio teatral, outros tendem a ser mais comedidos, próximos do real, me deixando confuso sobre o tom do filme.

Um dos melhores momentos do filme é a cena do jantar em que Mank está bêbado e começa atacar Hearst na frente de todos na mesa. A cena carrega muita tensão sendo um dos únicos momentos em que eu me engajei no filme.

No geral, abordando Hollywood de uma forma fria, sem qualquer encantamento, Mank parece ficar no meio do caminho nunca indo além do maniqueísmo entre aqueles personagens. Mesmo gostando do diretor, esse não é um dos seus melhores trabalhos.

Nota: 2,5/5.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).