Nomadland: Review.

Marcel Silva Gervásio
The Halo
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3 min readApr 15, 2021

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Favorito ao Oscar de melhor filme, Nomadland tem levantado uma série de discussões sobre o nomadismo moderno. Dirigido, escrito e editado por Chloé Zhao, o filme é adaptado de um livro de mesmo nome e mistura documentário e ficção em sua trama.

Fern é uma mulher que perdeu não apenas o marido recentemente, mas também suas raízes. Depois de ser obrigada a deixar sua casa, ela tenta se adaptar à nova vida como nômade percorrendo as estradas americanas.

Mesmo não sendo o meu favorito nessa temporada de premiações, preciso admitir que a direção desse filme é surpreendente e Frances Mcdormand domina a tela com sua atuação tocante.Talvez por conta da realidade atual eu tive reações mistas com esse filme, principalmente com a forma que ele aborda as questões do subemprego. Nomadland ainda não tem data para chegar aos streamings, mas deve chegar aos cinemas brasileiros no dia 15 de abril.

Estando na direção de Eternos, o próximo grande lançamento da Marvel nos cinemas, Chloé surpreendeu o mundo com a estreia de Nomadland no Festival de Cinema de Veneza em setembro de 2020.

Através dos olhos de Fern, a diretora busca refletir a ideia do sonho americano para pessoas de meia idade desde o colapso financeiro de 2008, misturando histórias reais ao drama pessoal da personagem que tenta se adaptar à nova condição de vida, Chloé tem um material poderoso em mãos para explorar a face mais cruel do capitalismo, mas que em alguns momentos parece pegar mais leve do que deveria.

O filme começa com Fern trabalhando na Amazon, através de um dos programas para pessoas sem moradia da empresa. Isso me deixou impressionado logo de início, afinal a empresa carrega uma série de problemas trabalhistas que vão desde não remunerar as folgas de funcionários a ter horários excessivos de trabalho ao ponto deles serem obrigados a urinar em garrafas PET.

Então ver um filme com esse tema e com uma personagem dentro da empresa fez minhas expectativas em relação a narrativa crescerem um pouco. Mas Chloé parece ficar em cima do muro e nunca endurece suas críticas.

Enlutada e sem saída, o filme é competente ao mostrar a falsa liberdade da personagem, deixando claro que seu novo estilo de vida nasceu por conta da necessidade. O roteiro até acaba estragando durante uma visita que a Fern faz para irmã diante de uma necessidade, mas eu prefiro fingir que o diálogo não aconteceu.

É impressionante o trabalho que Chloé realiza com os não atores durante todo o filme, no começo até dá pra desconfiar que eles não eram atores, muito por conta do próprio ar documental que o filme traz, mas conforme a trama avança eles são tão bem dirigidos que eu quase cheguei a pensar que eles eram atores profissionais de verdade.

Usando Fern quase como entrevistadora dos personagens em questão é possível enxergar a mão de Chloé para extrair deles suas histórias, porém a parte mais documental do filme me decepcionou um pouco. A diretora acerta ao não fazer nenhum juízo de valor sobre o estilo de vida nômade e mostra como essa vida não tem nada de glamurosa como muitas pessoas tentam vender na internet.

Mas para mim ela acaba pecando em deixar toda a questão econômica na superfície transformando toda experiência em algo quase como uma jornada espiritual para aquelas pessoas.

A parte dramática do filme que envolve o processo de luto da personagem pode parecer um pouco frio, mas Fern é uma personagem fria e isso não me incomoda, acho que McDormand conduziu bem a forma como a personagem reagia ao mundo a sua volta em contraste com suas questões emocionais. É muito tocante o momento onde ela é acolhida por Dave e a família dele, mas escolhe partir mesmo assim.

Nomadland consegue misturar bem questões existenciais e crítica política, apesar da forma como a última parte não me agradar muito, o filme consegue envolver o espectador com as questões de uma personagem fechada, difícil de criar conexões, entregando um belo filme de arte, mas com uma crítica política fraca.

Nota: 3,5/5.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).