Os conflitos familiares de Minari.

Marcel Silva Gervásio
The Halo
Published in
3 min readApr 13, 2021

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Em Minari, uma família coreana precisa se adaptar à nova realidade depois de se mudar para uma fazenda no Arkansas. Concorrendo a seis prêmios no Oscar desse ano, a produção é escrita e dirigida por Lee Isaac Chung e distribuída pela A24, produtora famosa por filmes como Hereditário e Moonlight.

Com estreia esperada para o dia 22 de abril, Minari tem ganhado uma série de premiações desde sua primeira exibição no Festival Sundance, sendo um dos grandes cotados para levar a estatueta de melhor filme deste ano. Ainda que não ganhe nenhuma das estatuetas, o filme já fez história com as indicações de Steven Yeun que é o primeiro asiático-americano a ser indicado ao Oscar, assim como Yuh-Jung Youn que é a primeira sul-coreana a concorrer na categoria de melhor atriz coadjuvante.

Um Oscar mais diversificado é sempre motivo de comemoração, mas sempre bom lembrar que comemorar esse tipo de pioneirismo num prêmio que existe desde 1929 é algo no mínimo sintomático da sociedade que nos cerca.

Minari é um bom exemplo de filme feito para festivais de cinema, com uma trama mais naturalista, os dramas e reviravoltas postos em tela parecem se diluir na atmosfera bucólica construída pelo diretor, o que acaba demandando do espectador uma certa paciência para se inserir naquele universo.

Mas o que poderia ser um aspecto ruim acaba se tornando um dos maiores atrativos da trama. Inspirada pelas memórias da infância de Lee Isaac Chung, os conflitos dos personagens em Minari são humanos e reconhecíveis em qualquer família, tornando nossa identificação imediata.

A direção se aproveita muito bem de movimentos mais parados, quase invisíveis, o que tornou um bom difícil a tarefa de falar desse filme. O desenrolar da história se encaixa tão bem, de forma tão natural que por um momento parece que não tem muito o que dizer sobre a direção de Lee Isaac. E isso é uma qualidade, passei toda a minha experiência focado em acompanhar o dia a dia daquelas pessoas com toda parte técnica moldada para transmitir veracidade nas cenas. Ter uma direção que consegue manter o mesmo tom durante toda a trama é algo difícil.

Usando o contexto da imigração, Minari usa de uma certa delicadeza ao tratar dos dramas vividos pelos personagens. Enquanto Mônica tenta usar a religião para tentar se encaixar no novo lar, ela não percebe que muitas vezes torna os desafios da família ainda mais difíceis ao procurar formas de fazer o marido desistir da fazenda.

Jacob vive não só o seu conflito matrimonial, mas também um conflito interno lutando pela visão de futuro que vê para família, mas também tentando se mostrar forte e esperançoso para esposa, mesmo tendo suas próprias dúvidas sobre o caminho que escolheu.

Tudo isso é coroado pelas ótimas atuações de todo o elenco, Yuh-Jung Youn e Alan S. Kim tem ótimos momentos em tela, até mesmo cômicos com o pequeno conflito que o pequeno David tem com sua avó, por vezes enxergando nela o motivo das brigas dos pais e até mesmo por não encará-la como como uma avó de verdade.

Youn é responsável pelos momentos de maior carga dramática do filme e mostra que as indicações e premiações que recebeu até o momento são bem merecidas. Steven Yeun mesmo num personagem mais racional e contido soube dar as camadas necessárias para Jacob dando pequenas pistas de suas dúvidas em relação a fazenda durante o filme, não acho que ele ganhe o Oscar, mas sua indicação foi mais que merecida.

Com uma trama singela e personagens carismáticos, Minari captura o espectador com um drama familiar envolvente cheio de nuances, sem precisar usar de dispositivos dramáticos que geralmente são usados em filmes do gênero para garantir a atenção nas premiações.

Nota: 3,5/5.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).