The Prom: It’s (not) about Emma.

Marcel Silva Gervásio
The Halo
Published in
6 min readDec 15, 2020

Em The Prom, uma dupla de atores narcisistas se une aos seus colegas para limpar suas imagens ajudando Emma, uma adolescente lésbica que só quer ir ao baile com seu par, mas que acaba ganhando outros contornos quando uma associação de pais opta por cancelar o baile a permitir sua presença.

Em setembro Ryan Murphy deixou vários órfãos de Glee animados quando anunciou em suas redes que a adaptação do musical da Broadway escrito por Bob Martin chegaria na Netflix no dia 13 de dezembro, eu mesmo me deixei levar pela empolgação quando vi pelo trailer que o filme teria grandes nomes como Meryl Streep e Nicole Kidman.

Mas como nem tudo são flores, o musical tem dividido opiniões desde a sua estreia, muitos odeiam tudo e outros amam demais, a dinâmica natural e bem saudável de como as pessoas consomem as coisas hoje em dia na internet.

Como um gay que foi adolescente no auge de Glee e que não sabia nada sobre o musical antes de assistir o filme, eu acabei ficando no meio termo. Confesso que Ryan Murphy tem um lugarzinho cativo no meu coração, mesmo que ele não tenha feito muito para merecer isso.

The Prom é capaz de trazer aquele quentinho no coração que só musicais conseguem fazer, mesmo que nem sempre as músicas sejam todas incríveis e o filme se revele longo demais para alguns.

Como sempre a parte visual do filme não deixa a desejar, uma coisa que se pode dizer sobre Ryan Murphy é que não importa se você vai gostar ou não do assistido, mas dificilmente vai poder dizer que viu uma coisa feia esteticamente na tela.

Já as atuações entregam, os atores parecem se divertir bastante com os personagens, principalmente Meryl Streep que rouba a cena e faz o filme ser sobre ela, o que se revela ser um problema.

É muito legal ver a Nicole Kidman fazendo algo que não seja uma mulher rica sofrendo problemas de mulheres brancas ricas (longe de mim falar um a negativo sobre qualquer um dos grandes nomes envolvidos).

Quem assistiu Glee já está acostumado com o exagero das performances e com as piadas meio ácidas, coisas que poderiam facilmente se tornarem cafonas e ofensivas respectivamente, mas que aqui ele consegue trabalhar bem e de forma que prenda o público. Só que como eu, você pode terminar o filme com a impressão de que algo está faltando.

It’s not about Me.

O número musical de Dee Dee Allen para todos naquela reunião além de ter uma das melhores e mais engraçadas letras do filme é um aviso para nós espectadores que esperam acompanhar o desenrolar da história da adolescente, não é sobre ela e sim sobre a transformação da atriz veterana.

Isso me fez lembrar de High Note que estreou esse ano e conta com Tracee Ellis Ross de Black-ish, ambos filmes parecem ter um problema em definir em qual história focar e acaba focando na história que a gente não quer assistir.

High Note acaba focando no enredo da Dakota Johnson, que vive uma produtora a procura da chance de dar um salto na carreira, enquanto a história mais legal seria acompanhar a crise na carreira de Tracee que é uma cantora negra na casa dos quarenta que tenta se esquivar da gravadora tentando aposentá-la, já em The Prom todo mundo vai assistir o filme esperando acompanhar a história de Emma(Jo Ellen Pellman).

E com duas horas de duração seria mais possível ao menos mostrar um pouco mais da personagem além do foi para as telas. O problema pode ser o roteirista que é o mesmo do musical e que provavelmente não mexeu muito no material original.

Emma foi abandonada pelos pais ao abrir sua sexualidade para eles e não vemos nenhuma consequência disso na vida da personagem e pior, só descobrimos essa informação através de diálogos expositivos, coisas que esse filme tem aos montes.

A personagem acaba sendo esmagada entre as cenas musicais de Meryl e cia, dificultando o desenvolvimento de empatia pela personagem mais nova. Eu pessoalmente acho a Emma um porre, e sinto que isso não é culpa da personagem em si e sim da parte técnica que resolveu só mostrar para gente todas as vezes que ela se encontrou com Alyssa(Ariana DeBose) só para pressionar a namorada a sair do armário, o que é muito irritante.

Alyssa Greene

Como eu já disse, acabei sentindo falta de mais tempo de tela para o casal adolescente e quando elas aparecem em tela, acaba não sendo tão legal como deveria.

O filme toca num ponto delicado para qualquer LGBT que é estar fora do armário e se relacionar com uma pessoa que ainda não é assumida, não é fácil e pode ser difícil para ambos os lados, mas uma coisa é certa: ninguém tem o direito de te pressionar para sair do armário, nem mesmo sua namorada.

E é isso que Emma faz o filme inteiro, talvez por terem poucas cenas juntas, na maioria que Emma e Alyssa se encontram, a personagem de Ellen dá um jeito de frisar o quão mágico vai ser quando a namorada se assumir ou como ela deveria se assumir para apoiá-la ou como ela já deveria ter contado para mãe, etc.

A própria Alyssa passa o filme inteiro como quem está prestes a explodir, de um lado tem sua mãe, interpretada Kelly Washington, a pressionando a ser perfeita (coisa que não vemos, só ouvimos em uma canção) e do outro Emma que a pressiona para sair do armário.

O que atrapalha muito o momento em que a personagem conta pra mãe, o que deveria ser um grande momento gera dúvida se ela fez aquilo porque queria ou se não aguentava mais ser pressionada pela namorada.

It’s Time to Dance.

Não quero ser o chato que assiste um musical e reclama que tem músicas demais, esse não é o ponto, os números musicais são todos incríveis, bem exagerados, coloridos e sempre com muitos dançarinos como uma boa farofa musical deve ser. Em vários momentos você vai sentir a vontade de cantar e dançar com os personagens (não que eu tenha feito algo parecido).

Mas é inegável perceber que Ryan Murphy preferiu sacrificar a história para dar um momento de brilhar para cada um dos grandes nomes do filme, a focar apenas em Dee Dee e Emma, o que o forçaria a talvez chamar nomes nem tão famosos assim para interpretar Barry, Angie e Trent que consequentemente teriam menos tempo em tela.

As músicas podem não te pegar de primeira, mas se você der a chance vai acabar se viciando em alguma. Tirando It’s time to Dance que não para de tocar na minha playlist confesso que as outras não me pegaram muito. Pode ser que eu precise assistir mais algumas vezes para me apaixonar por elas, mas a verdade é que assistir uma segunda vez já foi difícil porque o filme acabou se revelando mais longo do que deveria para mim.

Em meio a muito glitter e cores vibrantes, The Prom desaponta ao entregar um filme que tem medo de abrir mão de nomes famosos e da peça original, deixando a história inchada e cansativa.

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Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).