Um poser analisando A Liga da Justiça de Zack Snyder (Snyder Cut).

Marcel Silva Gervásio
The Halo
Published in
6 min readMar 25, 2021

--

A Liga da Justiça dirigido por Joss Whedon chegou aos cinemas em 2017 causando uma onda de críticas tanto pela mídia especializada quanto pelos fãs da DC. O filme passou por diversos problemas de produção e pós produção e acabou se tornando apenas mais um de muitos filmes genéricos do gênero, uma tentativa desastrosa de emular a essência dos filmes da Marvel.

Pouco tempo depois surgiram boatos sobre um suposto corte feito pelo diretor Zack Snyder deixando o fandom eufórico com a possibilidade da existência de tal versão. O fato é que a Warner confirmou a existência do filme em 2020 atiçando as redes e ele estreou mundialmente no dia 18/03 através de aluguel digital.

Antes mesmo da estreia do filme esse foi um assunto recorrente nas minhas redes sociais e eu acabei ficando curioso para descobrir o motivo de tanta gente estar animada com a nova versão de um filme desastroso de 2017 pelas mãos do Zack Snyder, um diretor que causa reações mistas tanto no público quanto na crítica.

Eu confesso que não sou muito ligado nesse universo, acompanho poucas coisas do Universo Marvel e quase nada da DC. Tanto que os filmes da Mulher Maravilha o famigerado Liga da Justiça haviam sido minhas únicas experiências com esses heróis e mesmo com todo hype em cima da produção, minha vontade de assistir ao filme era bem perto de zero, principalmente depois da notícia que o filme teria quatro horas.

A curiosidade bateu mais forte e eu acabei alugando o filme sabendo que no mínimo teria muito material para reclamar no Twitter e zoar bastante meus amigos fãs da franquia e para minha surpresa eu até curti o que eu vi em tela.

Overdose de Zack Snyder.

Sim, quatro horas! Esse foi um dos principais motivos que quase me fizeram desistir de assistir a esse filme. Tudo bem que vivemos na era dos streamings e das maratonas, mas quatro horas num filme do gênero acaba afastando o público fora da bolha de fãs ou quem não é “cinéfilo”. E na minha opinião se o filme tivesse duas horas e meia ou no máximo umas três horas ele seria um material muito melhor.

E Snyder parece ter ciência disso ao dividir o filme em capítulos facilitando para as pessoas que tem uma vida e não podem ficar à mercê de um monstro visual deste tamanho. Infelizmente eu tenho o mal hábito da maratona e acabei encarando o filme inteiro nas duas vezes que assisti (sim, eu me odeio a esse ponto) o que tornou a experiência mais cansativa para mim.

Reclamar de paleta de cores quase sem nenhuma saturação ou excesso de slow motion seria uma ingenuidade da minha parte, já que qualquer pessoa que conheça o mínimo do diretor saiba exatamente o que esperar dele. Pesquisando um pouco descobri e até mesmo assistindo ao filme fica nítido que ele é fã desse universo e estava muito entusiasmado em criar essa versão mais “autoral” do projeto principalmente depois dos problemas familiares que Snyder sofreu em 2017. Mas isso não torna o Snyder Cut a prova de críticas.

O filme sofre pelo excesso e existem vários momentos no decorrer do filme que o diretor parece perder o timing do fim das cenas, às vezes na tentativa de criar um sentido épico — tipo literalmente todas as cenas envolvendo as Amazonas — ou na tentativa de trazer um drama para tela, mas tudo o que consegue fazer é deixar o espectador cansado.

A primeira parte do filme se alonga demais para mim, o filme repete umas duas vezes a apresentação de cada um dos heróis, enquanto temos uma Lois Lane flutuando entre as cenas deslocada daquele universo entre uma cena e outra.

As escolhas técnicas como o formato da tela ou até as mudanças na computação gráfica não chamaram tanto a minha atenção. O CGI da versão de 2017 me incomodou da mesma maneira que me incomodou no filme novo. O que torna irrelevante apontar os erros.

Mas a trilha sonora se revelou um pequeno pesadelo sempre que a Mulher Maravilha entrava em cena com toda aquela gritaria numa tentativa de dar um tom mais épico para história, até funcionou, mas faltou alguém para segurar a mão do Tom Holkenborg e dosar as coisas.

E isso se repete por vários setores do filme. Fica mais evidente no final onde o diretor parece indeciso em como terminar a história e joga na tela três fins diferentes, é quase como um Você Decide onde o final é escolhido pelo tamanho da sua paciência em continuar acompanhando aquilo.

Uma história de Deuses.

Se você conseguir ignorar tudo isso, a experiência se tornará até bem divertida. Em relação ao primeiro filme, o Snyder Cut é uma versão muito mais contextualizada que a primeira. Chega até ser injusto comparar as duas produções por conta do tamanho de cada uma, mas não dá para negar que eu me envolvi mais com esse filme que o primeiro, até porque o filme tem mais tempo para se desenvolver, mesmo recheado de diálogos expositivos e cenas repetitivas.

Toda a aproximação com o tom das produções da Marvel foi cortada desse filme. Eu até gosto mais desses filmes do gênero com essa pegada mais próxima de filmes como Guardiões da Galáxia ou Thor Ragnarok, mas fez mais sentido manter a aura sóbria mais comum nos filmes da DC, nesse universo esses personagens são todos muito divinos e tirando o Flash, essa veia mais leve não combina com eles.

Essa versão se destaca mais que a primeira por ter conseguido contextualizar melhor os acontecimentos e as motivações dos personagens. É aquela velha história, um filme é uma obra fechada e deve se fazer entender por si só e o primeiro filme falha nisso. Mesmo não vendo os filmes anteriores, consegui compreender o motivo da morte do Superman e como ela afetou aquele universo.

Além de ter ficado mais claro as motivações do Lobo da Estepe, mesmo que a caracterização nova do personagem não me agrade tanto. Ele não passa de um boneco de CGI nos dois filmes, mas na minha opinião no primeiro filme quase dá para perceber que existe alguém atuando ali, o design do personagem nesse segundo filme consegue ser pior que o primeiro.

O Batman é o único que me incomodou um pouco em relação a isso, na primeira versão fica mais claro como ele é apenas um humano no meio de todos esses seres divinos, coisa que nesse filme Snyder resolveu deixar de fora.

O grande destaque do filme acaba sendo a trama do Ciborgue, muita gente reclamou na época, até mesmo Ray Fisher disse que o filme não tinha sido muito justo com o personagem e vendo essa versão você percebe que ele tem muito mais peso na história.

Eu não gosto muito da trama do personagem dentro do filme, acho a forma como o personagem age meio adolescente gótico demais, além de vários momentos do filme a armadura dele parece pular do rosto dele, mas no geral ele acaba sendo o personagem melhor desenvolvido na trama.

Caçador de Marte, Coringa e Luthor.

Uma coisa que me irritou foi o epílogo do filme. Eu já tinha achado estranho a introdução do Caçador de Marte na histórica acontecer com ele fingindo ser a Marta, achei a escolha do momento errada. A conversa entre a Marta e a Lois perdeu peso quando descobri não se tratar da mãe do Clark ali.

Então quando ele reaparece no final, deixando claro que ele não precisava aparecer naquele momento, já que ele não tem peso nenhum para história do filme, ficou claro para mim que era apenas mais uma das várias cenas descartáveis que o diretor ficou com medo de descartar.

O epílogo todo para mim não tem muita razão de existir, o Snyder Cut é um projeto de despedida do diretor do universo da DC e ganchos para uma continuidade eram a última coisa que o filme precisava.

Snyder Cut é um filme de fã para fãs, cheio de excessos, tanto em questão de cenas tanto no que conhecemos como o estilo de direção do Snyder, fica nítido que é uma tentativa de o diretor sinalizar o desejo de continuar contando histórias desse universo sendo sem dúvida um filme melhor que o de 2017.

Zack Snyder se empolga demais com o próprio projeto e é incapaz de finalizar instantes e até mesmo perceber os excessos na própria obra, entregando um filme desnecessariamente grande. Detalhes que não tornam a história numa experiência ruim, mas definitivamentenão é um filme que eu deseje reassistir um dia.

Nota 03/10.

Que bom que você chegou até aqui, O Halo é um projeto multiplataformas onde me expresso, mas também crio discussões sobre as produções que eu consumo. Me siga no Twitter e no Instagram, se você gostou do texto não se esqueça de comentar e dar alguns claps para eu conseguir medir como anda minha escrita.

--

--

Marcel Silva Gervásio
The Halo

A Brazilian guy trying to be a good writer (Escritor em formação).