Julio Andrade ressignifica a própria obra em disco solo

O Inimigo
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3 min readNov 16, 2020

Vocalista e guitarrista da The Baggios lança Ikê Maré influenciado pelo soul e pela psicodelia

Foto: Victor Balde

Por Hugo Morais

No longínquo ano de 2009 Natal recebeu, assim como outras capitais nordestinas, a tour da Invasão Sergipana, ação coletiva que apresentava a nova música produzida no menor estado do Brasil. Em um sábado a tarde, tocaram no DoSol as bandas Elisa, Daysleepers e The Baggios. O público, apesar do preço módico, não apareceu. Isso não foi empecilho para que as três bandas fizessem excelentes apresentações, no chão, para poucas pessoas que puderam conferir de perto o processo da montagem e execução do show.

O destaque foi o duo The Baggios, que ali destilava um som referencial ao blues, com boas doses de rock. A dupla parecia ser mais, parecia ser três ou quatro pessoas, fruto do saber usar os recursos. Na bagagem, tinham para mostrar o EP Hard Times (que traz na capa Baggio, músico andarilho de São Cristovão e que influenciou a banda).

Onze anos depois, a The Baggios deixou de ser duo (Júlio Andrade e Gabriel Perninha) e virou trio (com a entrada de Rafael Ramos), foi indicada ao Grammy Latino, gravou vários discos, fez inúmeras tours e se faz presente no imaginário de bandas contemporâneas do rock/música nordestina como a Cidadão Instigado, Baiana System, Nação Zumbi e tantas outras.

Passar por tanto crescimento e mudanças e ainda manter o padrão de qualidade não é para qualquer um. Tudo isso resulta no primeiro trabalho solo de Júlio, que assina como Julico (como é conhecido). Ikê Maré ao longo de suas 13 músicas passeia não só pelo que é a The Baggios, e já é muita coisa já que a banda anda pelo rock, blues e psicodelia. Mas as influências não param e Júlio foi buscar em gente como Tim Maia e Jorge Ben, ou Curtis Mayfield (ouça “Eu são/Curtis says”), “novos” referenciais para tornar sua obra mais abrangente.

A abrangência pode ser vista de forma ímpar no hard-soul-baião “Pelejamor”. O amor inclusive permeia todo o álbum (ouça “Rosimari”), seja pelo outro, seja por nós e entre nós, seja pela vida. Temos visto muitos discos que inspiram e transpiram essa necessidade atualmente, a de mostrar ao outro o amor que sentimos - como se antes não fosse necessário. Mas a verdade é que, pasmem, o amor virou uma arma.

O disco foi gravado em parte em uma casa à beira de um rio, casa do engenheiro de som e amigo Dudu Prudente, que levou Julico de volta a infância e adolescência vivida em São Cristovão, cidade histórica sergipana, tomando banho de rio e comendo fruta direto do pé.

Toda essa vivência está presente no disco, no seu lado bucólico, como em “Paramopama/Vaza-Barris” com uma pegada soul/psicodélica. As andanças/observações do mundo afora também refletem em músicas como “Nuvens Negras”, que mostra a relação entre os seres humanos e com a natureza.

A estreia solo de Julico rendeu um belo disco que com certeza estará entre os melhores do ano.

A seguir, Ouça Ikê Maré no YouTube:

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