Letrux aos prantos: uma ressaca que não foi, está sendo
Passada a esbórnia, durma, se alimente, beba bastante líquido e não mande mensagem pra ex
Por Hugo Morais
Poderia ser uma ressaca maior, mas não foi, está sendo. Letrux aos Prantos tem sim um caráter de ressaca pós esbórnia, mas uma ressaca após o fim de relacionamento e as tantas análises, desculpas, choros, arrependimentos e voltas (não façam isso).
Por mais que a primeira parte do disco — entre “Déjà-vu Frenesi” e “Cuidado, Paixão” seja de lamentação/análise do que passou, com “Sente o Drama” há uma virada. Risadas são ouvidas em “Fora da Foda”, com participação de Lovefoxxx, eterna vocalista da Cansei de Ser Sexy. Mas risadas de nervoso, ou seja, a coisa não está boa.
“Contanto Até Que” lembrou histórias que ouço sempre. Uma pessoa decidida, dona de si, que se doa, bota as cartas na mesa e a outra que dizia querer algo do tipo se mostra é uma tremenda covarde. Mole, como dizemos por aqui. Finda que a dona de si, a decidida, termina se achando errada. Cai como uma luva com o bando de esquerdomacho espalhado por aí. “Vai Brotar” parece até a parte dois da música anterior caso o relacionamento tivesse sequência.
“Sente o Drama”, com participação de Liniker, como escrito anteriormente dá uma virada com uma pitada de humor ao blues pop que dá uma dica sobre como proceder em momentos difíceis: deitar e dormir. O disco que antes pendia pra fossa musical ganha ares mais animados. Mas não se engane, a fossa é funda. “El Dia Que No Me Quieras” segue o baile das lembranças e análises de situações passadas com pegada mais dançante. Arrependimentos. “Abalos Sísmicos” segue o baile. Juramentos, culpa, mais arrependimentos.
“Salve Poseidon” parece, de novo, dar aquela animada. “Opa, vou dar uma espairecida”. Letrux, nem toda coincidência é boa. Tem umas péssimas, pode crer. Espero que você foque nas boas. Ou tente. (risos) E por fim “Cry Something Awkward” passa a régua perguntando se duas pessoas que estiveram dentro da outra e hoje estão de boas só na amizade é ok? Claro que é, errado é magoar o outro. Dar uma hoje e amanhã trocar uma ideia como se nada tivesse acontecido é uma coisa normal e corriqueira na real, dar uma e manter a educação/amizade. Mas o que mais se tem por aí é exatamente tratar com frieza (inseram seus nomes — o meu também) quem esteve ontem na fuleiragem com você (a gente).
E o som do disco? Ah, o som ficou a cargo de Arthur Braganti (teclados) e Natália Carrera (guitarra), responsáveis pelo Em Noite de Climão. Ou seja, uma sequência. Então o que se vê é uma depuração do disco anterior, mas com uma pegada mais introspectiva. Dado que o clima do álbum novo não é de festa. Além deles Lourenço Vasconcellos (bateria), Martha V (teclados) e Thiago Rebello (baixo) seguem dando o toque oitentista e ao entrar em algumas sonoridades a imagem de Marina Lima surge cristalina e fica sempre a vontade de apertar o play de novo em Fullgás.