Letrux aos prantos: uma ressaca que não foi, está sendo

O Inimigo
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3 min readMar 19, 2020

Passada a esbórnia, durma, se alimente, beba bastante líquido e não mande mensagem pra ex

Foto: Mariana Falcão

Por Hugo Morais

Poderia ser uma ressaca maior, mas não foi, está sendo. Letrux aos Prantos tem sim um caráter de ressaca pós esbórnia, mas uma ressaca após o fim de relacionamento e as tantas análises, desculpas, choros, arrependimentos e voltas (não façam isso).

Por mais que a primeira parte do disco — entre “Déjà-vu Frenesi” e “Cuidado, Paixão” seja de lamentação/análise do que passou, com “Sente o Drama” há uma virada. Risadas são ouvidas em “Fora da Foda”, com participação de Lovefoxxx, eterna vocalista da Cansei de Ser Sexy. Mas risadas de nervoso, ou seja, a coisa não está boa.

“Contanto Até Que” lembrou histórias que ouço sempre. Uma pessoa decidida, dona de si, que se doa, bota as cartas na mesa e a outra que dizia querer algo do tipo se mostra é uma tremenda covarde. Mole, como dizemos por aqui. Finda que a dona de si, a decidida, termina se achando errada. Cai como uma luva com o bando de esquerdomacho espalhado por aí. “Vai Brotar” parece até a parte dois da música anterior caso o relacionamento tivesse sequência.

“Sente o Drama”, com participação de Liniker, como escrito anteriormente dá uma virada com uma pitada de humor ao blues pop que dá uma dica sobre como proceder em momentos difíceis: deitar e dormir. O disco que antes pendia pra fossa musical ganha ares mais animados. Mas não se engane, a fossa é funda. “El Dia Que No Me Quieras” segue o baile das lembranças e análises de situações passadas com pegada mais dançante. Arrependimentos. “Abalos Sísmicos” segue o baile. Juramentos, culpa, mais arrependimentos.

“Salve Poseidon” parece, de novo, dar aquela animada. “Opa, vou dar uma espairecida”. Letrux, nem toda coincidência é boa. Tem umas péssimas, pode crer. Espero que você foque nas boas. Ou tente. (risos) E por fim “Cry Something Awkward” passa a régua perguntando se duas pessoas que estiveram dentro da outra e hoje estão de boas só na amizade é ok? Claro que é, errado é magoar o outro. Dar uma hoje e amanhã trocar uma ideia como se nada tivesse acontecido é uma coisa normal e corriqueira na real, dar uma e manter a educação/amizade. Mas o que mais se tem por aí é exatamente tratar com frieza (inseram seus nomes — o meu também) quem esteve ontem na fuleiragem com você (a gente).

E o som do disco? Ah, o som ficou a cargo de Arthur Braganti (teclados) e Natália Carrera (guitarra), responsáveis pelo Em Noite de Climão. Ou seja, uma sequência. Então o que se vê é uma depuração do disco anterior, mas com uma pegada mais introspectiva. Dado que o clima do álbum novo não é de festa. Além deles Lourenço Vasconcellos (bateria), Martha V (teclados) e Thiago Rebello (baixo) seguem dando o toque oitentista e ao entrar em algumas sonoridades a imagem de Marina Lima surge cristalina e fica sempre a vontade de apertar o play de novo em Fullgás.

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