A festa e a guerra

Jose Mello
O inovador brasileiro
3 min readFeb 14, 2016

Hoje falo de mais um capítulo da nossa história indígena. É impossível pensar em quem somos e para onde vamos, sem entender todos os elementos que formaram a nossa cultura.

Entre as diversas tribos Tupi-Guaranis que ocupavam o litoral brasileiro, os Tupinambás eram os mais numerosos. Os Tupinambás eram festeiros e hábeis guerreiros. Pintávam-se para a festa e para a guerra. Viviam uma vida simples, pois precisavam de pouco para viver bem e aproveitavam a vida. Trabalhavam o suficiente para garantir o sustento da aldeia e se reuniam para os rituais religiosos e para celebrar a vida. Bebiam cauim, uma bebida alcoólica feita à partir da fermentação da mandioca e do milho.

A guerra entre tribos rivais era uma prática comum, quase uma diversão para eles, pois eles lutavam sem um propósito claro de dominação ou conquista de seu oponente. Eles lutavam para vingar os que pereceram nas mãos do inimigo mesmo que isso tivesse acontecido em gerações passadas e para mostrar sua virilidade e superioridade aos demais, quase um ato de exibição. Para os Tupinambás existia uma ética na guerra, antes de enfrentar seus oponentes eles se pintavam e se preparavam cuidadosamente para a batalha, pois a luta para eles era uma questão de honra e respeito aos seus inimigos. Antes do enfrentamento, as tribos rivais ficavam frente a frente e durante horas a fio gritavam palavras de ordem e xingamentos contra seus inimigos e seus antepassados exaltando e anunciando a franca e sangrenta batalha que se seguiria. Os vencidos, suas mulheres e seus filhos eram acolhidos pela tribo vencedora e passava a fazer parte dessa nova tribo.

Quando um prisioneiro era capturado, ele era levado para o centro da tribo, onde a ele eram concedidas todas as maiores honrarias que a tribo pudesse lhe oferecer: um grande banquete, cauim e uma índia que seria designada para seus serviços, até mesmo os sexuais. A festa durava toda a noite e na manhã seguinte antes mesmo do dia raiar os índios começavam a preparar o ritual de sacrifício do prisioneiro. Um índio era escolhido para ter a honra de matar o prisioneiro. Antes de golpear o prisioneiro com a borduna (uma espécie de tacape), ele pedia que o prisioneiro pensasse em todas as coisas que ele prezava na vida e declamava que estava realizando aquele ato em nome de todos os seus antepassados mortos pelo inimigo. Logo depois de realizar sua missão, ele se recolhia isolado do restante da tribo pelo restante do dia para digerir o ato da morte. Ele seria o único que não se alimentaria da carne do inimigo. O corpo do prisioneiro era cortado em partes, pelos membros, assado em brasa e distribuído pela tribo, onde cada um levava seu pedaço. Das vísceras era feito um caldo que alimentaria as mulheres para que gerassem filhos saudáveis e as crianças para que crescessem fortes. Os índios acreditavam que quando se alimentavam do corpo do inimigo, eles adquiriam sua inteligência e habilidade.

Claro que hoje em dia não comemos nossos inimigos nem guerreamos mais contra tribos rivais, mas existem alguns traços culturais dessa época que permanecem em nossa cultura até hoje como o gosto pela festa e o gosto por uma boa discussão. O brasileiro médio não abre mão de participar de uma boa discussão, mesmo que o assunto não lhe diga respeito. Você conhece alguém assim? Adora celebrar a vida em qualquer oportunidade, mesmo que pareça pequena e dedica-se ao trabalho o suficiente para garantir o seu sustento e da sua família. Alguns povos atribuiriam esse comportamento à falta de ambição na vida, mas eu acredito que com os índios aprendemos o benefício do equilíbrio na vida e o que significa a expressão "carpe diem".

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Jose Mello
O inovador brasileiro

Corporate innovator & Educator. Working in the crossroads of Technology, User Insights and Business Strategies to help companies thrive in the digital age.