O futuro que sonhamos
A festa do Divino Espírito Santo foi criada por Infante Dom Henrique príncipe de Portugal em meados do Século XVI com a visão utópica de que seria possível criarmos na terra o paraíso que tanto almejávamos no céu. Segundo a crença de Dom Henrique, primeiro, teria havido um tempo do Pai, o Deus narrado no Antigo Testamento. Depois, um tempo do meio, tempo do Filho, de que fala o Novo Testamento. Então, teria chegado o tempo do Espírito Santo. O tempo de se construir o paraíso na terra. Um tempo de beleza, de solidariedade e de liberdade cuja construção caberia aos homens. A festa se dá em três atos:
1.) primeiro escolhe-se um menino que é levado à igreja e coroado imperador do mundo simbolizando a crença de que o mundo seria governado com a inocência das crianças;
2.) segundo um grande banquete gratuito é oferecido a todos da comunidade simbolizando a visão de um mundo sem miséria e com igualdade social;
3.) E por último, o menino imperador vai com sua comitiva à prisão do lugar libertando todos os presos, simbolizando um tempo de liberdade, justiça e compreensão.
Por conta da pressão realizada pela igreja, a festa do Divino Espírito Santo foi perdendo forças em Portugal ainda em meados do século XVI, talvez pelo caráter libertário da festa, mas sobreviveu em algumas colônias Portuguesas como no Brasil onde é realizada até hoje. O filósofo e poeta Português Agostinho da Silva, estudioso do tema, tem sua tese filosófica baseada na utopia da Festa do Divino. Segundo ele a festa representa o culto à uma visão futurista, não aquele futuro regido pelo poder econômico e pelos avanços tecnológicos, mas um futuro do resgate da essência do ser humano capaz de perdoar e de conviver em paz com igualdade social, liberdade e justiça para todos.
Sem dúvidas, construir uma visão a respeito do futuro é essencial para a inovação. Qual será a visão de futuro do povo brasileiro? Será que compartilhamos da mesma visão de futuro que Dom Henrique?
