Nonada

Tomaz Maldonado
Mendes
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2 min readFeb 18, 2022

“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.” (GSV, 2019, p.24)

Não sei se você sabia, mas, há 3 anos, foi eleito por unanimidade desse único leitor, o Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, como o maior livro de literatura de todos os tempos. E, por “sem motivo” (como diria Riobaldo), nunca foi publicado por esse (e)leitor, um texto em homenagem à obra.

Guimarães escreveu o mundo a partir dos olhos de Riobaldo. Ele foi capaz de colocar todos os questionamentos da humanidade em uma estória. Ele mostrou que no coração do mais simples ser humano, um jagunço sertanejo, está o universo inteiro de conflitos, dúvidas, grandezas e falhas. Foi capaz de elevar o homem ao seu lugar principal: divinamente natural.

Guimarães usou a língua portuguesa como arma. Quando, por alguns séculos, os autores retiraram a metafísica de suas obras, tentando discutir a realidade, Rosa mostrou que a realidade é nada mais do que pura metafísica. A vida é reflexão. É uma contagem infinita de experiências singulares, de encontros marcantes, de veredas vivas, que formam um sertão inteiro no coração de cada um. A vida ganha chuva na terra mais seca e cor no lugar mais pálido.

Pode parecer uma grande filosofada ou poesia, mas nada mais é do que realidade, que é paradoxo. A nossa passagem por essa terra é uma sequência de escolhas entre o bem e o mal, onde o bem às vezes pode ser mal, e vice versa. A vida é e não é ao mesmo tempo. Ela existe, tão certo como a matemática e tão incerto como os sentimentos. Ela é grande e curta. Ela tem a preciosidade de 1 segundo em uma corrida de 100 metros rasos e a cadência de uma maratona. Ela é esforço e descanso. O homem só não é Deus, mas Deus é o homem.

Grande Sertão: Veredas não é um livro pra ser lido. Ele deve ser refletido, digerido e vivido. Ele não é só o melhor livro que alguém poderia escrever na vida, mas a melhor vida que alguém poderia descrever em um livro. Riobaldo é meu amigo, meu irmão, minha inspiração. Riobaldo sou eu. E eu estou longe de ser Guimarães.

“O real não está nem na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”

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