Prosa e Poesia

Tomaz Maldonado
Mendes
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3 min readMar 25, 2022

Esse é um texto em homenagem a um dos 5 maiores jogadores da história do país mais vencedor do futebol: Neymar Jr. E é com essa opinião incontestável (conceito interessante) que eu já começo a irritar meus grandes amigos anti-ney. Eu vou explicar, mas, pra isso, tenho que expor minha teoria — que ninguém liga — sobre o que é o futebol.

A princípio, óbvio, futebol é um esporte, um jogo, em que o objetivo é colocar mais vezes a bola dentro do gol adversário, em 90 minutos, usando os pés. Ele nasceu na Inglaterra — país que desaprendeu a jogar logo em seguida — e rapidamente atingiu o mundo inteiro. Mais especialmente a América do Sul e Europa.

No Brasil, o esporte ganhou outro significado. Por causa de Edson, o maior e melhor de todos os tempos (o qual merece um texto exclusivo, mais perto da Copa), o Brasil virou sinônimo de futebol. O primeiro tricampeão da Copa, primeiro tetra, único penta. Mas o que mais interessa, e aí que entra o Neymar, é a característica do futebol brasileiro, que se mistura com as características do Brasil.

Muitas frases ficaram famosas para descrever o futebol. “É mais que um jogo”. “É a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Mas a que eu mais gosto é a comparação do italiano Pier Pasolini, em 1971, a partir da final da Copa de 70, em que o Brasil ganhou da Itália. Ele diz que o futebol da Itália é prosa, enquanto o Brasil é poesia.

Pra mim, esse é o resumo do Brasil, e do Neymar. Poesia, nada mais é, que o caos perfeito. Ela foge de estruturas, às vezes até de um objetivo. Ela existe pra encantar, pra mexer com o espectador, para entreter. Ela pode ser longa, às vezes ruim, mas é a única que pode entrar em você e nunca mais sair. Ninguém lembra das prosas comuns. Mas, algumas vezes, passam versos de golaços e dribles nas nossas cabeças.

O Brasil se tornou o país do futebol porque o mundo, e o esporte, exigia poesia. Precisava de um refúgio, de alegria nas pernas, onde Pelé e Garrincha que, com tanta naturalidade driblavam suas adversidades, driblaram também seus adversários. E aquela poesia enraizou na nossa educação. O brasileiro pobre associou vitória no futebol à vitória na vida. E virou parte fundamental da nossa cultura.

Com o tempo (e o dinheiro), nossa poesia foi sendo comprada pela Europa e começamos a sofrer, porque não sabemos fazer prosa. Os melhores jogadores começaram a colocar seus versos diferentes nos textos táticos do futebol europeu e, ao Brasil, sobraram versos clichês e fracos.

É nesse sarau de poesia que nasceu Neymar Jr, ao qual tantos brasileiros com complexo de vira-lata insistem em apontar os erros, ao invés de exaltar as virtudes. E de tanto vaiarem, conversarem e xingarem enquanto ele recita sua arte, ele começa a errar as rimas e esquecer a letra. E as vaias aumentam. Porque o país do futebol projeta suas frustrações no menino que só queria fazer poesia. Mas a Copa virá, e se a prosa do Tite se misturar à poesia de Neymar, o Galvão vai gritar “É Hexa!” do lado do Pelé, e não seremos mais o país dos poetas mortos.

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