A oração de Jesus contra a lógica de bolhas — Devocional em João 17

Um evangelho que nos convida para fora

Bruno A.
o mundo precisa saber
4 min readAug 7, 2024

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Photo by Guus Baggermans on Unsplash

Jesus não viveu em bolhas, e nem planejava isso para os seus discípulos.

Naqueles três anos, Jesus reuniu aqueles 12 homens, tão enraizados na bolha judáica, e mostrou a eles o horizonte.

João 4 descreve um Cristo que cruzou as fronteiras israelitas e foi dar assunto a uma samaritana — adjetivo proibido nos “lados de cá” do muro. Uma samaritana mulher, em uma sociedade onde eles eram invisíveis. Uma samaritana, mulher, e com a “capivara” bem longa, aliás. Cristo furou três bolhas de uma vez só, pegando de surpresa desde a mulher, quando se viu diante de um “profeta” israelita, até os discípulos, que quando voltaram com a “marmita” que foram buscar, se deram com aquela imagem, no mínimo, curiosa.

“Naquele momento, chegaram os discípulos de Jesus e se admiraram ao vê-lo falando com uma mulher.” — João 4:27

E esse mesmo Cristo não negava seus ouvidos. Não importa se era o cego, tido por todos como “amaldiçoado” (João 9) ou se era o soldado romano que simbolizava a opressão do estado (Mateus 8); se era a mulher adúltera pega “no ato” (João 8) ou se era o fariseu, o “guardião da moral e dos bons costumes” da época (João 3). Até mesmo o corrupto cobrador de impostos (Lucas 19) encontrou Jesus e o seu perdão quando procurou.

E aqueles discípulos que, em três anos, viram mais do que em toda a sua vida, carregavam em si uma icógnita: como seria a vida agora, que o Mestre anunciou sua partida? Voltariam para a sua vida normal? Seguiriam em frente com a missão? Mas, como?

Entre tantos assuntos tratados naquelas últimas horas — como podemos ler entre João 13 e 17 — , um chama a atenção: um trecho dito por Jesus em sua famosa “oração sacerdotal”:

Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E a favor deles eu me santifico, para que eles também sejam santificados na verdade. — João 17:13–19

Nesse trecho fica claro como a vontade de Cristo não era trancá-los em uma bolha, protegido de qualquer ameaça. Jesus não veio criar uma seita, uma sociedade secreta, com múltiplos muros e controles que protegem do “mundo externo”.

Este mundo os odiava, pois havia uma colisão de princípios: o que Jesus nos ensinou como principal quase nunca é aceito pelo mundo dessa forma. Ainda assim, o comando de Cristo não era para dentro, e sim para fora.

E disse-lhes:

— Vão por todo o mundo e preguem o evangelho a toda criatura. — Marcos 16:15

Mas, como ir a um mundo tão vil, tão ameaçador, onde há tantos conflitos entre o que nós e eles pensam?

Hoje, com redes sociais e polarização ideológica, esse medo parece ainda mais real. Parece que todos os dias somos sequestrados para situações onde a guerra está clara. Temos medo de que nossos filhos se percam na escola, na faculdade, até mesmo assistindo televisão. E, para piorar, os que se colocam como “sacerdotes” entre nós e Deus fazem o caminho contrário a este que Cristo fez em sua oração: despejam o óleo do medo — o primeiro estágio do ódio — sobre nossas cabeças, o que nos faz querer ficar cada dia mais recluso em nossas bolhas.

Os díscipulos de Cristo, seguindo Sua recomendação, se agruparam em Jerusalém até o dia em que algo aconteceu: conforme descrito em Atos 2, eles foram empoderados pelo Espírito Santo de Deus. E a primeira atitude daqueles discípulos após serem selados pelo Espírito foi — na força do pleonasmo — sair pra fora!

Pedro, tomado por este Espírito pregou publicamente, e três mil creram.

Depois disso, aqueles discípulos entenderam que a vida, a partir de então, não era pra acontecer dentro da bolha. O Evangelho ganhou as ruas de Jerusalém, da Judéia, da Ásia, da Europa, do mundo!

E neste mundo onde, dois mil anos depois, nossas telas — e nossos “sacerdotes” — querem nos prender de volta em nossas bolhas, que o Espírito possa nos empoderar e nos guiar para o caminho certo: para fora! Sem medo do que encontraremos quando cruzarmos os muros.

É desse avivamento que precisamos!

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