A política e o des-espero da igreja evangélica brasileira

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readOct 26, 2022
Photo by Yuri Figueiredo on Unsplash

Parece poesia ruim: desesperar é des-esperar, negar a esperança, desistir de esperar.

Versos cretinos à parte, boa parte da igreja brasileira está dando esse infeliz sinal: o desespero. É o desespero de cada ministro cristão em tentar induzir o crente em votar neste ou naquele (principalmente "neste", é necessário dizer). A BBC Brasil nos trouxe a situação vergonhosa de igrejas que simplesmente perseguem fiéis que não fecham com o seu indicado político. Vergonhoso, repito.

E esse desespero, essa negação da esperança, nada combina com a fé. Afinal, quem crê — ainda mais quem crê em Cristo — espera. Espera em Deus e em Cristo, sobre um novo céu e uma nova terra que há de vir. Espera, também, que Deus, por sua providência, aja na controversa história do mundo, porque crê que, ainda que o "candidato adversário" esteja sentado no trono em janeiro de 2023, Deus permanece Todo-Poderoso.

E até mesmo se o voto deste dia 30 de outubro desencadear dias de perseguição, o crente crê que em Deus ele manterá sua fé, ainda que isso lhe custe a vida. É essa a esperança do Cristão.

Mas quando essa fé fundamental se vai, a esperança também some. E então sobra o desespero. E a partir daí, não é difícil desenhar a cadeia de eventos que se sucede.

Se não há Deus, ou se Ele não é poderoso o suficiente para cumprir seus propósitos, independente de quem esteja no trono do poder, então precisamos votar direito. Precisamos colocar a pessoa certa em Brasília. Ou melhor: as pessoas certas, tanto no Executivo, quanto no Legislativo e no Judiciário.

Precisamos esperar, então, que essas pessoas nos livre da escatologia que está porvir. O comunismo, os terceiros banheiros, o Paulo Freire, a Venezuela, a Lei Rouanet... Nem sabemos o que essas coisas significam, mas sabemos que as ameacas estão de todos os lados! E pobre de nós, nesse mundo sem Deus.

Precisamos louvar e engrandecer nossos novos heróis. Devotar-lhe fé. Se não há mais Deus — afinal, desesperamos Dele, certo?— então que os coloquemos em nossos púlpitos, que os chamemos de "ungidos", "salvadores". E aí daquele que profanar este novo santo: que sacrilégio! Merece excomunhão, jazer com os pecadores, com os apóstatas da nova fé, do outro evangelho que não é o Evangelho que aprendemos (Gálatas 1:9).

E é necessário cerrar as portas, levantar os muros. Não se sabe de onde vem o perigo. E, por favor, não votem errado. E caso votarem, e caso o inimigo vencer, vale tudo: dizer que as urnas estão fraudadas, que mídia está em conluio, que os institutos de pesquisa são tendenciosos. Vale até recorrer aos maçônicos, iluminatis, repitilianos... O que a sua imaginação permitir.

Pobre igreja. Enquanto Cristo subiu o monte, com a promessa de logo voltar, ela se desesperou, e construiu para si um bezerro de ouro. Uma pobre e falsa divindade, um bezerro à imagem e semelhança do gado que o construiu.

O primeiro mandamento — e um dos únicos que nomeadamente permaneceram após Cristo — é quebrado todos os dias em alguma igreja do país. E aí de você, que não seguir o ritual.

É certo que em algum dia, essa patifaria será cobrada. Afinal, essa é a esperança de todo aquele que ainda conserva a fé.

Vote em quem você quiser, mas por favor, nunca se desespere. Pois, sem fé, é impossível agradar a Deus. (Hebreus 11:6)

--

--