A vaidade do cidadão “de bem”

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readMar 26, 2019

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Vaidoso, enganável e desconexo: nem a Bíblia atesta a bondade do “homem de bem”

Homem de bem: trabalhador, pagador dos seus boletos, cumpridor da lei, da moral e dos bons costumes. Embora ele nem sempre seja religioso, sua imagem é frequentemente atrelada à religião e a sua moral.

E que mal há em ser um homem de bem, aliás?

Quando eu olho para os quesitos, o que sinto é desejo de que mais e mais pessoas possam ser enquadradas nesses parâmetros! Cidadãos de bem é o que precisamos nesse mundo.

O problema é a incoerência.

Até a Bíblia, usada por muitos como parte integrante do “Cidadão de Bem Starter Pack” nos alerta que

“Como está escrito: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Romanos‬ ‭3:10–12‬ ‭NAA‬‬)

E para quem não sabe, estas foram palavras escritas pelo apóstolo Paulo aos religiosos da época, para convencê-los de que eles não tinham vantagem moral nenhuma por serem religiosos. Acredito que, por mais ateu que você seja, você não vai discordar desses versos.

Sendo assim, nos descobrimos diante de um sério problema: somos cidadãos de bem, nos gloriamos como tal, mas de acordo com o nosso próprio “guia moral”, não somos melhores que ninguém.

E as coisas ficam ainda mais sérias quando o próprio Jesus entra em cena, repreendendo esse nosso orgulho vão em uma de suas parábolas:

“Jesus também contou esta parábola para alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:

— Dois homens foram ao templo para orar: um era fariseu e o outro era publicano. O fariseu ficou em pé e orava de si para si mesmo, desta forma: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo o que ganho.” O publicano, estando em pé, longe, nem mesmo ousava levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: “Ó Deus, tem pena de mim, que sou pecador!”

Digo a vocês que este desceu justificado para a sua casa, e não aquele. Porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” (‭‭Lucas‬ ‭18:9–14‬ ‭NAA‬‬)

Ou seja, o cidadão de bem dos dias de hoje, na ânsia de requisitar para si a medalhinha de bom menino, se parece mais com o fariseu da história contada por Cristo: alguém que se auto classifica bom e esquece que é tão humano quanto qualquer outro cidadão “de mal” que ele tanto se diferencia.

E assim, o cidadão de bem vai se cegando em seu próprio orgulho, tendo seu ego afagado por políticos e ideólogos que enxergam nele apenas um capital humano, uma cabeça de gado, facilmente direcionado para os movimentos de manada que os convém, em troco da ilusão de que um revólver no porta-luvas do carro é a solução para os problemas da violência no Brasil.

E o pobre homem? Na ânsia de ser de bem, vai se distanciando das palavras da Bíblia que ele tanto diz seguir. Se seguisse mesmo, perceberia quão incoerente suas atitudes são.

No fim desse texto, corremos os seguintes riscos:

  1. Homens de bem, discordando dos textos e dos versos bíblicos apresentados, doídos porque questionei seus direitos e motivos de pegar em armas;
  2. Homens e mulheres “de mal”, incrédulos, concordando com pelo menos duas passagens da Bíblia que eles tanto criticam.

Eu espero que só a segunda opção se realize.

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