Antes de mais nada, preciso confessar um pecado

Lembrando que esta é a minha confissão. Você não é obrigado a concordar com ela.

Bruno A.
o mundo precisa saber
5 min readJun 29, 2021

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Posso confessar um pecado, aqui?

Então: talvez eu sinta um pouco de inveja dos gays, lésbicas… Enfim, a sigla inteira.

Talvez porque o mundo ocidental, como conhecemos, foi formado sobre bases cristãs. Aliás, este é um dos motivos pelos quais temos o senso de pleitear por liberdade de discurso neste lado do mundo. Se nossa cultura tivesse sido moldada por alguns dos outros padrões religiosos que existem, certamente esse texto custaria a minha vida, assim como muitos que lutam por liberdade de pensamento também estariam em situação muito mais perigosa.

Mas, por que inveja?

Ora, veja só: os gays, outrora marginalizados pela sociedade, sem qualquer direito garantido, agora veem parlamentos ao redor do mundo legislarem a seu favor. E não apenas isso. Além dos políticos agora temos a imprensa, os criadores de conteúdo, a indústria cultural… Até as empresas estão defendendo suas causas.

Nós, cristãos, nunca tivemos toda essa comoção ao nosso favor. Nunca tivemos um “dia do orgulho cristão”. Nunca tivemos documentários na televisão nos louvando. Nunca tivemos campanhas de publicidade associando seus produtos à causa de Cristo (embora sempre tenhamos algum líder político tentando se aproveitar da nossa boa vontade religiosa).

Nunca tivemos matérias de trinta minutos no Fantástico sobre os nossos sofrimentos. Milhares de cristãos — assim como milhares de gays — morrem todos os anos ao redor do mundo, apenas por serem quem são. Inclusive, na maioria dos países onde se perseguem abertamente gays, cristãos também são perseguidos abertamente. Mas não há matérias sobre perseguição a cristãos na capa das revistas ou jornais.

Alguma coincidência?

Cristãos, quando aparecem na mídia, normalmente é pelos males causados por um mau elemento: o pastor que roubou a igreja, a cantora que matou o marido, o politico envolvido em corrupção. Dificilmente vemos veículos de mídia falando sobre todas as ações de filantropia patrocinadas por igrejas e missões ao redor do mundo. Pelo contrário: por conta de um pastor ladrão, a igreja toda é etiquetada como um covil de vigaristas.

As paradas gay são notícias em rede nacional: um patrimônio cultural da nação, um dia de manifestação contra o preconceito, um chamariz de turistas para engordar o cofre das prefeituras; já nossas marchas para Jesus são retratadas como fanatismo religioso, um problema para o trânsito, relegadas a uma pracinha nos fundos da cidade, pois parecem não terem valor cultural ou mercadológico suficientes para ocupar uma Avenida Paulista.

Na mídia, eles parecem estar vencendo o esteriótipo do “maquiador”, do “cabeleireiro”, do “depravado” ou da “mulher machona”. Parecem ter saído dos papéis de subserviência ao protagonista, personagens sem vida, sem história, sem importância. Agora, se ouve falar em gays, lésbicas e etc. no papel principal. O “herói X” é gay, a “personagem Y” é lésbica…

Quanto a nós, continuamos presos no preguiçoso esteriótipo do ultraconservador, que usa versos bíblicos sem contexto e quer impor a Lei de Deus no mundo a qualquer custo… mas assista mais um pouco, pois logo descobriremos que ele, ou ela, tem algum pecado à revelar.

Afinal, parece que a religião faz com que todas as pessoas tenham uma vida muito mal resolvida, não é? Por isso, todo crente em novelas e filmes parecem ser um barril de pólvora prestes à explodir: logo descobriremos suas transas secretas, seu vício em álcool, ou o seu passado libertino, que ele está tentando cobrir com a sua pretensa santidade. Podem esquecer a moça crente protagonista da trama, o Homem de Ferro cristão, tampouco Mulher Maravilha evangélica.

Logo, quando vejo essa quadro, sinto que nós, cristãos, estamos sendo injustiçados. Sabe, é como o irmão do filho pródigo (Lucas 15) deve ter se sentido ao ver aquele homem infiel e maltrapilho recebendo de volta toda a honra que ele mesmo havia jogado fora. Mas, veja só: o irmão do filho pródigo nunca tinha abandonado o seu pai, mas nunca recebeu um festinha que fosse, um tapinha nas coisas que fosse, um privilégio que fosse?

Da mesma forma, nós cristãos, mesmo tendo uma história de sofrimento e lutas contra preconceitos semelhante às pessoas LGBTQIAP+, nunca recebemos um ato de compaixão, um “estamos contigo”. Nenhuma empresa muda a foto do perfil no LinkedIn no Dia da Igreja Perseguida (primeiro domingo após o Pentecostes, 30 de maio neste ano de 2021).

Mas, se você concorda comigo nesta confissão que acabei de fazer, você também precisa concordar que este nosso coração manchado pela inveja não é capaz de cumprir o “ide” (Marcos 16:15). Não temos condições de abraçar o nosso irmão se sentimos que o lugar dele deveria ser nosso.

E, se motivado por esse sentimento, nós estamos inundando a internet de textos, vídeos, pregações e “estudos teológicos” contra gays, então todo esse nosso trabalho tem sido vão e pecaminoso. É por causa de nós que o bom nome de Deus tem sido blasfemado entre eles (Romanos 2:24).

Afinal, onde e quando Cristo nos ensinou a alimentarmos esse tipo de sentimento? Onde, na Bíblia, encontramos razão para nos mantermos desta forma? A parábola do Filho Pródigo não seria justamente sobre o contrário? Sobre a necessidade de nos desfazermos do ciúme e comemorarmos o progresso do nosso irmão, ainda que nós não tenhamos recebido esse mesmo benefício? Não é esse o puro amor de Cristo que aprendemos quando lemos os Evangelhos?

Se, como Cristo disse: “a boca fala do que o coração está cheio” (Mateus 12:34), então será que toda essa pregação realmente bíblica sobre “padrão heterossexual para relacionamentos” não está soando como hipocrisia e ódio retraído quando sai das nossas bocas?

Eu sinto que preciso confessar meu pecado. Preciso que Deus limpe meu coração. Só então conseguirei, de fato, pregar sobre isso de maneira pura. E, quando isso acontecer, eu tenho certeza que o mundo vai ouvir. Pois nessa pureza de coração, haverá espaço para o trabalho de conversão que apenas o Espírito Santo de Deus pode fazer.

Dica de leitura bíblica: Lucas 15

Os demais textos dessa série, você encontra neste link.

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