Cães raivosos

Como os cristãos sairam do status de “ovelhas” para “lobos carniceiros”, incapazes de pregar o Evangelho da Salvação

Bruno A.
o mundo precisa saber
5 min readJul 3, 2021

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Photo by Aurora Oak on Unsplash

Quanto te fazem uma pergunta, será que “sim” e “não” são as únicas respostas?

Foi com essa ideias que os fariseus, saduceus e herodianos foram à Cristo, conforme ficou registrado em Mateuus 22. O objetivo não era perguntar para aprender com a sabedoria de Cristo, mas sim para tentar coloca-lo em alguma saia justa.

A primeira das perguntas era sobre a licitude de pagar impostos à Roma.

Se Cristo disesse que “sim, era licito pagar impostos à Cesar”, poderiam dizer que ele era um apoiador do opressor Império Romano, que entre outras coisas, era visto como uma opressão espiritual sobre o povo israelita, que tinha uma longa história teocrática; caso contrário, poderiam até mesmo entregá-lo às autoridades, alegando que Jesus seria um rebelde contra o poder de Roma.

E aí, o que responder em casos assim? Bem, a saída de Cristo foi aquela que se tornou uma de suas frases mais célebres:

Deem, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Mateus 22:21

E nós, cristãos atuais, neste mundo onde há tanta pluralidade de discursos, fatalmente caímos em encruzilhadas como a descrita acima.

Por exemplo: se Deus é amor, então porque não concordamos com todas as formas de amor?

E, preciso dizer que essas perguntas nem sempre são feitas de forma maliciosa. Muitos dos que nos perguntam isso são apenas pessaos sinceras tentanto entender como as coisas funcionam.

Mas, diferente de Cristo, os cristãos atuais parecem não saber lidar com questões difíceis e delicadas, onde qualquer resposta pode ser mal interpretada. Basta uma rápida olhada em comentarios de redes sociais e veremos como “o povo do amor” logo se torna em “cães raivosos”, dependendo da questão.

E esse comportamento raivoso é alimentado e ensinado, na maioria das vezes, por alguns de nossos líderes religiosos, que se comportam como verdadeiros “lobos ameaçadores” diante de qualquer manifestação ideologica que eles considerem anti-cristã.

Parece que o chamado é para a guerra contra “eles”. Eles quem? Progressistas, esquerdistas, ateus, homossexuais, militantes, ambientalistas, artistas, ativistas… A lista parece aumentar a cada dia.

E sequer paramos para perguntar onde, na Bíblia, está escrito que devemos promover uma guerra santa contra tudo e contra todos.

Se Paulo nos falava que “a guerra não é contra carne e nem sangue” (Efésios 6) , hoje, queremos armas de fogo para nos defender. Queremos ideologias para viver e para atacar. Precisamos de bancadas para garantir, à qualquer custo, que a “seja feita a nossa vontade”. Queremos “limpar” a terra, como se ela fosse a nossa promessa. Nos sentimos como os israelitas que chegaram a Terra Prometida e expulsaram os inimigos na espada.

O que nos esquecemos é que o mandamento de Cristo, o Novo Testamento, é o “ide”. Se, no velho testamento, o povo de Deus entrou em guerra contra os habitantes da terra porque queria habitar nela; no Novo Testamento, a promessa não é habitar um “metro quadrado físico”, e sim celestial. Logo, não precisamos entrar em guerra com ninguém.

Pelo contrário. O mandamento agora é “ide e pregai”. Ide e conversai, ide e ouvi, ide e entendei, ide e façais amizades, ide e façais conexões, ide e se ponhais no lugar do outro, e falai a eles que existe um Plano de Salvação.

“Ide, pregai o Evanagelho a toda a criatura.” — Marcos 16

Mas, como promover o “ide”, se já estamos como cães raivosos diante do mundo? Se os nossos representantes políticos são os cães raivosos esculpidos à nossa imagem e semelhança? Como queremos falar da simplicidade do evangelho se não somos mais simples? Como queremos falar de paz se um arco-iris já nos coloca em estado de ira?

Como queremos falar de uma Graça imerecida se nós mesmos já escolhemos quem não merece e nunca vai merecer a Graça de Deus? Como queremos falar de salvação se mandamos um para o inferno todos os dias?

Aliás, será que queremos mesmo todas essas coisas boas que Cristo nos mandou fazer? Ou será que o vinho da nossa própria ira já nos viciou?

Bem, é deste dilema que Paulo trata, sabiamente em Romanos 7, onde ele chega triste e óbvia conclusão de que, na verdade, nós crentes, muitas das vezes, somos os mais afetados pelo pecado que julgamos estar apenas no outro.

Mas, glória a Deus porque tanto para o nosso pecado quanto para o pecado do mundo, Cristo é a solução.

Porque o pecado, aproveitando a ocasião dada pelo mandamento, me enganou e, por meio do mandamento, me matou.

Assim, a lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom.

Então, aquilo que é bom se tornou morte para mim? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para mostrar-se como pecado, por meio de uma coisa boa causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, o pecado mostrasse toda a sua força de pecado.

Porque bem sabemos que a lei é espiritual. Eu, porém, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.

Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.

Ora, se faço o que não quero, concordo com a lei, que é boa.

Neste caso, quem faz isso já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.

Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo.

Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço.

Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.

Assim, encontro esta lei: quando quero fazer o bem, o mal reside em mim.

Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus.

Mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.

Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?

Romanos 7:11–24

A resposta para esta pergunta vem já no primeiro verso de Romanos 8:

Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.

Romanos 8:1

Logo, precisamos fazer com que cada vez mais pessoas “estejam em Cristo Jesus”, pois ele é a salvação para todos nós, independente de qual lado dos espectros da vida estejamos:

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego.

Romanos 1:16

Dicas de leitura: Romanos 7, Mateus 22,

Os demais textos dessa série, você encontra neste link.

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