Confessando os pecados da masculinidade

Trago fatos e links

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readJul 7, 2024

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Photo by Shalone Cason on Unsplash

Se muito da retórica da masculinidade bíblica é sobre assumir responsabilidades, então é hora de começar.

Vamos aos fatos. E aos links.

Violência doméstica existe. E em quase 100% dos casos, parte de um homem contra uma mulher. Você, provavelmente já presenciou ou conhece alguém que tenha presenciado ou sofrido um episódio desses. Talvez você até tenha participado, do lado do agressor. Ponha a mão na consciência. Ser homem é assumir responsabilidades, certo?

Estupros existem, e não são poucos. Se você tem mãe, esposa ou irmã, duvido que você fique em paz sabendo que existe alguma mulher do seu convívio andando pelas ruas à noite. E nem precisamos dizer que perpretadores são sempre homens.

Crimes sexuais praticados no ambiente de igreja existem. Praticados por pastores e líderes que abusam e encobrem abusos. Talvez você já tenha vivido em um ambiente de igreja o suficiente para presenciar (ou participar) de casos assim.

Nem mesmo a Bíblia nega violência de homens contra mulheres. A partir do capítulo 19 de Juízes, temos conhecimento de uma odiosa história que envolve um estupro coletivo e aquilo que hoje chamaríamos de feminicídio. Em João 8, um grupo de homens — que Cristo provou, na base do argumento, serem pecadores — estavam prontos para linchar uma mulher por conta do seu pecado.

No capítulo 11 segundo livro de Samuel, presenciamos Davi — um dos heróis da fé — em um terrível episódio que envolve abuso e assassinato. E sim, a palavra é “abuso”, conforme estudos (divulgados aqui e aqui) que mostram como o texto original deixa claro que o ato partiu de Davi e não de Bateseba, como costumamos entender.

E ainda no “universo” de Davi, no capítulo 13 do segundo livro de Samuel, o autor deixa bem claro, sem meias palavras, que Anmon, um dos filhos de Davi, estuprou a própria irmã.

O que fazer diante dos fatos?

Essas constatações são necessárias, pois da longa lista de desigualdades sociais entre homens e mulheres, essas (estupros e agressões) certamente são as mais graves, pois colocam mulheres em risco de vida e ceifam muitas, diariamente.

Conversa de adultos. Não há espaço para argumentos do tipo “por que mulheres não vão pra guerra?” ou “quem elas chamam quando o pneu do carro fura?”, pois diferente do “homem protetor e servidor” das frases acima, o que vemos na vida real são homens que violentam e matam, cuja a simples ciência da sua existência é uma ameaça.

Logo, por mais que haja exageros, também há motivos para uma crescente retórica feminista. E esses motivos não são causados por militâncias ou por esquerdismos, mas sim por homens que matam e violentam.

Penso que, se somos cristãos, se o dorso da nossa fé está em confessar nossos pecados e se estamos em busca da dita “masculinidade cristã”, não há como iniciarmos a jornada sem confessarmos os pecados que talvez não sejam pessoalmente nossos, mas que são praticados por homens como nós. Homens que estão no nosso convívio, na nossa roda de amigos e influências. Homens que, muitas das vezes, lideram discursos e pregações, inclusive, sobre masculinidade.

Podemos concordar que há graves exageros em discursos que colocam todos os homens como potenciais estrupadores, mas precisamos aceitar que estrupadores normalmente são homens.

Apenas ao aceitar a realidade, teremos condições de definir um ponto de partida saudável, onde podemos criticar e apontar exageros, mas sem nos esquivarmos das realidades que nos cercam.

Me parece bem masculino lidar de maneira adulta com a realidade, entendendo onde erramos e acertamos, não é?

Então, eu acho que começamos bem. Precisamos refletir.

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