Consciência Negra, certezas, ignorâncias, cavalos — Devocional em Coríntios 13

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readNov 17, 2022
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Pois o nosso conhecimento é incompleto e a nossa profecia é incompleta. Mas, quando vier o que é completo, então o que é incompleto será aniquilado.

1Coríntios 13:9‭-‬10 NAA

Nesta semana da Consciência Negra em 2022, o Bibotalk está fazendo uma série especial, com vários podcasts sobre o tema cristianismo e racismo. E quantos tapas na cara!

É assustador ter conhecimento de que homens como Jonathan Edwards, tido como um dos melhores teólogos do seu tempo, defendia a escravidão com unhas e dentes.

Homens melhores que nós, produtores de boa teologia em tantas áreas da vida, falhavam tão miseravelmente quando o assunto era racismo. Seja por ignorância, seja por não querer abrir mão de um negra em sua cozinha e um negro no seu campo.

E isso não se resume apenas a um homem, mas a toda uma teologia cristã que vem desde o catolicismo, passando pelo protestantismo histórico, moldando a forma de se fazer igreja nos Estados Unidos, o que reverbera diretamente na forma em que fazemos igreja no Brasil, ignorando quatrocentos anos de escravidão e seus vícios sociais, que carregamos para a nossa teologia dos nossos cultos de domingo, muitas das vezes sem perceber.

Isso me faz lembrar das palavras do Apóstolo Paulo: "conhecemos em parte" (1 Coríntios 13). E por isso, deveríamos ser mais humildes em sair pregando nossas verdades, não como quem relativiza tudo, mas como quem entende que a História revisará nossas palavras e, fatalmente, apagará aquilo que não pertencer à Verdade.

É assustador como não deixamos a Palavra clarear o porão escuro da nossa alma, onde escondemos nossos confortos, preconceitos e idolatrias. Como os fariseus que reconheceram e confessaram a luz de Cristo, mas não largaram mão da escuridão da sua razão (João 3).

Fariseus dos quais, aliás, Paulo fazia parte. E como um zeloso fariseu, carregando uma carta e a teimosia no alforje, cavalgava rumo a Damasco, pedindo permissão às autoridades para matar.

Felizmente, esse mesmo Paulo foi derrubado do cavalo da sua ignorância (Atos 9), e conhecendo a Deus, passou para o lado dos oprimidos, e assim viveu até a sua morte.

Foi esse Paulo quem escreveu "conhecemos em parte". Um convite a humildade e à reflexão. Será que entendemos que não entendemos tudo? Como agimos diante daquilo que não entendemos? Confessamos que não sabemos? Pedimos a Deus sabedoria? Ou montamos no cavalo da nossa ignorância, acreditando que vale até matar (ou deixar morrer) por um "zelo santo"?

Mas, se conhecemos em parte, como viveremos, então? Como vamos pregar e zelar sem ter a real certeza do que estamos fazendo? Como nos moveremos, se a cada esquina, tivermos medo em virarmos a escória da História por conta das nossas más decisões?

O texto que contextualiza o "conhecemos em parte" que Paulo escreveu nos ajuda a responder. Nesse texto, Paulo diz que falar línguas de homens e anjos, filantropia e sacrifícios de nada valem, se isso não significar um ato de amor.

(E vale lembrar aqui que o mandamento de Cristo é amar a Deus sobre tudo e amar ao próximo como a si mesmo (Mateus 22). Em nenhum momento ele incluiu o amor ao dinheiro, ao conforto, ao status, às ideologias e nem mesmo às teologias).

Talvez seja essa amor a luz de Cristo que vem para iluminar os porões das nossas almas, para que toda a sujeira acumulada possa ser retirada.

Então, não façamos como os fariseus, que diante da luz do amor, preferiram permanecer na escuridão, onde suas más obras — ainda que disfarçadas de boas obras — pudessem continuar sendo praticadas.

Que possamos escolher o Amor e a luz que dEle provém. Ainda que essa luz nos derrube do cavalo das nossas más certezas.

Até porque, a melhor coisa que pode acontecer quando estamos cavalgando rumo ao erro, é cairmos do cavalo.

Que Deus nos derrube, então. Essa é a minha oração.

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