Cristão pode votar em abortista?
Pergunta denota nosso desconhecimento de como democracias funcionam (ou uma sanha pelo totalitarismo)
Cristão vota em abortista? O traço vermelho que o meu editor colocou sob a palavra em questão mostra que o termo sequer fazia parte dos dicionários até dias atrás.
Então, vamos as definições: abortista, ao que parece, é todo aquele que, em algum nível, é favorável a descriminalização do aborto.
E este assunto é um pano pra manga que faz cinquenta anos que não acaba, e não vou entrar nesta cumbuca, porque diferente dos dois candidatos a presidente, que mudam de ideia todo dia, eu não tenho nada a ganhar trazendo a polêmica para este texto.
Estou aqui para falar sobre como democracias funcionam, e sobre o nosso desconhecimento sobre isso (e a "nós", me refiro aos cristãos, público alvo deste blog).
Sem objetivo de me esgotar no assunto, ou demonstrar um tecnicismo que eu nem tenho. Aqui no Brasil, temos três poderes: o executivo, que como diz o nome, é responsável pela execução, por fazer que as coisas aconteçam; o judiciário, que zela para que as coisas aconteçam dentro da lei; e o legislativo, que, à partir da vontade do povo, define quais serão essas leis.
E num sistema de contrapesos como o nosso, todos os três poderes tem poder de veto. Nenhum deles têm o poder totalitário nas mãos.
Dada as regras acima, uma vez que você seja pessoalmente contra a liberação do aborto, a qual dos poderes você deve recorrer?
Ao legislativo, certo? Afinal, é este o poder responsável por criar leis que restringem ou liberam qualquer coisa neste país.
Então, porque esta nossa sanha santa por um presidente "anti-abortista"? (Lá vai mais um tracejado vermelho do meu editor)
Certamente porque esperamos que, através de uma canetada, o presidente nos salve das leis com as quais não concordamos. E é assim que eles se vendem para nós: como homens fortes, verdadeiros heróis, que podem subjugar a voz do povo (legislativo) e a voz da lei (judiciário), para que a nossa vontade seja feita. Um messias a nossa imagem e semelhança.
Afinal, para que submeter a nossa ideia a infinitas rodadas de discussões em comissões na câmara e no senado, quando temos o hack, a carta suprema do poder em nossas mãos.
Ou seja: ou as pessoas não tem comhecimento dessas linhas básicas que acabei de escrever — o que seria bem comum em um país onde ainda habita o analfabetismo funcional —; ou então, ainda temos em nós esse ideal totalitário, que aliás está cada vez mais em voga na geopolítica mundial.
Sendo assim, demonstrar como um candidato está disposto a enfrentar e derrubar os demais poderes, para que ele tenha plenos poderes e liberdade para fazer o que nós quisermos, não é denuncia: é propaganda. E das boas. Porque, no fundo, é isso que a gente quer: submeter a nação inteira à nossa vontade. Afinal, nossa vontade é santa.
Mas a controvérsia disso tudo é nunca termos visto Jesus se utilizar desse subterfúgio para santificar o mundo. A nossa vontade pode até ser santa, mas cristã não é.
E toda vez que sacralizamos algo que não vem de Cristo, a Bíblia deixa bem claro o que está acontecendo: idolatria.