Ficarão de fora os ladrões:
quem roubou a igreja dos pobres?
A senhora, com o corpo doente até a alma, fruto do câncer que lhe assola, foi à igreja, naquele domingo, em busca de consolo.
Da mesma forma, a esposa violentada, viu no templo um possível refúgio do seu malfeitor.
O pai, foi buscar a Deus à respeito do seu filho preso. O filho, foi pedir a Deus pelos seus pais à beira do divorcio. A outra senhora, foi clamar pela sua filha nas drogas. E aquela moça, ali atrás, só queria um lugar para colocar pra fora, em lágrimas, os demônios da sua depressão.
A igreja — seja católica, luterana, reformada, pentecostal — sempre foi refúgio para o pobre, travesseiro para o desvalido, esconderijo para o ameaçado. De todos os lugares do mundo, a igreja era o único lugar onde suas dores poderiam ser aliviadas sem que nada lhe fosse pedido em troca.
Mas a igreja foi roubada.
Primeiro pelos lobos carniceiros, famintos por dinheiro. Colocaram catracas no velho templo, e só os sócios do clube, agora, tem direito aos direitos que o Fundador da igreja comprou com o seu próprio sangue derramado numa cruz.
Não contentes, agora são os políticos, famintos por poder, os ladrões que roubam dos coitados, todos os domingos, as palavras de paz, alegria e consolo. Quem vai a igreja ouvir a Palavra de Deus, é obrigado a engolir o mais cínico dos horários políticos. Agora, não basta pagar o boleto, há de se votar certo, porque Deus está vendo!
Pobre do depressivo, do pobre, do doente, do agredido, do desvalido. Foi ouvir Deus, terminou por ouvir o diabo.
Quem foi que roubou a igreja dos pobres?
Seja lá quem tenha sido, as palavras de Deus tem um endereço direto. E um cumprimento certo: “Ficarão de fora os ladrões…”
E ninguém neste país é mais ladrão do que aquele que roubou a igreja. Porque este não surrupiou do bolso dos homens, mas do alforje de Deus.
A cobrança vai ser cara. Quem ressuscitar naquele dia, verá.