Homão da porra

A masculinidade caricata dos nossos dias

Bruno A.
o mundo precisa saber
5 min readJul 23, 2018

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Homão!

Somos uma geração de filhos sem pai. Boa parte de nós fomos criados apenas pelas nossas mães, sem a tal da referência masculina. Outra parcela da nossa geração até pode contar com a presença paterna, mas em vão: pois crescemos tendo como exemplo masculino país bêbados e agressores de mulheres. Foram poucos de nós que encontraram bons exemplos masculinos em casa.

Na adolescência, nossa geração — criada sem pai — conheceu a ideologia de gênero e seus exageros (normal a toda ideologia), desconstruindo os conceitos de homem e mulher. Nós, sem pai e vendo nossas mães sendo homem e mulher da casa, não tínhamos argumentos plausíveis para discutir com essas novas ideias.

Para completar, ainda tem os homens de 30 anos que preferem ficar na casa da mãe jogando videogame e aguardando o novo filme da Marvel invés de ligar para a mãe do seu filho e decidir, de uma vez, assumir, sustentar e criar a criança.

Assim, a masculinidade começou a ser vista com maus olhos. Masculinidade passou a ser confundida com machismo. Como se declarar homem em uma sociedade onde homens agridem esposas, violentam mulheres e não assumem sua prole?

“Mas eu sou homem! Talvez nem seja lá tão religioso, mas acredito sim que Deus (ou uma Força Superior qualquer) me fez assim: homem. E não há nada de errado com isso. Não devo me sentir culpado. Eu não sou o causador do machismo e misoginia da qual tanto me acusam. Eu não sou um “estuprador em potencial”, como dizem. E também não sou vagabundo! Eu pago minhas contas, sei que tenho que criar meus filhos e arcar com as minhas responsabilidades!”

E para atender esse público que se sente sem representação no “mundo da representatividade”, surgiu a idealização do masculino, ou o HOMÃO DA PORRA! A visão masculina distorcida e exagerada que só poderia ter sido fruto de um mundo não menos distorcido e exagerado.

O HOMÃO é a personificação da testosterona: tem a cara de mau do Stallone, os músculos do The Rock e a barba do Chuck Norris. Ele troca pneu, fura parede, pinta, reboca, empreende, troca lâmpada, corta, mói, tritura, fatia… Parece mais uma bugiganga do Polishop. Mas “não é só isso!”: ele também é bom, hétero, honesto, correto, hétero, justo, íntegro, hétero, temente a deus (embora tenha que criar uma desculpa por domingo para não acompanhar a sua mãe ou esposa na igreja).

Se o seu homem não sabe trocar pneu, consertar embreagem, detectar uma falha no atuador de marcha lenta do Golf GL 1995… Então talvez ele não seja homem. Ou talvez ele seja apenas homem, indigno de ser certificado como HOMÃO. É fraco, mimizento, crossfitero, fruto dessa geração Nutella e neymarizada.

O HOMÃO é idealizado. Idolatrado. Empedestalizado. Como a estátua perfeita do deus grego, colocada no centro da praça da metrópole, para que todo homem veja e saiba no que ele tem que se tornar e qual ídolo ele tem que seguir.

Pobre HOMÃO! Ele é bom, justo e correto, mas em si mesmo. Ele se diz temente a Deus, mas não O glorifica. Pelo contrário: ele usa Deus para ser glorificado pelos homens e garantir o seu selo de HOMÃO. Ele acredita que vai alcançar o céu pelos seus méritos:

Trocar pneu: 5 pontos

Usar uma Makita: 10 pontos

Ser hétero: 1.000 pontos

Ter barba: 10.000 pontos

Ser “empreendedor” : 100.000 pontos

Ser “de direita” : 200.000 pontos

Compartilhar o meme “hétero” do The Rock: 500.000 pontos

O HOMÃO sabe bater massa e levantar parede, mas não entende nada de engenharia. Se entendesse, não estaria construindo a sua casa na areia da sua própria capacidade. Ele certamente procuraria A Rocha para construir a sua casa — e não estou falando do ator de cinema.

O HOMÃO é bonzão! Um HOMÃO da porra, mesmo! Mas isso não vale nada. Isso é vaidade. A velha vaidade em novas embalagens. É como a maquiagem que se passa na cara para esconder as imperfeições.

O HOMÃO esquece que ele tem o DNA da imperfeição (ou pecado) na sua alma. E que ele é tão suscetível a queda — inclusive moral — quanto qualquer outro homem. Ele esquece que qualquer sexo que não seja com a sua esposa é pecado — ainda que ele se glorie por deitar com outras mulheres e não com outros homens.

O HOMÃO, que se gloria na sua furadeira, esquece que hoje mesmo ele pode sair na sua moto — que ele mesmo, orgulhosamente, consertou — e basta uma queda boba e ele pode virar um paraplégico, perdendo todas as suas mil e uma utilidades, e por consequência, o seu título de HOMÃO.

O HOMÃO é orgulhoso. Fala de humildade mas não se humilha. Fala de Deus mas não o glorifica.

O verdadeiro Homem, Jesus Cristo, venceu até a morte, mas nunca se vendeu como HOMÃO. Sabia cortar e lixar madeira, mas nunca fez propaganda disso. Era bom, justo, correto, mas nunca glorificou a si mesmo. Fazia milagres em nome do Pai, não em seu próprio nome. Quando foi preso, o apóstolo Pedro — ainda usando seus atributos de HOMÃO — cortou a orelha do guardinha na espada! E foi repreendido na hora por Cristo.

Eu sei que cada um tem — ou não — a sua religião, mas creio que Cristo deveria ser o exemplo masculino que não tivemos. A Ele que deveríamos estar seguindo. Eu proponho a todos os que sentirem seus corações tocados, a jogar fora o seu ídolo, a sua idealização de HOMÃO.

Que, a partir de hoje, nasça uma nova geração de homens, que se espelham em Cristo, que procurem conhecer, verdadeiramente, o que ele dizia e pensava, mas que também aceitem a sua própria fragilidade humana. Uma geração que conserva carros e fura paredes, sim. Mas faz isso para a glória de Deus e não para se achar mais homem que os outros. Uma geração humilde, não caricata. Uma geração pautada na Bíblia, e não nas páginas dos “homens héteros”. Uma geração, aliás, que é hétero por que assim Deus os fez, e não por vaidade. Uma geração que entende que não há glória alguma em ser hétero. Uma geração, inclusive, que consiga dialogar com os não-héteros, em dias de ideologia de gênero e transmitir-lhes, humildemente, a Palavra da Verdade, a Salvação em Cristo.

E os HOMÕES? O que será deles? Que eles se resumam aos personagens dos filmes, que a cada dia ficarão mais sem sentido, desde que nossos exemplos deixem de ser os mercenários que recebem para matar, e passe a ser Aquele que pagou com a própria vida para que todos vivam.

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