Mais um rant de um cristão contra o Porchat

Matemática tenebrosa: Para cada textão de reação a mais, um texto de Evangelho a menos

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readDec 23, 2020

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“Olhe lá, crente: o diabo em forma de gente”.

Eu poderia usar esse texto para falar sobre alguma verdade bíblica. Eu poderia falar sobre o amor. Sobre como “amar ao próximo como a ti mesmo” é o que temos de mais próximo de “a solução para todos os problemas do mundo”.

O amor é uma unanimidade. Qualquer pessoa, de qualquer credo, raça, nacionalidade, time de futebol… há de concordar com a necessidade do amor. Não há ateu que não creia na força do amor, da bondade e da doação.

Poderia falar do amor, mas não. Mais uma vez, rendido pelo mainstream, estou eu aqui, irado, porque algum artista, youtuber, político ou sei la, falou que não crê na Biblia, em Deus ou falou mal de nós, evangélicos, “a menina dos olhos de Deus!”.

Mas, olha só: antigamente, nós iniciávamos os assuntos. Um louco, com a bíblia na mão, ia gritar lá na praça que “Cristo está vindo! Arrependei-vos”. Ele era o assunto. Ele iniciava o assunto. Todos que passavam ali, crentes ou não, criticando ou apoiando, tinham que reagir a pregação. Era impossível ficar indiferente.

Hoje, tudo mudou. Já não iniciamos a conversa. Já não somos nós quem escolhemos o assunto. Agora, tudo o que fazemos é reagir ao discurso alheio. Porchat falou que não crê em Deus? Lá vou eu. Porchat lançou o filme do Cristo gay? Lá vou eu de novo. Porchat lançou mais um vídeo falando mal de Deus? Me segura…

Reparou no que está acontecendo aqui? Já não falo mais daquilo que eu quero, mas daquilo que eles querem. Já não inicio mais o assunto, apenas reajo. Já não falo mais do amor e de como Cristo foi a personificação perfeita desse amor. Já não tenho mais tempo pra isso, entre um rant daquele filme da Netflix, um textão da última bobagem do Bolsonaro ou do último absurdo daquele pastor.

Vejo gente extremamente dedicada e competente na pregação do Evangelho, mas que vive amordaçada pela sindrome do reacionismo. Desde famosos youtubers até pessoas do meu circulo social. Já não se fala mais do amor de Cristo. A Bíblia, outrora “poder de salvação para aquele que crê” (Romanos 1), agora foi reduzida ao pedaço de pau que os crentes de internet usam para contratacar ateu, militante, esquerdista, LGBT, feminista… Enfim, a lista é longa.

E em cada rant, ficamos cada vez mais desfigurados diante do mundo: queremos falar de amor, mas só agimos com ira; queremos falar de misericórdia, mas nas nossas respostas só há violência; fomos comandados por Cristo para pregar o céu, mas com as nossas bocas só condenamos ao inferno.

Não sei se você já assitiu uma luta de boxe, MMA ou qualquer outra partida esportiva: quando o lutador deixa de dar o primeiro soco e apenas começa a tentar reagir ao socos e pontapés que leva do adversário, já não é mais ele que impõe o ritmo da disputa, o seu estilo de jogo. Na verdade, ele está prestes a sofrer o nocaute, xeque mate, touchdown ou seja lá o que for.

E é assim que o cristão de hoje se encontra neste ringue: atordoado, socando o vento, disparando versículos e citações de teélogos famosos contra tudo e contra todos: é o gay que não pode casar, é o politico de esquerda que não pode ganhar a eleição… Até o libertarianismo e porte da armas já tem fundamentação bíblica em muitas bocas por aí. Só não se fala mais da salvação, da redenção, do convite ao arrependimento. Xeque mate.

Um ditado cristão antigo que eu muito gosto é “Deus é como um leão: não precisa de defensores, apenas abra a jaula”. Nos tempos antigos, também, nossos avós falavam que “um dia a Palavra seria tirada das igrejas, e ninguém mais poderia pregar”.

Bem, não sei se vocês estão reparando, mas esse dia já chegou: já tiraram a Palavra da nossa boca. Agora, só o que resta é o rant contra todo e qualquer um que falar um ‘a’ contra a nossa idolatrada religião. Que Deus tenha piedade de nós.

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