O crente “ABNT” e suas loucuras teológicas

O que o “xovem” sociólogo universitario de esquerda e o “xovem” teólogo universtário de direita têm em comum? Muito mais do que imaginamos…

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readNov 15, 2023

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Photo by Gustavo Boaron on Unsplash

Esse texto não tem qualquer base científica e não está referenciado por qualquer literatura acadêmica, assim como todos os outros textos desse blog.

É que a vida vai além da academia. A conversa da fila do banco, ou do boteco, não acontece amparada pelas teses de faculdade.

Só quem já passou quatro horas diarias da sua vida sentado em um banco universitário ouvindo o que os teóricos tinham a dizer sobre o mundo, baseado em seus livros, e depois viu na prática o que se comentava nas conversas de estação de metrô, sabe do que estou falando.

Aliás, está aí um belo exemplo: o arquetipo do “sociólogo esquerdista que se diz especialista em pobre porque leu teóricos europeus o suficiente para isso”. Vou iniciar com esse personagem porque ele é bem conhecido nos nossos dias. O sujeito estuda pobres nas universidades, mas quando toca o sinal, entra nos seu sedã médio, passa na Starbucks, pega um café aguado e vai para sua vida não menos aguada em algum bairro de classe média do país.

O mais perto que chega da vida do pobre da vida real é a pobre Maria, diarista, que vem limpar sua casa duas vezes por semana. E, olha que incoerência: o sujeito passa metade da vida escrevendo sobre como pretos e mulheres deveriam serem valorizados, mas barganha cada centavo com a pobre Maria. Afinal, a viagem para Miami — simbolo da burguesia brasileira que ele diz tanto odiar — não se paga sozinha, não é mesmo.

Dado esse exemplo acessível, trago aqui mais um ovo da mesmo cesta: o arquétipo do “teólogo que se diz especialista em cristianismo porque leu teólogos americanos o suficiente para isso”.

Estudam crentes nas universidades, colocam igrejas inteiras no seu tubo de ensaio, fazem a prova dos nove, e por A+B decidem quais igrejas “são de Deus” e quais não são; o que o Espírito de Deus pode e não pode fazer.

Pré ou pós milenista? Continuista ou cessacionista? Arminiano ou calvinista? Em uma série de etiquetas, te definem como conhecedor da Verdadeira Graça ou em um tolo participante de uma seita. O movimento pentecostal, que com todos os seus defeitos, foi o verdadeiro motor do evangelho no país, alimentando os pais desses que hoje se dizem “reformados”, hoje é motivo de chacota, de meme. Respeitam muito os Spurgeons imaginários e desprezam muito as tias do coque de carne e osso.

O que parece não estar nas ementas desses estudos é que o amor deve ser “praticado na prática”. Ainda que eu fale a lingua dos homens e dos anjos, sem o amor, minha exortação de sabedoria, recheada da melhor exegese e coberta da mais bela hermeneutica, não passa de barulho.

Apesar de todos os defeitos, a “igreja do surf”, a “igreja do véu”, a “igreja da exegese” e a “igreja do fundo preto” são cristocêntricas se — e enquanto — confessarem Cristo como seu único Salvador. Usar os traços culturais e de época que separam suas liturgias como condicionais para definir onde Cristo pode entrar, além de loucura, é a manifestação do sectarismo que está no nosso DNA protestante, gostemos ou não.

Cabe a nós reconhecer essa nossa fraqueza e tentar combatê-la. Passar uma maquiagem acadêmica nesse nosso pecado só serve para dar razão aos que pregam por ai que “a letra mata”: a exegese do coitado está errada; mas o coitado, que nem sabe o que é “exegese”, talvez nem esteja.

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