O final “messiânico” de “Power Rangers: Fúria Cósmica”

Contém Spoilers de Power Rangers: Fúria Cósmica

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readAug 28, 2024

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Metáforas cristãs em estórias ocidentais não são tão incomuns assim. Temos as clássicas, como as “Crônicas de Nárnia” do anglicano C.S. Lewis que, propositalmente, é uma alegoria cristã. Também sabemos das influências católicas do católico J.R.R. Tolkien em “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis. Como disse, essas são as clássicas.

Mas pequenas metáforas cristãs também estão espalhadas pela arte ocidental, seja propositalmente — como os casos acima, onde os autores eram cristãos declarados — , seja em situações que beiram a coincidência ou a influência do pensamento ocidental, calcado no cristianismo.

Por exemplo, a figura messiânica do Super-Homem é, talvez, uma das mais famosas desses casos de influência, como o próprio diretor Zack Snyder, que dirigiu o filme “O Homem de Aço”, reconhece.

Não é difícil associar características como sacrifício, altruísmo, coragem e inadequação com o status quo, tão presente no arquétipo clássico do herói, com aquilo que aprendemos de Cristo.

Dito isso, é hora de morfar! (daqui pra frente, spoilers)

No fim da segunda temporada (a última sob o nome “Dino Fury”), a solução da história se dá quando Zayto sacrifica os Zords e a si mesmo para enfraquecer o monstro Nêmesis e permitir a vitória dos Rangers. Mas, como último ato dessa segunda temporada, Zayto volta para avisar que o Lord Zedd, vilão clássico da série, esta à solta.

Assim começa a terceira temporada, onde Zayto, ainda que participante, não aparece mais como o líder da equipe. No oitavo e antipenúltimo episódio, descobrimos que seus dias na Terra estão contados e que logo ele sofrerá a sua “ascenção”.

A profecia se cumpre no último episódio da série, quando ele ascende para os Mestres da Morfagem, não sem antes deixar aberta a esperança da redenção do Zedd, o pior inimigo de todos os Rangers. Isso, inclusive, motiva a forma como ele derrota o vilão.

A despedida de Zayto, inclusive, onde ele “abençoa” os demais Rangers, prometendo sempre estar com eles, lembra bastante a despedida de Jesus em Atos 1.

Mas, até onde podemos considerar “intencional” as referências messiânicas nas histórias que assistimos e lemos?

A menos que o autor se manifeste, declarando a intencionalidade em messianizar sua história, a verdade é que não é possível.

Gosto de pensar nisso mais como a inevitável influência de uma cultura cristianizada, com os seus 2 mil anos de idade, em peças criadas neste ambiente. Não é diferente quando, por exemplo, encontramos traços da mitologia grega, tão influentes em nossa formação cultural, em nossas histórias.

É necessário ir com calma. Viéses de confirmação existem, e o “mecanismo” que nos faz ficar procurando referências cristãs em tudo é o mesmo que nos faz ficar procurando mensagens subliminares por aí, como bons conspiracionistas.

Por exemplo, é necessário pontuar que as ditas referências cristãs em Power Rangers Cosmic Fury citadas aqui não passam de pequenas pílulas. Em nenhum momento a estória intenciona se mostrar como uma completa alegoria cristã.

Mas é sim, bem interessante, perceber essas nuances que, em gotas, permeam a arte nossa de cada dia, seja de maneira explicita e intencional ou não.

Adendo

Não dá pra falar de “Power Rangers Cosmic Fury” em um blog cristão sem citar que esta é a primeira temporada da série que contém um casal declaradamente homossexual em sua trama.

E como esse costuma ser um assunto bem sensível, daqueles que sequestram nossas amígdalas, seja lá em que lado da guerra cultural que estivermos, penso que podemos ter um texto inteiro apenas para tratar disso.

Dica de leitura: para completar o fio sobre a influência cristã nas obras de Lewis e Tolkien, segue esse texto da Editora Ultimato, que traz a conversa entre esses dois gigantes da literatura sobre este assunto.

Este texto pertence à seção Areopagus, que é o nosso mix entre cristianismo e cultura pop. Gostou? Tem mais aqui. Aproveite!

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