O problema moral da maconha e outras drogas pode ser resolvido na esfera politica?

O que a igreja faz e poderia (voltar a) fazer para contribuir com esse tema?

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readJun 26, 2024

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Photo by manish panghal on Unsplash

Diferente do texto desta mesma série sobre aborto, quero começar com ponderações:

  • O uso medicinal, cientificamente comprovado, seja da maconha ou de qualquer outra substância não deveria ser tabu. Uma vez que o uso é por motivos de saúde, o que deveria haver é regulamentação: receitas controladas, fiscalização da Anvisa e tudo o que já ocorre em relação a outros tanto remédios com poder viciante.
  • A liberação do porte de drogas sem que haja a liberação para cultivo e venda é preocupante. Se posso ter, mas não posso comprar e ninguém pode vender, o que vai acontecer? Tráfico.
  • A discussão sobre quem teria a competência para tomar esse tipo de decisão (se é o legislativo ou o judiciário), desde que os viéses político e ideológico fiquem de fora, é bastante saudável para entendermos e fortalecermos a democracia. Vale a pena estudar mais sobre isso.
  • Outra ponderação que precisa ser feita é que uma determinação legal de quanto de maconha se pode portar ajuda a eliminar o critério social e racial utilizado para punir. O filho do rico em festa rave normalmente não é preso e indiciado por tráfico se pego com meia duzia de cigarros de maconha. Já não podemos dizer o mesmo sobre o pobre, preto e favelado.

Ponderações feitas, podemos continuar

Mais uma vez: diferente da questão do aborto, o problema das drogas não é apenas de esfera pessoal. Do narcotráfico às cracolândias, cada usuário de droga faz parte de uma rede de problemas que atingem a todos. Portanto, a legitimidade da discussão política aqui é inquestionável.

Mas, como igreja, de que forma podemos agir para tratar esse problema para além da esfera política e seus jogos partidários e ideológicos?

Pergunto isso porque, por mais legítima que a atuação política seja, no fim tudo acaba virando ideologia, “narrativa” e ferramenta para alimentar ainda mais a guerra entre direita e esquerda para manipular votos.

A igreja sempre foi muito ativa na atuação contra o problema das drogas. Desde o financiamento de centros de recuperação, atuação em presídios e reformatórios e até mesmo oferecendo outras opções de vida para o jovem de periferia. Muitos de nós podemos dizer que fomos salvos das drogas previamente, pelo simples fato de termos sido abraçados pela igreja na nossa adolescência.

E é aqui eu acredito que esteja o nosso principal potencial. Sermos igreja, da forma mais simples e objetiva. A igreja é uma das poucas instituições que entram no reformatório e oferece salvação, independente de quantos celulares o adolescente tenha roubado para comprar droga. A igreja que oferece tratamento médico e alívio espiritual para aquele que quer ajuda pra sair. A igreja que chega primeiro que o traficante na vida do jovem. A igreja onde o jovem pode levar o amigo da escola, da vizinhança. Uma igreja sadia, amiga, sem “terraplanismos” e loucuras políticas. Um local onde vamos conhecer e estar com Jesus. Simples assim.

Quem diria que, mais do qualquer decisão tomada na Praça dos Três Poderes, o amor de Cristo seria o remédio mais efetivo e mais gostoso contra qualquer mal?

Na verdade, precisamos corrigir essa pergunta: quando foi que deixamos de acreditar nessa verdade?

Saudade dos tempos em que o nosso Evangelho era mais simples, sem os badulaques ideológicos que só trazem cansaço…

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