Personagens LGBT nos desenhos dos nossos filhos: o que fazer?

Como transformar o medo em oportunidade para mostrar aos nossos filhos o “Evangelho fora da bolha”

Bruno A.
o mundo precisa saber
5 min readAug 25, 2024

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Episódio “Families” de “Peppa Pig” (2022). Foto: Divulgação/Channel 5 Television / Pipoca Moderna

“Em Peppa Pig, um dos mais populares desenhos infantis, um dos amigos de Peppa tem duas mães — personagens introduzidos em 2022. Em Power Rangers: Furia Cósmica (2023), duas das Rangers mantém um relacionamento. Como cristãos, como lidar com essa nova realidade?”

Precisamos começar esse texto assumindo algumas verdades (que em tempos de “pós-verdade”, é necessário que se diga que são) universais.

Verdade nº 1: “Não viveremos, para sempre, em nossas bolhas particulares”

Podemos até viver em nossas bolhas familiares, religiosas, ideologicas, virtuais, fandons, clubes e fã-clubes. Mas basta pisarmos em uma escola, universidade ou no chão da empresa e pronto! Estaremos exposto ao mundo “inseguro” frequentado por pessoas de todos os tipos, que trazem todos os tipos de “verdades”, crenças, culturas e costumes, que, neste caso, já não interessam se são erradas ou certas: teremos que aprender a tolerar e conviver, em nome da paz.

Verdade nº 2: “O pecado não é uma invenção marxista”

Muito antes de haver mídia, adolescentes, Elvis, hippies, Simone de Beauvoir, Karl Marx, Revolução Francesa ou qualquer outra coisa que que a retórica do “marxismo cultural” nos pregue como “ o inimigo a ser alvejado”, o pecado — em toda a sua completude — já existia e sempre existiu.

Uma leitura simples da Biblia deixa claro como “não há nada novo embaixo do sol”.

E os filhos de todas as gerações, mesmo sem televisão, viram e tiveram contato com o “mundo de pecado” do qual queremos proteger nossos filhos à qualquer custo.

Verdades ditas, comecemos.

A compreensão do “problema”

Já faz uns dez anos, mais ou menos, que ouço “nos corredores da internet” que existiria uma intenção de incluir personagens LGBTQIAP+ (que para efeito de praticidade, daqui pra frente, nesse texto, chamaremos de “LGBT”) em todos os tipos de produção, inclusive as infantis.

Nunca procurei saber o quanto de verdade havia nesses boatos. Mas sempre entendi que este seria um desdobramento normal e inevitável de um mundo onde pessoas LGBT estão saindo da invisibilidade e subrepresentação, inclusive nas histórias de ficção que consumimos.

E embora eu seja cristão, evangélico, também sempre entendi a validade disso tudo. Como cidadãos que trabalham, pagam impostos e contribuem para a sociedade, nada mais justo que exigir o seu direito de “sair na foto”. E penso que em nada isso atinge a minha teologia sobre sexualidade, comum a maioria dos cristãos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

E sobre subrepresentação, até mesmo eu reclamei — e muitos cristãos reclamam — quando evangélicos são subrepresentados e esteriotipados em produções de ficção. É de doer.

Mas percebi que, o que pra mim era “boato”, na verdade já é realidade. E percebi isso a partir do momento que tive meu filho e comecei a assistir desenhos com ele.

Em “Peppa Pig”, um dos mais populares desenhos infantis, um dos amigos de Peppa tem duas mães — personagens introduzidos em 2022. Em “Power Rangers: Furia Cósmica” (2023), duas das Rangers mantém um relacionamento.

Em “Power Rangers: Fúria Cósmica” (2023), as personagens Izzy e Fern mantém um relacionamento

Como lidar com o medo

A família certamente é um ponto que sequestra facilmente a amígdala de qualquer cristão. Não sem motivo, pastores e políticos usam esse medo como plataforma para capitalizarem views e votos. E a ideia de termos nossos filhos expostos a temática (e suposta influência) LGBT, com certeza, tira o sono de muito crente.

Mas, como dito no início desse texto, não conseguiremos viver nas nossas bolhas particulares em 100% do tempo. Em algum momento teremos que sair e lidar com o mundo externo e suas realidades. E isso é verdade para nossos filhos, também.

Por mais que você possa — e tenha total direito — de impedir que seu filho tenha acesso a amiga da Peppa Pig com duas mães, o que você fará à respeito do amigo real do seu filho na pré-escola, que vive com duas mães?

Por mais que você possa — e tenha total direito — de impedir que seu filho tenha acesso as Rangers que são namoradas, o que você fará quando seu filho chegar à adolescência e relatar sobre suas colegas namoradas na vida real?

O medo não vai te salvar. Penso que mais saudável é introduzir aos nossos filhos o mundo como ele é.

Meu filho, de 4 anos, assiste a tudo isso e ainda não percebeu que precisa fazer perguntas sobre isso. Logo, não serei eu a forçar o amadurecimento dele. Estou respeitando seu tempo.

Mas logo, com certeza, as perguntas começarão a chegar: seja por causa do desenho ou da vida real. E, como pai, terei que responder, observando não apenas os princípios da sexualidade cristã, mas os princípios cristãos, como um todo.

O que eu quero dizer com isso?

Quero dizer que será possível aproveitar esses momentos para explicar que, no mundo, pessoas são diferentes, vivem e acreditam em coisas diferentes. E que é possível propor uma convivência pacífica com todos, dando e exigindo respeito, sem que isso comprometa a nossa fé.

É uma ótima oportunidade para criar uma nova geração que não cometa os erros que cometemos todos os dias.

Quero que meu filho observe os ensinamentos cristãos em sua completude. Ensinamentos que não falam apenas sobre sexualidade, mas também falam sobre tolerância, respeito, simpatia e empatia.

Nossa bancada promete transformar o mundo em uma grande bolha cristã, “limpa” de tudo aquilo que, segundo seus pastores e gurus, não pode ser considerado cristão. Só que é essa “limpeza” que não tem nada de cristão, nada de bíblico.

Em João 17, como já tratamos aqui, Cristo ora não para que sejamos tirados do mundo, mas para que sejamos protegidos enquanto estivermos nele. Fica claro em Sua oração que não será possível nos fecharmos em uma bolha onde haja “segurança”.

Teremos que sair, pisar na rua, falar e viver com as pessoas, independente do que elas façam, sejam ou creiam, e ainda assim manter o nosso bom testemunho e sermos a oportunidade que muitos terão para conhecer Cristo.

E no Salmo 127, é ensinado que nossos filhos são como flechas. Eles não são fracos e não precisam de toda essa proteção. Pelo contrário: eles são pontiagudos, impossível de serem mantidos nas bolhas que criamos. E como flechas, na mão do guerreiro, como diz o texto, eles terão utilidade e oportunidade para serem e fazerem melhor do que nós.

Logo, quão injustificado é esse medo de que nossos filhos tenham acesso ao mundo como ele é. Ao inevitável mundo, cuja televisão pode até ser desligada, mas as janelas e portas não poderão ser trancadas.

É mais inteligente trocarmos o medo imputado pelos nossos políticos e seus gurus — medo esse que é o primeiro estágio do pecado do ódio — pela confiança no Guerreiro que manuseia nossos filhos como flechas, que seguirão pelo Caminho determinado por este Guerreiro, e não se desviarão.

Já pensou nisso?

Outros textos da nossa série sobre guerra cultural podem ser lidos aqui.

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