Pessoas que não sabem fazer um minuto de silêncio — Leitura em Ezequiel 33
Seja artista ou anônimo, rico ou pobre, crente ou descrente… Diante da morte, a única atitude respeitosa que nos resta é o silêncio
Quando alguém falece, as condolências, o minuto de silêncio, homenagens e todo aquele ritual funeral não é para o falecido, afinal, nem vivo ele está para poder se emocionar ou agradecer a homenagem. Na verdade, todas essas ações são para os familiares, amigos e demais pessoas que o apreciavam.
Da mesma forma, se temos algo contra o morto, não adianta praguejar durante o velório, pois o alvo da sua crítica já não está entre nós com vida. Isso seria um desrespeito aos seus entes vivos.
Outra coisa a se dizer é que a mídia — ainda mais agora, na era das redes sociais — sempre tratou artistas como ídolos, e não como pessoas que são. Isso, por um lado, pode até ser bom pra eles, pois a sua base de fãs é quem sustenta os seus ganhos. Mas o lado nefasto disso é que ninguém mais consegue enxergar o artista como uma pessoa.
Todos nós já escrevemos críticas às pessoas famosas nas redes sociais, mas será que algum de nós já parou pra pensar como se sentiria essa pessoa, ou algum familiar dela, ao ler a fúria da nossa caneta?
No momento em que escrevo esse texto, me lembro do ator Paulo Gustavo, ou do político paulista Bruno Covas, ou ainda do cantor de funk Mc Kevin… Mas, em qualquer época em que você estiver lendo esse texto, poderá se lembrar da morte recente de um famoso e da murmuração nas redes sociais por parte daqueles que acreditam que o falecido não representa os “padrões que acreditamos”.
As redes sociais se inundam de comoção e de ódio proferido por pessoas que nem mesmo os conheciam. Conheciam o ícone, o ídolo, a imagem de um Paulo Gustavo, por exemplo, mas não a pessoa.
Mais triste ainda é ver que muitas delas se dizem cristãs, e afirmando praguejar por uma motivação cristã.
Mas essas pessoas cristãs não conhecem a pessoa Paulo Gustavo. Não sabem se ele foi uma pessoa boa ou ruim. A pessoa Paulo nunca fez nada de bom ou de ruim para ela.
Ou seja, esse pessoa cristã que passou a semana inteira batendo no falecido, na verdade, só teve acesso à imagem do ídolo Paulo Gustavo, o ícone da televisão, o ícone da comédia, o ícone gay. O ícone, o ídolo, a imagem, mas não a pessoa.
E uma vez que uma imagem é capaz de despertar tantos sentimentos assim numa pessoa, temos que ver até onde isso é espiritualmente saudável.
Pra mim, isso cheira a idolatria. Pois o Paulo (o apóstolo, não o ator) fala aos Coríntios que “o ídolo não é nada” (1Co 10:19). Ou seja, se um “ídolo” morre, isso não me causa nem comoção, tampouco irá. Eu penso que está seria uma forma bíblica de agir em casos assim.
E além disso, um cristão de verdade se comove, não com a morte do ídolo, mas com a morte da pessoa. “Deixou familiares? Deixou filhos? Morreu em Cristo? Morreu com a esperança de salvação? E os familiares, como estão? E a criança pequena que vai crescer sem pai, como vai ficar?”. Esses são os legítimos sentimentos que um cristão deveria externar em situações assim. Afinal, Deus não tem prazer na morte de ninguém (Ez. 33:11), não é mesmo?
Enfim, tristes situações assim acabam servindo para mostrar quão idólatra os cristãos brasileiros são. Pois essa repulsa doentia a imagem de uma pessoa desconhecida também é idolatria.
Este é um dos textos da nossa semana de leitura bíblica em Ezequiel 33. Chame alguém pra ler a Bíblia com a gente! Isso nunca foi tão importante.
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