Transformando a graça em desgraça

Se exige pagamento, então não é graça

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readOct 31, 2019

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Photo by Jordan Rowland on Unsplash

Toda religião, de alguma forma, exige algo da gente: equilíbrio, bondade, oferendas, sacrifícios, santidade, etc. Sabendo que nós, humanos, somos pouco dotados dessas características, ser religioso parece ser algo custoso: há uma espécie de “barreira de entrada” que apenas as “almas superiores” parecem estar preparadas para ultrapassar.

Nisto, Cristo — e arrisco dizer que apenas Cristo — trouxe uma inovação, uma disrupção: pela primeira vez, a “barreira da bondade” estava quebrada, e a ligação com o divino estava acessível a todos os pobres de dinheiro e de espírito.

Não é atoa que, nos Evangelhos, vemos Cristo estendendo a mão — e a religião — desde a prostituta e o estrangeiro até o soldado e o cobrador de impostos, os símbolos da opressão do estado romano sobre o povo de Israel, cativo em sua própria terra. Até o samaritano, tido pelo israelita como menos religioso, se torna uma prioridade de Cristo.

“Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra.” — Atos‬ ‭1:8‬ ‭NAA‬‬

O que a história de Cristo deixa bem clara é que o acesso a Deus é gratuito: não é necessário você ter um padrão moral ou financeiro elevado. Todas as nossas religiões nos fazem acreditar que, de certa forma, precisamos evoluir espiritualmente para tocar o transcendental. Cristo inverte a ordem: o homem PRIMEIRO alcança o transcendental — ou melhor: é alcançado pelo transcedental — e então é transformado. Por isso que o acesso só poderia ser gratuito.

““Ah! Todos vocês que têm sede, venham às águas; e vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam! Sim, venham e comprem, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.” —‭‭Isaías‬ ‭55:1‬ ‭NAA‬‬

O que Cristo propõe é tão escandaloso que nem mesmo nós, seus seguidores, conseguimos compreender. De certa forma, independente da nossa denominação religiosa, nós ainda trazemos um pouco (ou muito!) da antiga religião para dentro do ensino de Cristo.

Hoje, gastamos pequenas fortunas comprando uma série de acessórios (livros, cds, etc.) que acreditamos que ajudará em nossa fé, ou sustentando igrejas em doações porque acreditamos que este é um dever ou pagando ingressos para “congressos” para ouvir pregações selecionadas por pastores que acreditam que DEVEM estar a serviço de partidos e ideologias.

A igreja de hoje acredita que DEVE combater a militância gay, a militância abortista, o comunismo, o globalismo, o petismo… E a lista de “inimigos” parece só aumentar.

Mas, uma igreja que acredita em DEVERES para ter uma moral mais próxima de Deus, e que acreditam que precisa PAGAR para garantir salvação está em total desacordo com a GRATUIDADE do reino de Deus revelada por Cristo. Este cristianismo não é diferente das religiões que eles tanto combatem: dão oferendas, cumpre rituais e missões para serem aceitos por Deus.

Quando Cristo salva a mulher adúltera (João 8) ela ainda é adultera. Quando Filipe prega e batiza o eunuco (atos 8), ele provavelmente ainda não tem o padrão sexual que a Bíblia nos mostra em Gênesis. Quando escreve aos Efésios (cap. 6), Paulo considera tanto o escravo oprimido como o senhor opressor, sem acepções. A fé é que a Graça de Deus colocará tudo e todos em seus devidos lugares, não no tempo e na maneira que acreditamos ser certas, mas aos modos de Deus.

Quando exigimos a nossa moral para quem vem de fora, estamos criando barreiras. Nosso evangelismo se torna hipócrita. Estamos largando o “ide” de Cristo e estamos fortalecendo as paredes da nossa bolha, que acreditamos que DEVE ser forte e resistente e ter presença política o suficiente para impor a nossa verdade sobre o mundo.

Basta uma leitura mais cuidadosa da Bíblia e veremos que quem implantará sua verdade ao mundo através da política é o anticristo. De fato, essa “des-graça” com códigos morais, partidos políticos e códigos de barras que está sendo pregada é totalmente anticristã. Sinal dos tempos?

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