“Sargento Pincel": Roberto Guilherme e seu contraditório “humor contra os deuses" da ditadura

Uma aplicação pratica sobre como usar o humor para derrubar deuses dos pedestais

Bruno A.
o mundo precisa saber
2 min readNov 10, 2022

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Roberto Guilherme, o “Sangento Pincel” — fonte:

Não faz muito tempo que escrevi aqui sobre o canal Tolezuando e seu "humor contra os deuses" durante as eleições de 2022.

O recente falecimento do ator Roberto Guilherme me fez lembrar que um dos seus principais personagens seguia a mesma linha.

O Sargento Pincel, personagem do programa "Os Trapalhões", era meio burro. Como uma autoridade, sempre tentava fazer valer o peso da sua farda para impor a lei e a ordem. Mas como respeito e liderança não se impõe, mas se conquista, Pincel era frequentemente feito de bobo pelo quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

E a crítica era perfeita. Um programa onde a figura de um militar era sutilmente zombada diante da massa em frente a TV, em um país dominado por um regime militar que caçava e matava artistas ou qualquer outro CPF que rezasse contra sua cartilha. Era a farda tentando impor a ordem, mas sendo ridicularizada, sem perceber.

E a mensagem que deixo é a mesma do texto sobre o Tolezuando: o humor, quando bem utilizado, é uma deliciosa ferramenta para zombar dos deuses de mentira, dos homens que se vendem como deuses, se achando donos da vida e da morte.

Sempre que alguém requisita para si o lugar no pedestal, nosso coração idólatra se sente tentado a prestar culto aos deuses que não são Deus. E o humor é uma dessas linguagens que colocam os homens nos seus devidos lugares.

Como já dizia o apóstolo Paulo, "o ídolo nada é"; e influenciado pelo conto de Andersen, eu completaria: o ídolo não passa de um rei que está nu e ainda não percebeu.

Curiosamente, como pode ser visto no documentário “Tá Rindo de Quê” (2019), que fala justamente sobre como o humor brasileiro resistiu aos anos de chumbo, o ator Roberto Guilherme tinha uma posição "pró-regime". Segundo ele, pelo menos as pessoas "podiam andar com um cordão de ouro na rua sem medo".

A vida e suas contradições.

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