Seleção, clickbaits, “evangelho do algoritmo”

E o que isso tem a ver com a nossa pregação?

Bruno A.
o mundo precisa saber
5 min readJul 10, 2024

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Escrevo esse texto um dia depois do Brasil ter sido eliminado pelo Uruguai na Copa America de 2024, e como de costume, as timelines das redes sociais estão tomadas de títulos chamativos e apocalipticos sobre o desempenho e o futuro da Seleção.

E o ambiente do futebol é um bom objeto de argumento para que o que eu quero falar aqui, pois o que se convencionou a ser chamado de “análise futebolística”, de análise não tem mais nada.

Em cada programa de TV ou canal esportivo, o que se vê é a apelação de cometários cada vez mais emocionais, que apelam à sua amigdala para conquistar sua audiência.

Quem dera se fosse só futebol…

Fazendo valer a velha máxima de que o “futebol é a coisa mais importantes entre as menos importantes”, este costuma ser um bom termômetro para muitas coisas no nosso dia a dia.

Não é só o noticiário futebolístico que está a cada dia mais apelativo e acéfalo. É o noticiário como um todo. E não só o noticiário. Tudo, de filmes a pregações cristãs: vale mais a forma do que o conteúdo, pois é o primeiro quem trás mais popularidade. Vale, desde subir ao púlpito da igreja vestido de Chapolin Colorado até uma thumbnail de um famoso teólogo prometendo tirar a dúvida “cristã” sobre poder ou não lamber o pé da namorada.

Repare que eu não estou criticando aqui os conteúdos. Subir ao púlpito fantasiado não significa, necessariamente, fazer uma pregação ruim; praticas sexuais tidas como “não convencionais” pela puritana moral cristã podem sim ser uma dúvida a ser respondida; e, de fato, o futebol da Seleção, desde 2002, só piora… Mas, veja como o conteúdo precisa, cada vez mais, ser validado pela forma. Não basta ser, tem que parecer. E, pior, tem que parecer algo bem idiota, senão, não performa.

Clickbaits não são de hoje

Quem lembra de ter vivido no século 20, também se lembrará das manchetes de jornais e revistas escandalosas, que nos faziam parar em frente as bancas de jornais e perder bons minutos naquilo que era o mais parecido com as timelines de internet que tínhamos à época.

Não muito diferente, as legendas de televisão, principalmente nos telejornais vestpertinos, tinham que ser alarmantes ao ponto de nos fazer parar naquele canal, acreditando que o fim do mundo estaria sendo anunciado ali, “ao vivo e exclusivo”.

Quando viramos o ano 2000, foi a era dos portais de internet e blogs. Os títulos apelativos das bancas foram transferidos para as telas dos computadores. Afinal, a quantidade de cliques era a principal métrica de sucesso desses veículos.

Mais os anos 2010 nos troxeram a face mais nefasta dos clickbaits. Agora, com as redes sociais, eles são a porta de entrada para que os algoritmos de hiperpersonalização entendam nossas preferências e nos tragam o “mais do mesmo” que nos mantém viciado nas telas.

Dessa forma, não interessa quão profundo e inteligente seja o seu conteúdo. O título e a thumbnail apelativa se tornaram obrigação.

Quando a forma supera o conteúdo

Mas, quem dera se essa lógica nefasta se limitasse a contaminar o formato dos nossos títulos. Os conteúdos também estão indo pelo ralo. Filmes, por exemplo, não podem mais se aprofundar em seus roteiros. É necessário manter o visual que garante o sucesso. Vale mais bombas explodindo sem sentido na tela do que diálogos que nos ajudem a compreender a complexidade da estória e de suas personagens. Isso vale para séries, para música e para qualquer outra produção criativa.

E, infelizmente isso alcançou as pregações. Quando se sobe ao púlpito sabendo que há celulares filmando e que é necessário performar nas redes sociais, a métrica de sucesso se torna o número frio de algum dashboard. Já não importa mais a verdade da Palavra, a assertividade da mensagem, e sim o “viral”.

Cristo, o Conteúdo sem forma

Isaías (53) nos ensina sobre um Cristo que não era um clickbait. Ele não tinha forma. Não era chamativo. Sua thumbnail passaria despercebida no barulho do “clique aqui” da internet de hoje, assim como a pregação sobre esse Cristo “ordinário” não causou alarmes na época em que Isaías pregou (53:1).

Mas esse Cristo cuja forma não agradava, era o Conteúdo em pessoa. Trazia em si o próprio Deus, que tudo criou e que tudo está disposto a salvar.

E esse Conteúdo em pessoa, em nenhum momento, se preocupou em performar. Se seus necessários e urgentes milagres chamavam a atenção, as suas duras palavras repeliam. Seu discurso não se preocupou em se adequar as bolhas religiosas e políticas da época, de forma que, quando o empurraram para cruz, tanto o estado quanto o povo lavou as mãos.

De fato, escolher o caminho do Conteúdo não é fácil. Não haverá métricas de sucesso para te salvar. Quando seu conteúdo te colocar em apuros, não haverá padrinhos para te dar fuga. Você terá que confiar que a Verdade te libertará.

Finalizando

Sendo assim, a reflexão está ai, principalmente para nós, criadores de conteúdo. Escolheremos as formas deste mundo ou o Conteúdo que salva? A tentação é grande, mas a mensagem de Romanos 12:1 também é.

Não vamos nos conformar! Afinal, o Conteúdo (com “C” maiúsculo) é rei.

Este texto pertence à seção Areopagus, que é o nosso mix entre cristianismo e cultura pop. Gostou? Tem mais aqui. Aproveite!

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