Simeão, chamado Níger: o profeta “branqueado” da igreja primitiva

Se eu falar em “teologia do branqueamento", vou ser chamado de “progressista"?

Bruno A.
o mundo precisa saber
3 min readNov 17, 2022

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Simão Niger em jejum e oração juntamente a Barnabé, Lúcio de Cirene, Paulo e Manaém. Ilustrações da Bíblia por Jim Padgett, 1984 — Fonte: Wikipédia

Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé; Simeão, chamado Níger; Lúcio, de Cirene; Manaém, que tinha sido criado com Herodes, o tetrarca; e Saulo.

Atos 13:1 NAA

Simeão, chamado “Níger”. Palavra essa que, segundo muitos comentários bíblicos — e até mesmo uma busca na internet pode comprovar — faz referencia à cor preta da pele de Simeão. Dessa forma, supõe-se que este foi um gentil (adjetivo dado à pessoas de origem não-judaica) africano ou afrodescendente, que como o próprio texto de Atos diz, tinha uma posição de ensino na igreja da Antioquia (região atualmente pertencente à Turquia).

E isso — uma pessoa preta em uma posição de ensino dentro da igreja primitiva cristã — é um fato importante e historicamente omitido. No Brasil de hoje, a maior parte dos negros são pentecostais, e vice-versa. Mas, quase ninguém tem conhecimento da existência de que um mestre preto acompanhava Paulo no ministério da igreja primitiva.

E isso não é uma problematização, e sim uma “solucionação". É de domínio público a ciência de que a religião foi uma das principais ferramentas de segregação no Ocidente. Com o aval espiritual de Roma, os europeus iniciaram a exploração do tráfico humano na África. E os protestantes, apesar de rever muitos erros dos católicos, confortavelmente escolheram deixar este erro passar. A Holanda protestante, por exemplo, liderou o tráfico de pessoas pretas por séculos.

Até mesmo após o fim do tráfico humano para fins de escravidão, o cristianismo continuou sendo utilizado como ferramenta de segregação, inclusive para dar subsídio espiritual aos apartheids nos EUA e África do Sul.

E para dar uma validação santa ao invalidável, a religião do “sola scriptura" aceitou heresias como a da maldição de Noé a um de seus filhos, que teria sido o “pai da África" e vetor da “maldição hereditária” contra todos os pretos. Mas o fato de haver um profeta negro na igreja primitiva sempre foi omitido. “Sola Scriptura" é que se diz, certo?

O print abaixo, por exemplo, mostra a descrição wikipediana do Simeão Negro, porém o rapaz ficou branco na ilustração…

Daria pra escrever livros inteiros sobre como a Palavra de Deus foi torcida e desfigurada para caber nos propósitos racistas do Ocidente (aliás, livros sobre isso é o que não falta). Mas não é necessário embarcar em nenhuma aventura teológica para entender as simples palavras de Apocalipse, que diziam de uma salvação para todas as nações, tribos, povos e línguas (Apocalipse 7:9).

Se o plano da Redenção em Cristo envolve todas as etnias, então me parece que na porta do Céu, racistas não passarão.

Que Deus nos limpe desse terrível pecado.

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