Wall-E nos mostra o poder da empatia nas histórias

Boas histórias nos fazem empatizar até com robôs

Bruno A.
o mundo precisa saber
4 min readAug 10, 2024

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Os primeiros minutos do filme de animação Wall-E, certamente, estão entre os mais geniais já produzidos pelo cinema. E ele é tão poderoso que nos faz sentir empatia por um robô.

A empatia, entendida como o colocar-me no lugar do outro, é a chave, não só para a animação da Pixar, mas para qualquer outra história. Pois é justamente este sentimento que nos sequestra para dentro de um mundo que não existe, realista ou fantasioso, com todas as suas felicidades e angústias.

Se você não se sentir no lugar do personagem que conduz a história, o contador dessa história — seja o escritor do livro, o roteirista e o diretor do filme, o compositor de uma música, ou o seu tio no churrasco — falhou miseravelmente no ato de prender a sua atenção.

Antes de continuar falando de Wall-E, vamos falar de humanos. Mas não os mocinhos, e sim os vilões.

Olha só o poder da empatia em “O Poderoso Chefão”, ou em “Peaky Blinders”: histórias tão bem contadas que, quando menos percebemos, nos pegamos torcendo pelo vilão.

Suas atitudes são desprezíveis, mas eles carregam alguns valores em si que achamos tão justos, em comparação com os seus antagonistas desprovidos desses valores, que acabamos nos colocando no lugar deles. Afinal, sempre queremos justiça. Ainda que seja entre o vilão e o mais vilão ainda.

Se até por vilões somos capazes de desenvolver empatia, imagina então pela “vítima"?

Num suspense, como “Corra”, por exemplo, o medo só nos toma porque a narrativa consegue nos sequestrar para dentro da história daquele homem que, vamos percebendo aos poucos que está entrando numa roubada fatal.

E podemos falar de músicas, também. Desde a sofrência que está liderando o Spotify até clássicos como Faroeste Caboclo, o que toca nosso coração é o que nos faz sentir como os personagens retratados.

Quão angustiante é a vida se você está em um relacionamento despedaçado como o retratado em “Graveto” da Marília Mendonça? Quão injusta é a vida de um João de Santo Cristo, carregado pelas circunstâncias para uma traição e morte injusta nesse clássico do Legião Urbana?

E o que dizer da bíblia, que também, além de tudo, é uma obra de arte? Um Isaías, um Jeremias, que escreveram suas profecias em forma de poesia, não o fariam sem o se colocar no lugar de um Deus irado e misericordioso, só pra citar dois exemplos.

Até mesmo no esporte: estamos vivendo o fim das Olimpíadas de 2024, recheadas de histórias de superação que dão um significado além das vitórias e medalhas conquistadas por cada atleta.

O fio que nos conecta ao personagem central de uma história é a empatia.

Não confundir com a simpatia, a atração moral, a afinidade que sentimos por um colega de trabalho que acabamos de conhecer. Eu estou falando da empatia, aquela mesmo que nos faz pensar como o outro deve estar sofrendo, afinal, se fossemos nós no seu lugar, estaríamos sofrendo também.

Agora, podemos voltar ao nosso robozinho, que foi largado só num planeta pós-distopico, onde após lotá-lo até a tampa de tanto lixo, a humanidade pegou uma nave e se mudou.

Aliás, será que, no universo de Wall-E, todos tiveram dinheiro para poder embarcar na nave da salvação? Será que alguém ficou para trás, para morrer em meio ao lixo, porque não tinha dinheiro pra passagem? Olha só a nossa empatia apitando de novo…

Mas, pobre do robô: sozinho, fazendo o famoso cornojob, empacotando quadradinho por quadradinho de tanto lixo, como se nunca fosse conseguir completar sua missão. Que angústia esta, a do trabalho sem fim! E que angústia esta a da solidão, onde até mesmo uma barata pode se tornar companhia!

Ficamos vidrados na tela nesses primeiros minutos, angustiados, pensando no que será da vida daquele pobre robô.

Mas a angústia logo se torna esperança quando aquela nave bonita pousa na Terra, trazendo aquele outro robô, Eva, que tão facilmente simpatiza com o nosso Wall-E, iniciando uma história que mudará os rumos daquele filme.

Sem a tal empatia, é impossível contar boas histórias.

Este texto pertence à seção Areopagus, que é o nosso mix entre cristianismo e cultura pop. Gostou? Tem mais aqui. Aproveite!

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