Sim. Não.
Monossílabos que dão um único destino. Constroem um edifício, desabam um barraco. Comunicam a vitória, manifestam a derrota. Fale “sim” ao amor. Diga “não” ao desprezo. “Não” para abrir os olhos. “Sim” para dormir e não se preocupar com os outros sins e nãos que precisará escolher o dia inteiro.
Palavras bastante aguardadas, em alguns segundos, podem dar lágrima ou sorriso para ela, ele, você.
Existem escolhas sem arrependimentos? Receio me tornar essas pessoas frustradas, que vomitam incertezas e medos. O lado de lá é melhor que o de cá?
Trocaria a palavra “erro” por “experiência”: o amadurecimento entre o “sim” e o “não”. Duas portas de escape, uma dá acesso ao quarto da primavera, a outra, ao leito do verão. Uma se encontra à direita, a outra, à esquerda. Chega o momento de escolher a fechadura: você olha, olha e, num impulso, acessa um caminho.
Hoje, escutei “saudade”, dei um abraço e recebi outro. As pessoas não precisam ir se não quiserem, certo? Se eu for… é ser egoísta tentar levá-las quando sou eu que desejo partir? É que dá uma sensação de abandono com quem me acompanhou por alguns dias, meses, talvez anos.
O problema da mudança é a impossibilidade de levar a casa velha para o novo bairro, e o novo bairro parece ser mais atraente. O estranho é que depois de empacotar todos os móveis e colocá-los no caminhão, percebi que a casa velha ficou espaçosa. Até exala outro cheiro: cheiro de novo numa casa usada, como se o ambiente estivesse se arrumando para alguém. Daqui a pouco, eu serei a visita.
A agonia e tristeza apertam o coração: é a despedida. “Vou embora!”, digo. O “embora” deixou muitas esquinas para trás e rastreou outra porta para mim.
Giro a maçaneta e entro no quarto. A cama velha, na nova casa, parece ser nova também. “Não” para dormir logo e “Sim” para arrumar o guarda-roupa.
