CINENOVA 2020: Destaques e Apontamentos
Terminou, no passado fim-de-semana, a segunda edição do CINENOVA - Festival de Cinema Interuniversitário. Um projecto da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, o festival viu, este ano, um crescimento extraordinário: mais cobertura mediática, mais parcerias, mais eventos e mais de 800 curtas-metragens submetidas, das quais 38 foram seleccionadas para competição. No entanto, mais importante ainda é mencionar a organização do festival. Composta na esmagadora maioria por estudantes universitários em regime de voluntariado, a equipa do CINENOVA mostrou que, mesmo com falta de meios, é possível dar continuidade ao festival, fazê-lo crescer e torná-lo melhor. Estão de parabéns.
Em baixo, deixo algumas pequenas notas sobre os filmes que, para mim, se destacaram ao longo dos dias 5, 6 e 7 de março.
The Loop, de Anna Bolińska (Polónia)
Uma curta-metragem de animação, The Loop mostra-nos o que os nossos gatos fazem enquanto trabalhamos. Por um lado, o caos e ritmo absurdo da cidade e do trabalho; por outro, a paz do campo e da vida (real e imaginária) de um animal doméstico.
No entanto, a mensagem é clara e mais pertinente que nunca: no actual sistema capitalista, o conceito de “tempo-livre” é apagado, deixando de existir para nunca voltar.
A Brand New TV, de Nina Ognjanovic (Sérvia)
A chegada de uma Brand New TV a uma casa onde as notas e as moedas são escassas marca o início do filme de Nina Ognjanovic, indicando também de imediato o tema deste.
A protagonista procura desesperadamente por dinheiro. A razão? Reatar a relação com o seu ex-namorado, que ela assume estar com dívidas. Mas este vive numa casa de luxo e não deve nada a ninguém: o problema não é o dinheiro, é ela. Mas será assim tão simples? Ou será que, numa situação em que a falta de dinheiro é a causa de todos os problemas familiares, se torna impossível não se ser condicionado a pensar que esse mesmo dinheiro pode salvar qualquer relação pessoal?
Bear With Me, de Daphna Awadish (Holanda)
Bear With Me é uma eficaz dedicatória a todos aqueles que vivem ou viveram longe de casa e a todos aqueles que se encontram ou se encontraram numa relação de longa distância.
O que torna a mensagem deste filme tão quente ao coração de quem o vê é o seu estilo. O material filmado é sobreposto por desenhos, o humano torna-se urso e assim, entre danças e viagens, da realidade se faz pintura.
Keep It Light, de Jorn Mampaey (Bélgica)
Na última década, um dos canais de culto no Youtube foi Don’t Hug Me I’m Scared. Visualmente único (isto é, no contexto do seu tempo e da plataforma), a série que contou com seis episódios abordou temas como o digital e a alienação através de uma narrativa dispersa e baseada no contraste e nas semelhanças entre o infantil e o horror.
Podemos considerar Keep It Light um pequeno descendente desses tais vídeos de DHMIS: elementos de stop-motion, terror existencial, o corpo a intrometer-se na fantasia. Depois da aceleração frenética, tudo recomeça como se nada tivesse acontecido. Um mundo assim só pode ser cruel.
Três Perdidos Fazem Um Encontrado, de Atsushi Kuwayama (Portugal)
Vencedor do Prémio de Filme Favorito do Público, do Prémio de Melhor Filme Português a Concurso e Menção Honrosa para Prémio de Melhor Filme, o road-trip movie de Atsushi Kuwayama foi a mais agradável experiência de todas as curtas-metragens exibidas no Auditório 1 da FCSH.
Um olhar exterior sobre Portugal e as interacções que tal gera é aquilo que Três Perdidos Fazem Um Encontrado apresenta com humor e amor. É uma viagem a uma fonte milagrosa, mas é também ouvir histórias de paixões falhadas, encontrar um assassino em fuga, beber medronho com um desconhecido e muito mais. Como é dito no final, a tão procurada água “curou a ressaca e não tanto o coração”. Talvez não haja nada de errado com tal resultado.