Atormento #1: O Homem que Matou a Última Pessoa na Terra
Ele sai de casa.
Mas a casa é meramente uma manta colocada de forma desleixada num deserto onde ele sonha com paredes que o protejam de algo que nem ele sabe se vem mas que tem a certeza de que há de vir porque já veio antes com fúria e com força e com terror e com tudo o resto que o deixa a tremer por sentir aquilo que sente quando deve sentir e por dizer aquilo que diz quando deve dizer como também aquilo que sente quando não deve sentir e aquilo que diz quando não deve dizer porque ele sabe que o verdadeiro desastre é a carne que o prende e não aquilo que veio antes e que há de vir outra vez.
Ele salta do desfiladeiro.
Mas o desfiladeiro é uma escada pelas quais se sobe até às nuvens que guardam um corpo devorado por todas as expectativas que os outros tinham sobre ele ainda que soubessem que a mente dele nunca foi saudável porque como pode uma mente ser saudável se nela estão todos os filmes que ele nunca irá ver e todos os livros que ele nunca irá ler e todas as pessoas que ele nunca irá conhecer e todas as vidas que ele nunca irá viver e como é que essa doença do que não está e se espalha pelo que está pode ser ignorada uma vida inteira?
Ele mata a última pessoa na terra.
Mas essa terra é só a terra.
‘Atormento’ é o título de um conjunto de textos que existem como meio para expulsar ideias e pensamentos da minha cabeça.
#1: O Homem que Matou a Última Pessoa na Terra