Marwin Lima e a Imersão dos Sonhos.

Ruan Henrick
O Ouvido Entre As Paredes do Quarto
10 min readMay 23, 2020

Olá! Bem vindo ao nosso humilde bloguinho :)

Antes de ir ao assunto da postagem de hoje, eu queria dizer que só tenho a agradecer. Desde que comecei a divulgar sobre o projeto, que é o blog, vários artistas (incluindo artistas amigos e outros que nunca nem tinha visto na vida) vieram até mim com o intuito de me ajudar. Eu acho isso extremamente bonito, é algo que eu realmente queria alcançar, o coletivo, a ajuda entre artistas. Saibam que não estão sozinhos nessa luta pela sobrevivência no país onde a cultura é rica, mas pede esmola. Estarei me esforçando nos próximos dias para que todos os artistas que vieram falar comigo possam participar do blog de alguma forma. Por fim, muito obrigado, de novo :)

E como sempre, o mais importante, viva a arte!

Olá! Se você chegou até aqui de propósito, bem vindo a mais uma postagem do nosso bloguinho!

Se foi por acaso, este é o nosso projeto e você é bem vindo!

Na tarde do dia 22, ou seja, nessa sexta (sim, essa sexta absurda e caótica), eu entrevistei o músico Marwin Lima, que há pouco lançou seu novo EP: Vivemos Dentro de um Sonho. Essa entrevista foi bem descontraída, já que eu e Marwin nos conhecemos faz um tempo, então espero que não se incomodem caso em alguns pontos a entrevista se aproxime muito com uma conversa entre amigos, porque foi basicamente isso. Se você quiser acessar o EP do Marwin agora e ouvir enquanto lê a entrevista, você pode clicar aqui. Lembrando que o mesmo link se encontrará ao fim da postagem.

Ressaltando também, que essa é a primeira entrevista que faço dentro desse projeto, outras virão e a próxima pode ser com você! Como mencionei em outros posts, o blog funciona a partir do trabalho coletivo entre nós, artistas independentes. Caso queira participar de alguma entrevista, você pode entrar em contato comigo por alguma das minhas redes sociais ou pelo email (todos se encontram na página inicial do blog).

Obs.: Se você começar a ouvir o EP agora, segundo o Medium, você terminará de ler a entrevista um pouco depois do EP acabar. Experimente! :)

Sobre Aquele Carrossel Que Eu Nunca Fui

Primeiramente, bem vindo ao Ouvido Entre As Paredes do Quarto. Cê é o primeiro entrevistado de todo o projeto. Como se sente?

Sinto-me privilegiado de mais… sei que este blog vai decolar e eu vou poder falar: eu fui o primeiro

Hahaha. Esperemos, esperemos… Então, antes de ir direto ao seu EP “Vivemos Dentro de um Sonho”, eu gostaria que cê falasse um pouco mais sobre você, tipo até onde te for confortável. Tudo bem? Queria que falasse um pouco sobre sua vida, sua rotina, enfim, o que faz da vida.

Ok. Meu nome é Marwin Lima, tenho 18, nasci na cidade de Palmares, mas atualmente moro em Recife-PE. Curso Produção Fonográfica (resumindo para leigos: produção musical hahaha). O que eu mais escuto atualmente é música instrumental: jazz, alguns eruditos, trilhas orquestrais de cinema, mas ainda assim fora do instrumental escuto muita música brasileira. Minha rotina é estudar, dormir e produzir. Gosto de jogar também mas minha era gamer já se foi há alguns anos, a quarentena tá me fazendo revisitar algumas coisas heh…

E… desses 18 anos, quantos são produzindo música?

Faz pouco mais de 1 ano que venho produzindo, visando uma forma mais profissional da coisa, porém desde os 7 já sabia alguns acordes no violão.

Então, desde pequeno cê já tinha contato com a música dessa forma? Tipo, não só como consumidor, mas pelo menos como um “reprodutor”?

Consumidor e aprendiz de violão* hahaha. Minhas influências musicais dessa época vieram dos meus irmãos: Kewin ouvia muita música nacional, principalmente o rock nacional emergente da época e Darwin era mais fã de músicas internacionais e tudo que tava acontecendo por aí… talvez eu seja uma mistura dos dois. Eles acenderam a faísca, mas quase tudo que sei aprendi sozinho.

Uau, super bacana. Eu acho super interessante quando a gente tem esse tipo de influência bem abrangente, isso faz os nossos gostos se expandirem mais.

Com certeza.

E o que cê acha do cenário brasileiro atual? Acha que era melhor nessa época?

Eu vejo muita coisa boa, diversa, mais colorida do que nunca! O que aconteceu foi que a música brasileira atual se acomodou melhor num cenário “indie” pela sua ousadia de querer reinventar o jeito de fazer música. Mas cada época conforta um estilo próprio de acordo com o que acontece no mundo e não é relevante julgar o melhor ou pior.

É um ponto excelentíssimo, eu concordo contigo. Por fim, quais são suas principais inspirações?

Bill Evans, Chopin, David Rose e… Belchior!!! Cada um é um salto de tempo-espaço-geográfico-intercultural, porém é o que me move a ouvir e produzir.

Apesar de ter tido influência dos irmãos na infância, Marwin é auto didata em sua jornada na música, tendo aprendido a tocar piano completamente sozinho. Hoje, Marwin estuda Produção Fonográfica na AESO -Barros Melo.

Só o Que Sentimos Existe

Você antes vinha produzindo alguns singles em lo-fi, que eu sinceramente gostava bastante e agora, de repente, você adotou seu nome verdadeiro ao artístico e publicou esse EP que é super diferente de todos os seus trabalhos anteriores. Eu queria saber como foi este processo, que te fez chegar nisso tudo, o que te levou a produzir algo tão diferente dos seus trabalhos anteriores. Como você chegou em Vivemos Dentro de um Sonho?

Eu ando produzindo lo-fi hip-hop desde quando comecei a aprender técnicas de produção e composição e sempre achei um gênero muito interessante; porém, sempre flertei para outros tipos de música, principalmente o piano instrumental… tendo postado músicas como “O Pintor”, que está no Youtube mas nunca me senti 100% confiante para lançar e divulgar de fato esses trabalhos com toda magnitude necessária, pois foram gravações/produções de quando eu não sabia muito bem do que estava fazendo. Mas o feedback foi sensacional…Mas agora depois de tanto tempo na tentativa e no erro eu me senti bem mais confiante para lançar esse EP, que além do piano tem todo um ornamento orquestral.

Bacana. Eu acho interessante como no EP tem uma riqueza de instrumentos, que seguem uma harmonia tão bem colocadas que se tornam algo… exato. Como uma fileira, enfim, uma orquestra mesmo. Desses instrumentos, você gravou algum de forma orgânica?

Queria muito ter gravado algumas coisas no orgânico em outros trabalhos solo que estou produzindo, como principalmente violino, percussão e clarinete, mas é difícil achar pessoas que toquem, estejam dispostas e engajadas no que eu penso. Esse EP nem sequer passou pela minha cabeça gravar orgânico (foi ainda nesse período de quarentena), foi inteiramente gravado com instrumentos virtuais, ou seja, meu instrumento foi: um teclado MIDI e um computador; já que não tenho uma orquestra debaixo da cama hahaha

Hahahahah. Entendi, foi algo que fiquei imaginando mesmo: “Da onde ele tirou essa orquestra toda?”… Enfim, prosseguindo: Uma coisa que senti quando estava ouvindo o seu EP, é uma imersão enorme, sabe? Parecia que estava entrando em uma viagem de volta a uma infância qual eu não pertenci. Era seu objetivo fazer um EP que fosse construído de memórias? Memórias que, por sinal, acredito que sejam da sua infância.

Com certeza! Respondendo uma pergunta anterior: eu quis assinar meu nome nesse trabalho por justamente ter esse peso pessoal bem evidente… Sobre aquele carrossel que eu nunca fui, eu realmente nunca fui… e nem sei se essa memória existe. O EP é sobre isso. “Memórias que de tão surreais, não sei o que é realidade ou sonho” são esses relampejos de memórias que tenho da infância, eu quis deixar isso bem claro, e acho que quem realmente parou pra escutar entendeu…

Memórias surreais, incrível. Então é mais ou menos por aí que vem a ideia do título do EP?

Quando eu escuto música instrumental sempre vejo títulos bem geniais, alguns exóticos de mais… outros mais simples. Mas acontece de muitas vezes o título, por ser o único meio verbal no trabalho, transmitir ou não a história ou a ideia das músicas. E eu optei por ser bem direto, tanto que muitos comentários de quem ouviu vieram para mim exatamente como o que eu tinha em mente e outros mais distantes. Só o que sentimos existe, o nosso mundo só existe porque sentimos ele! Assim como as cores só existem na nossa cabeça, e não existe a cor “infravermelha” pois nossos sentidos não a percebe… sentimos os sonhos como reais assim como sentimos o chão debaixo da sola de nossos pés. Não falo apenas do sonho que temos ao dormir… a memória é sonho e esse sonho espero que não seja só meu… a vida é irreal. Ainda mais no contexto que estamos vivendo atualmente… tipo… PANDEMIA? Nesse governo que flerta com DITADURA? Parecia ontem que eu tava por aí inventando brincadeiras com meus primos no quintal de casa…

Cara, incrível. Verdadeiramente inspirador. Eu vou carregar essas palavras comigo por um bom tempo. Entrando um pouco mais nas faixas, Eu sinto que elas meio que se completam. As duas primeiras parecem uma faixa inteira, enquanto a terceira me soa como um “baque”, um tropeço que acrescenta no desenvolvimento da essência do EP e o final me parece uma literal finalização, parece que dentro da última faixa, se encontram todas as 4, o que nos leva de volta ao começo, e encerra a obra. Esse efeito, que diria ser algo próximo a um looping, mas que não chega a ser enjoativo como um, foi projetado propositalmente?

Eu compus pensando sempre nos mesmos timbres, e até mesmo em tonalidades e melodias próximas para que soasse uma coisa só… até mesmo a ideia de volume entre as faixas busca influenciar nesse quesito. A questão do “looping” que você citou não foi proposital, mas aparentemente deu certo hahahah.

É, resultou bem hahaha. Pra finalizar, além de bem introspectivo e nostálgico, eu senti que o EP foi feito de forma delicada, cuidadosa. Acredito eu, que tenha sido por conta desse seu passo além, de mostrar mais de seu lado íntimo-pessoal. Penso, como foi esse desenvolvimento, de se libertar das premissas que vem junto com a ideia de se expressar e falar sobre o que existe dentro de si?

Mesmo se não tivessem os títulos para evidenciar a história, a imagem iria dizer tudo. Mesmo se não tivesse a imagem as sensações sonoras iam denunciar TUDO!!! Venho sempre lapidando esse lado da estética (a relação imagem-som-texto) com singles anteriores, o que me ajudou muito agora… Não tem para onde correr. Eu fiquei muito grato por todas as mensagens e depoimentos sobre esse EP mas é sempre muito difícil se expor, externalizar algo tão intimo…

Cara, muito obrigado por participar da primeira entrevista desse projeto. Tipo, obrigado mesmo. Sua presença foi muito importante, não só pra seguir com o projeto, mas pra passar essas mensagens lindas adiante. Eu realmente estou inspirado pelas coisas que você me disse hoje e acredito que não sou o único. Uma última coisa, você tem algo a dizer a quem estiver lendo essa entrevista ou ouvindo seu EP?

Queria dizer que de onde eu venho eu me sinto “a resistência” haha não conheço ninguém que de fato ouça música instrumental, com exceção o lo-fi (que uniu todas as tribos rs). Mas é um universo gigantesco… e que atualmente se perdeu muito desse contato com puramente: sons. Se reflete muito na falta de paciência e sensibilidade da sociedade contemporânea… Aqui fica meu apelo para vocês pararem um pouco e ir ouvir… Bill Evans !!! E tantos outros… é um mundo fantástico, fantástico.

“Só o que sentimos existe, o nosso mundo só existe porque sentimos ele! … Sentimos os sonhos como reais assim como sentimos o chão debaixo da sola de nossos pés… A memória é sonho e esse sonho espero que não seja só meu”

-Marwin Lima

Bem, amigos, esta foi a primeira entrevista d’O Ouvido Entre As Paredes do Quarto. Eu realmente espero que ela tenha sido tão inspiradora pra vocês como foi pra mim. Marwin produziu um EP de fato maravilhoso, e em breve postarei uma análise completa sobre o EP no blog.

Além de ouvir o novo EP do Marwin, não se esqueça de conhecer seus outros trabalhos e se quiser, pode até se aproximar mais do artista seguindo-o em suas redes sociais. Claro, isso tudo se você quiser ;)

Instagram

EP Vivemos Dentro de um Sonho

O Pintor (Single)

Lo-fi Hip-Hop (YouTube)

Lo-fi Hip-Hop (Spotify)

Esta também foi não só a primeira entrevista do blog, como também foi minha primeira entrevista. Então, se você se incomodou com algo, ou acha que algo pode melhorar, por favor comente!

Obrigado por ler! Saiba que quem faz este blog se tornar real é você! Seu apoio aos artistas independentes é preciosíssimo!

Viva a Arte!

Seja e seja Sentido.

-Ar,Tristo

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