Vindit e os Telegramas em Frascos de Relâmpagos.

Ruan Henrick
O Ouvido Entre As Paredes do Quarto
17 min readJun 19, 2020

Olá, se você chegou aqui de propósito, bem vindo/a ao nosso blog! :)

Se chegou por acaso, esse é o nosso blog e você é bem vindo/a!

No dia 29 de Maio desse ano (2020), tive uma entrevista com o artista Vindit, que nessa Sexta, dia 19, lançou seu novo álbum chamado “lightning telegrams”. Eu obtive acesso antecipado ao álbum e após ouvi-lo por um bom tempo, eu e Vindit fizemos a entrevista.

A entrevista foi levemente longa, porém, foi extremamente cativante. O que é compreensível, já que o álbum é longo e carrega um valor sentimental imenso. Eu sugiro que leia tomando algo quente, quem sabe um café ou um achocolatado? Talvez até mesmo um chá, se não for fã de nenhum dos dois. Por quê? Porque o inverno vem aí, e eu aposto que no dia em que essa entrevista sair, o dia vai estar congelando as mãos de todo mundo.

(atualização: aqui tá um sol de rachar!!! Quem dera que eu acertasse nessa previsão.)

Por fim, gostaria de lembrar que o álbum saiu HOJE, isso mesmo, HOJE. Você pode encontrar o álbum clicando aqui ou indo no perfil do Vindit nas plataformas de streaming, onde também estão diversos singles do álbum e outros trabalhos antigos. E claro, antes que eu me esqueça… Boa leitura! :)

A Young Brazilian

Primeiro! Bem vindo ao Ouvido Entre As Paredes do Quarto. Apesar da data de postagem, você é o segundo entrevistado de toda a nossa história. Como se sente? :)

Aaaaaaaaaah!!! Muito honrado. E agradecido.. A proposta é maravilhosa e a primeira entrevista também foi, valeu só de eu ter descoberto o Marwin e entrado em contato com tanta gente bacana. Obrigado por fazer isso acontecer!

Nossa, eu que agradeço haha… Quem faz acontecer isso aqui são os artistas, que nem você! Mas enfim, vamos começar! Antes de falar sobre seu trabalho, acho que é importante que a gente fale um pouco sobre você, sobre a face por trás da sonoridade. Então me diga: Quem é Vindit e qual a sua rotina?

Que difícil de responder hahahah. Pensando nessa quarentena minha rotina tem sido um EAD meio porco e bastantes horas no quarto produzindo. Acho que a única diferença pra antes do caos geral que estamos agora é que ia à noite pra faculdade de Relações Internacionais, que tô acabando. Mas não me pergunta sobre isso porque a crise existencial de estar acabando o curso vem… Sobre minha personalidade: eu acho que sou bem introvertido e não muito comunicativo. Ah, acho que é isso. Difícil se definir haha.

Hahah entendo total, na real. Sempre fui pouco comunicativo também. Então, assim, não querendo entrar nessa parte da faculdade, mas é que tipo, você canta em inglês e faz faculdade de relações internacionais, queria saber qual que é a sua conexão com essa língua, se ela tem mais alguma outra presença dentro da sua vida.

Acho que talvez tenha sim escolhido RI por inglês ter uma presença grande na minha vida, e talvez tenha sido meio inconsciente essa escolha. Mas essa presença grande é real, e eu coloco ela eu mesmo, quer dizer, acho que a língua inglesa já é homogênea na vida de todos e tal e por isso todo mundo geralmente vai aprender ela quando aprende uma língua. Não tem muito como escapar, é delivery, deadline, etc.. Mas desde cedo acho que me adaptei muito ao inglês e a partir daí me joguei no conteúdo sempre nessa língua, inclusive a música. Aliás, acho que foi uma das ferramentas mais úteis que usei pra aprender. E daí acho que naturalmente quando fui me expressar musicalmente me peguei escrevendo em inglês. E tenho certeza de que há um certo complexo de inferioridade (do brasileiro, talvez) presente nessa minha obsessão por me submeter a conteúdo em inglês que por muito tempo tentei lutar contra mas por fim decidi soltar porque ficou muito pesado. É uma questão que passa muito na minha cabeça e já me deixou bem doidinho.

Nossa, ótimo ponto. E eu entendo total. Quando comecei a compor, costumava compor em inglês também. Até que ouvi um CD do Legião Urbana Ao Vivo onde Renato Russo literalmente diz “Estamos no Brasil, temos que cantar portugueix, né?”

Sim! E eu me martelei por muito tempo. Na verdade me martelo até hoje por causa disso, que a maioria da minha escrita é em inglês. Às vezes penso se seria também um mecanismo de me esconder um pouco por trás disso, porque o tanto que me exponho nas letras, se dissesse a tradução literal em português, acho que não conseguiria algumas coisas…

Eu sinceramente acho que não devia, sei que é inevitável, mas a estética que você criou com a linguagem inglesa é super única. E por sinal, depois que ele fala isso, o Renato canta três músicas cover em inglês hahaha.

Obrigado Renato Russo por aliviar minhas noias mentais décadas depois de sua morte hahahaha. E obrigado!

Hahaha disponha! Por sinal, esse é um ótimo ponto, de fato. Essa questão de se expor para o mundo. Escrever em inglês facilita bastante a dar esses passos. Mas uma coisa que estive pensando ultimamente, é que, essa coisa de compor e cantar em inglês, isso te fez atrair público que fala inglês?

Ah, na verdade, eu não sei. Eu não faço muita ideia de público, só sei quem escuta minhas músicas e me segue no twitter e conversamos (e agradeço muito sempre hahaha). Acho que talvez os algoritmos influenciem um pouco, a partir do momento que você coloca no sistema por exemplo do Spotify. Até porque mostra que eu tenho alguns streams a mais nos EUA, apesar de pouco, o que é interessante, mas muitas vezes tenho essa dúvida, que se eu cantasse mais em português eu teria talvez um público maior, por estar fisicamente no Brasil, né. Apesar de que tudo depende de comunicação, e se expor, e fazer contatos, aparentemente, e sou péssimo nisso de qualquer jeito, hahahaha.

Hahahahaha entendo, entendo. E você já fez alguma apresentação ao vivo? Se sim, isso de cantar em inglês teve algum impacto incomum?

Eu tive uma única experiência e, pra mim, foi meio traumática, porque tava passando por um pouco de instabilidade mental na época. Acho que foi lá pelo fim de 2018, no primeiro ano que comecei a produzir e compor. Tive um episódio maníaco e decidi lançar um EP e fazer todo um rolê doido, queria fazer uma noite de arte e tal. Eu sei que talvez pareça ok ouvindo mas pra mim foi tudo muito fora da minha pessoa. Aluguei um lugar de festa, chamei tipo uma penca de gente no Facebook, fiz decoração, sei lá. No fim meus amigos mais próximos vieram, e “lancei” o EP (era o Songs About Roger) cantei umas músicas dele. Lembro de na hora estar bem nervoso, mas acho que o inglês em si não me passou na cabeça, e sim tipo…tudo, minha voz, o tom, o quanto acertava as letras, o teclado, etc.

Minha terapeuta fala que o que a gente faz durante um episódio é reflexão de desejos internos mas sem o senso de julgamento. Mas foi pesado pra mim depois. Desde então eu nunca cantei pra ninguém, e até me sinto mal ouvindo, tipo, com alguém do lado, com o meu pai, por exemplo, que gosta de ouvir de vez em quando, hahaha. Eu tenho real ataques de ansiedade durante a escuta. Acho que tem mais a ver com a voz, talvez.

Uau, eu já passei por uma experiência um pouco parecida, produzi um álbum em uma semana e depois fiquei em uma das minhas crises depressivas mais profundas. Acho que é porque quando a gente tira a ideia da cabeça e dá vida a ela, ela não é mais a mesma, nunca é. Eu nem lancei o álbum, estou reconstruindo ele peça por peça, no meu tempo, mas imagina quantos artistas independentes passam por isso…

Depois do alto sempre vem o baixo né… e parece que te leva mais fundo ainda. :(

Sim… é um processo imenso. Enfim, seguindo… eu meio que esqueci de perguntar a tua idade hah.

Hahaha, tenho 21, mas domingo agora faço 22.*

Caramba! Hahahaha. Desses quase 22 anos, quantos deles são fazendo arte?

Uuuhhhh três?… Isso, três, porque comecei a compor/produzir no fim de 2017 pro começo de 2018.

Oh, e isso veio da infância, teve alguma influência durante a sua adolescência ou cê só quis mesmo?

Acho que música eu sempre ouvi de mais… e comecei a fazer aulas de violão com uns 10 anos (fiz uns dois anos e toco meio mal), mas acho que a vontade e tipo… a percepção de que “ah, eu também posso escrever uma música” veio no segundo ano da faculdade. Concomitantemente percebendo o quanto não era feito pro mundo acadêmico hahaha.

Hahahaha. Quais são suas maiores influências atuais?

Sempre fui mais influenciado ou voltado pro mundo da música pop um pouco experimental e eletrônica ou então mais indie, e mulheres sempre foram minhas maiores influências. Acho que as que mais me influenciam são a Charli XCX, a St. Vincent, a Robyn, a Mitski… tanto no delivery vocal, nas escolhas artísticas que fazem, nos produtores que escolhem pra trabalhar junto, na visão e nas letras.

As mulheres > homens Hahaha.

Mas ultimamente, ultimameeeente, tenho fritado meu cérebro ouvindo muito nightcore e hi-nrg e coisas tipo, feitas pra incomodar os ouvidos e tal. E tenho feito muitos remixes inspirado no 100 Gecs e botado no meu Soundcloud, só faço isso na quarentena, hahahah.

Nossa, muito bacana. Atividades exclusivas da quarentena hahaha. Enfim, pra terminar essa parte da entrevista, queria saber o que você acha do cenário músical nacional atual.

Olha, eu sou suspeito pra comentar sobre o cenário nacional, porque tendo a focar na cena lá fora (me cancelem), mas do que vejo o que me vem à cabeça é uma ideia tipo nossa eu queria alguma coisa, algo direto, sei lá, um coletivo, que se juntasse e tivesse uma efetividade grande pra chegar na massa com uma mensagem contra o Bolsonarismo. Se isso acontecesse no Brasil seria o máximo. Acho que por isso os nacionais que eu mais admiro são os transgressores, que se expressam em vários gêneros e atingem várias audiências. De uma perspectiva queer ainda, a Linn da Quebrada, sabe, foda. Sei lá, o cenário no Brasil é tão diverso que acho essa ideia difícil, e eu não sei se o mainstream no Brasil é o funk ou o sertanejo. Acho que a Anitta tenta fazer isso acontecer talvez, mas a intenção dela não tá lá né. Não sei qual seria o meio pra isso acontecer. Mas eu adoro isso do pop, pela coisa grande que ela tem, esse potencial, de chegar no mundo todo. Queria que isso fosse explorado aqui numa perspectiva política (se adaptando ao que é pop no Brasil). Acho que tô falando abobrinha. E essa fala minha fica ainda mais sem pé com todo o desmonte da cultura acontecendo, e a gente não podendo nem se reunir. Mas ao mesmo tempo isso pode também dar a faísca, sei lá.

Você diz algo como foi a Tropicália durante a ditadura?

Exatamente! Eu acho a Tropicália um exemplo perfeito dessa ideia. A justaposição doida que foi aquele movimento, o jeito que usaram de mil influências pra tentar atingir o mainstream com uma mensagem subversiva. Mas de novo, não faço ideia de como isso se daria no cenário atual. Mas nossa como eu amo essa comparação. É exatamente isso hahaha. “Vocês não estão entendendo nada”. A primeira vez que fui numa peça no teatro da PUC em SP fiquei só pensando naquele discurso do Caetano, tipo, uau, foi aqui.

*O aniversário de Vindit é dia 31 de Maio. Ressaltando que a entrevista foi feita no dia 29.

The Algorithm Man

Vamos passar pro seu novo trabalho?

Vamos!!!! Aaaaaa.

Pra começar, eu queria saber, você fez ele todo em casa?

Sim, tudo no meu quarto, haha.

Uau, isso é incrível. A produção do álbum está impecável. Poderia dizer facilmente que foi gravado em um estúdio profissional.

Caramba, muito muito obrigado!

Disponha, o mérito é todo seu! Você usou quantos instrumentos físicos?

Acho que, nesse álbum, algumas músicas tem uns takes de violão (que gravei com o mesmo mic que uso pra voz) e minha guitarra também um pouco. Então, dois hahaha.

Hahaha. Sobre a estrutura das músicas, as rimas, eu achei elas… incríveis. Que tipo de padrão ou técnica lírica você usou na construção delas?

Hmmmmm, acho que, com exceção da primeira, que brinca exatamente com esse conceito de esquema de rima AABB, as outras foram um processo mais orgânico, às vezes focando mais na letra de antemão à melodia, às vezes entrando com a letra à favor da melodia do vocal, mas sempre me deixando livre pra explorar e, na versão final sempre fica o que acho que se encaixa melhor. Ou seja, não há técnica, vou na onda do que for fazendo sentido hahahaha.

Uau, incrível! O álbum, foi composto antes ou durante a quarentena? Porque assim, acredito que algumas faixas tem vários significados duplos se você levar em conta a quarentena ou as coisas como eram antes. Um bom exemplo acho que é a Take Me Out.

Ahhhhhhhh essa música eu escrevi exatamente quando a quarentena começou. É super literal, hahahaha.

Uau, hahaha.

Então a resposta é os dois, a primeira metade antes e a segunda metade depois…Eu tinha outras músicas mas mais pro fim tive uma semana de produtividade que rendeu mais músicas boas e elas ocuparam a metade final hahaha.

Hahaha, então por um triz Lightning Telegrams não foi um EP?

É, pode ser! Acho que eu to sempre escrevendo com um “projeto” em mente, tipo, tentando juntar uma coleção que faz sentido junta e parece que é mais pro fim que começa a fazer sentido elas juntas, aí eu falo “ok, tá bom” haha.

Uau, isso é bem legal. É um conceito muito bom, apesar de parecer simples se visto superficialmente, ignorando todo o processo.

Eu adoro ver os conceitos por trás da arte, especialmente álbuns, é super divertido, ainda mais quando não é tão óbvio.

Uma coisa que identifiquei fortemente no álbum foram críticas sociais. Eu acho realmente muito legal você ter essa coragem de dizer o que muita gente pensa, seja sobre nosso estado político atual ou sobre a manipulação que ocorre na internet em nome das vendas. Eu queria saber como foi trabalhar nisso. Você se sentiu livre o tempo todo? Considerou levar hating daquele povo desinformado?

Eu adorei que você sacou essa parte de algumas letras, valeu! Eu acho que eu tendo a não pensar muito sobre comentários dos outros enquanto tô no processo criativo, mas depois que solto fico mal (como todos eu imagino, você já deve ter sentido isso). É sempre um processo muito difícil de exposição na hora de soltar algo. Mas como eu nunca tive muito público eu acho que nunca tive que lidar ainda com muito hate, sabe? Às vezes eu até acho que escrevo algumas coisas pra provocar alguma reação, inconscientemente, hahaha. Mas acho também que as músicas que tem alguma reflexão externa são mais tipo (não sei se faz sentido mas) reflexões internas das mudanças externas doidas que tão acontecendo. Reflexões que acontecem em mim, tipo em algorithm man refletindo sobre literalmente não saber o que vai acontecer no mundo pós-manipulação de informações com algoritmos mas, internamente, tentando acabar com alguma mínima perspectiva de esperança.

Hahahaha que demais! Isso é ousado, gosto disso. Também, eu acho que isso faz todo sentido, e que é muito bonito na verdade! É… Tipo um florescer de você mesmo a partir de informações que você conseguiu, certo?

Isso, que é o que a gente faz naturalmente na vida eu acho, mas tentando expressar em músicas, preferencialmente algo chiclete e bem produzido hahah. Ou coeso, pelo menos, que é o que os artistas que me inspiram fazem, eu acho.

Por sinal, eu amo os riffs chiclete que você fez nesse álbum. Tipo, nossa, aquela intro do AABB Schemes e aquela escala do Algorithm Man… Incríveis hahaha. Só que isso me fez pensar também: como você define a sua música? Tipo, o que você está tocando? A gente tem essa viagem bem psicodélica em Young Brazilian e de repente lá pro final a gente tem algo que parece um Rock no Scream!

Então, não sei! Só consigo pensar em pop! Porque acho que pop é o termo “guarda-chuva” que uniria todos esses estilos, sabe? Mas, no fim, acho que o que menos importa é como eu defino, então, como você definiria o que você ouviu? isso me interessa bem mais! hehehe. Tipo, acho que debaixo de todas as produções, todas as músicas tem a mesma estrutura (verso-pré-refrão-etc) que poderia ser colocada numa música pop, então por isso fico nessa, mas acho que a produção de Young Brazilian é sei lá, new wave? anos 80? synth pop? Mas é o que eu falei eu acho, quero saber sua opinião, a do ouvinte, hehe.

Oh, isso é muito legal. Só que tipo, de mim cê infelizmente não vai ter hahaha. Não é nem por mal, mas é que eu literalmente nunca sei definir o que estou ouvindo, eu geralmente só chuto hahaha.

Total, eu também, hahahah.

Queria dizer algo que senti enquanto ouvia o álbum e assim, esse foi o impacto que causou em mim, queria saber se pra você foi também a mensagem que o álbum se transformou, que é tipo… O álbum é libertador! Apesar das premissas que estão presentes em terceiro plano no álbum, eu sinto que o trabalho é sobre liberdade. Quando você por exemplo diz que quer pintar o cabelo da cor favorita de alguém, pra se sentir mais próximo dessa pessoa, ou então, em outra extremidade, quando você diz que o fim do mundo não existe, que ele é o agora. Que estamos a um fio de cabelo, a um deslize de nos entregarmos a esse fim. Era essa a mensagem principal?

Eu acho que foi bem libertador pra mim também sim, principalmente enquanto objeto de criação… Acho que foi a primeira vez em um ano que eu me senti (um pouco mais) livre e sem tanto peso na consciência de estigmas de “um artista bom é assim” ou “um compositor bom é isso que faz” e etc. Então fico muito muito feliz de ouvir que essa foi a mensagem que te passou, acho que o que eu sentia tenha realmente se impregnado no trabalho de alguma forma. Ah, eu fico muito feliz, sério. Que isso se traduziu de alguma forma. Porque eu diria que essa seria a impressão que eu teria sobre o álbum todo, não achava que alguém que ouvisse sentiria a mesma coisa!

Sobre o título do álbum, de onde surgiu? E aquele texto da capa, o que há nele?

Então, é um extrato de um poema que eu amei muito e me agarrei e me pegava lendo durante o tempo que tava compondo. Foi citado num livro que tava lendo, é um poema do Mayakovsky, que diz assim:

“Past one o’clock. You must have gone to bed.

(*Já passa de uma hora. Você já deve ter ido dormir).

The Milky Way streams silver through the night.

(A Via Láctea flui prata pela noite.)

I’m in no hurry; with lightning telegrams

(Não estou com pressa; com telegramas elétricos)

I have no cause to wake or trouble you.

(Não tenho motivos pra te acordar ou te atrapalhar)

And, as they say, the incident is closed.

(E, como eles dizem, o incidente encerrou)

Love’s boat has smashed against the daily grind.

(O bardo do amor foi esmagado pela rotina diária)

Now you and I are quits. Why bother then

(Agora eu e você estamos quites. Então por que se preocupar)

To balance mutual sorrows, pains, and hurts.

(Para equilibrar tristezas mútuas, dores, e feridas.)

Behold what quiet settles on the world.

(Veja o que o silêncio estabelece no mundo.)

Night wraps the sky in tribute from the stars.

(A noite embrulha o céu em tributo das estrelas.)

In hours like these, one rises to address

(Em horas como essas, sobe-se para abordar)

The ages, history, and all creation.”

(As eras, história, e toda a criação.)

…E no livro que eu tava lendo mencionava que ele tinha usado esse poema como parte da sua nota de suicídio, substituindo a palavra “you” (você) por “life” (vida) em alguns trechos e não sei, eu não sou muito de poesia, nem de poetas sovietes, nem leio muito hahaha, mas algo sobre isso ficou comigo e eu voltava sempre…E fiquei pensando que o termo “lightning telegrams” é uma maneira interessante de somar essas músicas. Tipo mensagens que tô enviando, o telegrama elétrico e tal, um relâmpago sendo meio metafórico tipo, me vem algo muito visual na cabeça dessas músicas sendo cápsulazinhas desse momento da minha vida e pequenos relâmpagos com mensagens que quero transmitir ou pelo menos guardar. Sei lá, na minha cabeça faz sentido, hahaha. o poema é bem visual pra mim, stars, milky way, lightning, todo esse palavreado imagético de tipo algo grandioso… Eu acho muito lindo. E é sobre algo final, e ele se transformou também em algo final quando ele usou na nota dele, então tem um sentido também de legado, pra mim. Tipo, é isso que eu consegui fazer, aqui na Terra. No meu velório vai ter um link do meu bandcamp e esse é o meu legado, sabe. E tudo bem.

Acho que é isso, hah.

Uau… isso é muito lindo. Isso me deixou inspirado de verdade. É profundo.

Aaaah! Espero que esse poema te toque o tanto quanto me toca e que você ache a inspiração, no seu tempo, pra retomar o seu trabalho logo mais. :)

Obrigado… mesmo. Essa entrevista fez meu dia, e enquanto voltar a trabalhar nela, até o dia do lançamento do álbum, ela fará meu mês de Junho, acredito. A gente vai finalizando por aqui. Foi uma experiência sensacional a que você me deu, de ter acesso antecipado ao álbum e agora essas linhas tão inspiradoras. Eu acho que você passou adiante um significado incrível, que vou ficar boas madrugadas refletindo e alimentando minha essência artística sobre não só o seu álbum por dentro, mas tudo o que você falou sobre aqui fora.

Ruan, o prazer foi todo meu, e de novo, queria agradecer por ter de fato realizado um sonhozinho meu que é o de poder falar francamente sobre minha arte com alguém que tá genuinamente interessado e me dar a confiança de me levar a sério… Essa série de entrevistas que você tá fazendo tá, sem exagero, mudando a vida de bastante gente eu imagino. Continua fazendo tudo o que faz, e vamos continuar a nos inspirar.

Muito obrigado, Vindit, mesmo. Ah, e uma coisa pra finalizar: Você quer passar alguma mensagem pra quem estiver lendo essa entrevista ou ouvindo seu álbum nesse momento?

Sim: se tiver ouvido algo meu, saiba que veio do fundo da minha alma (com muito labor) e espero que tenha te tocado de alguma forma, mesmo se for só uma linha de baixo legal que te fez dançar. E, como não canso de falar, obrigado por ouvir! É isso que tenho pra oferecer pro mundo, eu acho.

*Poema de Mayakovsky traduzido livremente, não garanto que esteja acurado

“Isso ficou comigo e eu voltava sempre…um relâmpago sendo meio metafórico tipo, me vem algo muito visual na cabeça dessas músicas sendo cápsulazinhas desse momento da minha vida e pequenos relâmpagos com mensagens que quero transmitir ou pelo menos guardar…tipo, é isso que eu consegui fazer, aqui na terra. No meu velório vai ter um link do meu bandcamp e esse é o meu legado, sabe. E tudo bem.”

-Vindit

Essa foi a entrevista. Realmente espero que você leitor tenha gostado. Lembrando que O Ouvido Entre As Paredes do Quarto é um coletivo completamente independente que visa dar voz a artistas independentes. O que você leu agora foi mais um artista independente e um pouco de sua trajetória. Você fez isso acontecer, você fez isso dar certo! :)

Não se esqueça de, se quiser, ouvir os trabalhos de Vindit nas plataformas de streaming:

Obrigado por ler!

Viva a Arte!

Seja e seja Sentido.

-Ar,Tristo

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