Coloque a máscara primeiro em você, depois na criança ao seu lado

Thiago Baraldi Ferreira
O Pai Simbólico
Published in
4 min readJul 8, 2017

“Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Puxe uma das máscaras, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e respire normalmente, depois auxilie a criança ao seu lado”

Achei muito estranho quando escutei este anuncio pela primeira vez durante a apresentação das instruções de segurança em um avião quando eu tinha 17 anos. Quando escutei esta orientação no mês passado, na primeira viagem de avião com a minha filha, fiquei aterrorizado imaginando a cena. Como assim? A última? Tão indefesa? Eu preciso cuidar dela! Esta orientação vai contra o instinto paterno de proteção.

Mas a verdade é que, basicamente, se a cabine de uma aeronave perder a pressurização, em alguns segundos nós desmaiaríamos por falta de oxigênio. As máscaras nos forneceriam oxigênio para ficarmos conscientes por mais algum tempo. Muitas crianças não conseguem alcançar as máscaras dos seus assentos ou não tem ainda habilidade para colocar as máscaras sozinhas ou podem entrar em pânico. Se os adultos tentarem colocar as máscaras nas crianças primeiro, eles podem desmaiar antes. Mesmo que as crianças consigam colocar suas máscaras primeiro, elas não conseguiriam alcançar a máscara para salvar o adulto.

Se o adulto se salvar primeiro, há ainda uma esperança de salvar a criança.

Este procedimento de emergência nos ensina muito sobre a paternidade. Quando nos tornamos pais, a primeira coisa que nos ocorre é a obrigação de dar o melhor de si sempre para o filho. Dar o melhor de si para o filho pode ser considerada a mais elevada intenção que se pode ter. É o impulso do pai provedor da família regendo a função paterna. Isto pode nos causar angústia e frustração. Um sentimento que estamos fazendo pouco. Tudo isso porque existe uma Lei do Universo a qual todos estamos submetidos que é implacável:

Nós só podemos dar aquilo que temos. Simples assim.

Você pode querer ser melhor porque se tornou pai, mas você não deixa de ser você porque agora tem um filho. Todas as suas verdades, desejos, valores, ideais, expectativas e também suas frustrações, medos, inseguranças, ressentimentos estarão dentro de você ditando seu comportamento e é isto que você tem a oferecer a seu filho, principalmente nos momentos de turbulência nos quais somos atropelados pelo nosso inconsciente e agimos no automático.

Se quisermos nos tornar bons pais, devemos voltar toda a nossa atenção e energia a nós mesmos e não à criança. O que pode parecer a princípio um ato de apenas amor próprio ou egoísmo, é na verdade a condição para ser capaz de cuidar do outro. O melhor que você pode fazer por seu filho é cuidar bem de você.

Vivemos tempos turbulentos ultimamente. A sociedade atual é marcada pela rapidez das informações e avanço de novas tecnologias que modificam o modo de pensar e de viver das pessoas. As regras e valores já não são tão rígidos como na época dos nossos pais. Os modelos e paradigmas são quebrados em uma frequência frenética, como se o mundo não tivesse mais referência, previsibilidade e controle. Tudo é muito rápido e não temos tempo.

Ser pai neste cenário contemporâneo exige sustentação da estrutura paterna na turbulência.

Volte toda a sua atenção a você. Gaste tempo com você. Descubra quem você é e construa quem você quer ser. O “bom pai” suporta emocionalmente a família, aponta direções e estabelece regras. Para que ele exerça esta função é necessário que ele se mantenha bem sobre o próprio eixo, com seu “estoque de oxigênio” pleno. Esta é uma condição necessária para estar apto a colocar a máscara no filho enquanto ele ainda não alcança a sua própria, não tem habilidade para colocá-la sozinho ou entra em pânico. Se você cumprir bem esta missão, ele atingirá a idade adulta sem medo de voar.

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Thiago Baraldi Ferreira
O Pai Simbólico

Curioso, pai de primeira viagem e engenheiro mecânico — Curious, first-time father and mechanical engineer