ssheep
2 min readMar 20, 2016

Olhe para mim, eu não irei falar duas vezes.

O que você está prestes a presenciar não é um ato comum, ordinário. Ao contrário — e mais simplesmente — é puramente fortuna e acaso.

Isto não é nada como mágica. Preste atenção. Quanto tempo você demorou para chegar até aqui? Agora, a tua mente talvez há de tentar tergiversar, e eu quero que você fique comigo. É melhor sequer pensar em mais nada.

Gratidão, nada além de gratidão.

Responda, eu disse responda. Mas ele não disse nada. Inquieto, parece atingindo por uma constante necessidade de manusear a página. Não há muito que ser dito. Cabe pouco quando o imperativo sobra — oco, rebatido por meneio invisível.

Isto, o que é isso em suas mãos? Este objeto tão inverossímil. Venha, se aproxime. Deixe-me contemplá-lo, perto, à luz da janela da tua alma. Anda, não seja tímido. Então é por isso que tua atenção serpenteia, exaurida pela pressa exagerada que te amargura. Não, você não tem ideia. E nunca... E quanto tempo você demorou para chegar até aqui? Até a beira exata do aproximado.

Na região simpática que te conforta. Conforto não é a palavra. É teu reino, tua peça simbólica, teu lanhado, tua geração, ferida e sobrevida, tua saudade (um meio copo), é o desejo benevolente de cometer a atrocidade de ser, é o ensejo metálico no osso do peito. São quatro da tarde, e você aqui.

Teu velho pai, assassinado como bicho pelo desenrolar da idade — instantâneo, como um eclipse indistinguível, e você aqui. Um Édipo a deriva, sem tragédia. Na zona limítrofe do ser um merda.

Olhe para mim, Vernon. Eu disse para olhar; não para pegar na minha mão. Olhe com atenção, eu quero que você aprenda como morrer.