Não se faça de otário que é pior

Murillo Leal
Murillo, o Leal.
Published in
3 min readJan 19, 2020

É a tônica do nosso tempo: Não estamos sabendo mais construir uma intimidade saudável. O cinismo tartufo aparece no primeiro sinal de que gostamos realmente de alguém. A fantasia anônima do disfarce.

Tá todo mundo com medo de pessoas. Do que elas são e do que elas fazem. Na realidade, dizemos que estamos decepcionados com elas, mas, no fundo, estamos tristes com a gente mesmo. É curioso observar que estas situações dizem mais sobre a gente do que sobre o outro.

A maioria de nós consegue ter uma convivência sadia com pessoas. E mesmo assim, às vezes, não estar mais a fim de se dar ao luxo de creditar uma paupérrima confiança que seja. O medo deu-nos um knockout daqueles que quebra a cara inteira e nos acovarda.

A informalidade com que colocamos pessoas nas nossas vidas também é uma questão que nos convém, mas nos atrapalha. Por causa dela, deixamos de molho as etiquetas dos relacionamentos, e num avesso proposital e absoluto, lutamos contra a exposição de sentimentos, combatendo qualquer hipótese de apego sem se dar conta de que isso expõe as nossas vísceras bem diante do céu aberto.

Amarrados a uma mentalidade machucada, decretamos um recesso nos relacionamentos, fingindo demência sentimental e nos acostumamos a mostrar os dentes num sorriso amarelo, mesmo já conhecendo a antiga piada.

Fazemos de tudo para, inconscientemente, nos tornarmos invioláveis. Esbarramos em desculpas para sentir-se feliz com o que conseguimos e chegamos a acreditar no absurdo de uma vida possível numa ilha afetiva. Tudo para poupar-se, para simular bastar-se. Num fingimento auto-convincente.

É como se, hipnotizados, num coro coletivo, gritássemos juntos: “Comprometidos uma ova!” e fazemos do amor um happy hour em plena segunda-feira. Pense bem. Todo mundo quer uma diversão, mas poucos tem o fígado para uma vodka no começo da semana.

Transportamos o amor para um lugar onde é apenas um alívio sem qualquer responsabilidade concreta. Uma bebedeira momentânea que nos deixa anestesiados enquanto estamos embriagados mas não tem o efeito terapêutico. A ressaca sempre vem, bicho.

Criamos daí, a recessão do amor. Umas férias para o sentimento. Um contrato novo para o ressentimento. Mandamos o coração para um spa e acabamos descobrindo quão tedioso pode ser o ócio da falta de amor com propósito. Deixamos o amor num lugarzinho onde o sol bate, mas nem tanto para corar seu bronzeio.

Abrimos a alma diante da gente mesmo e deixamos cair no chão a delicada realidade que se estilhaça num ensurdecedor estralo do silêncio. Esta deveria ser a hora de falar tudo pra si. Sem fazer do pudor uma neurose. Sem recalque consigo mesmo. Amor-próprio? Não. A mais pura e severa sinceridade escancarada no espelho.

Qualquer sujeito que tenha tido 5 minutos de amor verdadeiro, não se contenta com essa vida de fingimento. Vive um eterno belisco diante da ilusão. Busca para si um frenesi cru. Não quer esconder o rosto na penumbra. Reserva logo tudo que consegue. Que mané metade coisa nenhuma. A gente quer logo o amor inteiro.

Para si próprio, tudo se pode perguntar. Deve-se encontrar tudo que está na menta para esconder o amor. Já não há questão indiscreta diante do espelho. Respostas nem tampouco.

Não viver algo por medo? Coisa de troglodita. Desalmado. Gente sem vida. Fale e mostre o máximo. Exiba-se pro afeto. Ame verdadeiramente. Diante do amor, não se faça de otário que a coisa só piora.

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Murillo Leal
Murillo, o Leal.

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br