O esgotamento que é ficar privado em si

Murillo Leal
Murillo, o Leal.
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3 min readMay 29, 2020

Assim como você, eu tenho me sentido esgotado. Tenho sentido medo de não conhecer mais o mundo lá fora, de não poder mais saber da minha sanidade, de ter que conviver, para sempre, com os efeitos colaterais ainda mais graves da frieza do ser humano.

Tenho desperdiçado a oportunidade de corresponder a confiança dos meus parceiros de trabalho, de entender que meus amigos são falhos, de amar pessoas sem ficar de frescura, de agradecer aos céus pelas coisas simples.

Corro atrás de vasculhar o baú da minha mente atrás de detalhes bobos que me façam lembrar de tudo que me traz esperança. Surpreendo-me com as notícias, me sinto perseguido com as mentiras que conto pra mim mesmo e desabafo num deserto de impossibilidades.

Trato de fazer uma perícia cuidadosa nos gatilhos que me empurram pra sensação de fracasso coletivo, teimo diante da mais evidente conclusão de que não podemos ser inteiros , e blasfemo radicalmente, como um pecador de injúrias sagradas em meia dúzia de palavras em vão.

Reconheço que o mundo agiganta a angústia, mas que dentro de um perímetro emocional, toda luta é individual. Escrevo sem medo de ser julgado que o mundo inteiro, cada pedaço de humanidade que existe, está sustentado por uma realidade bem maior do que os olhos podem ver.

Esperneio silenciosamente na privacidade da minha mente, como um filho mimado que desaprendeu a identificar o amor recorrente dos seus pais. Boto a mão no fogo e vivo preparado pra deserdar o mundo que me deram.

Ali na frente tem a esperança dizendo para mim que o maior peso da humanidade é ter a obsessão que se sentir completo é uma obrigação fundamental, quando, na verdade, o que nós completa é o tiquinho de existência que nos é dado todo dia.

A vida é real. As suas dores e alegrias também. Difícil é separar os pensamento e entender que aquilo que nós pensamos sobre as coisas pode não ser a realidade, pode nem existir, é apenas aquilo que nós pensamos sobre as coisas. E mais nada.

Meu maior medo na vida nunca foi da morte, da falta de dinheiro, dos perigos que a vida nos impõe. Isso tudo é perfumaria. Meu medo é sim me trair, é ter passado por aqui sem ter vivido o que acreditava, sem ter impactado nada ou ninguém, sem ter sido importante para as pessoas que convivi e atingi de algum modo, ou seja, ter uma vida inteira sem ter deixado nada de legado.

Acho que escrever é meio que reservar suas particularidades ao mundo todo e eternizar a sua mente sem dispor da blindagem dos bons modos e da hipocrisia latente. Escrever é vomitar-se.

Eu vim pra desnudar o mundo, com a rebeldia de um iconoclasta clássico, cheguei aqui para mostrar ao mundo não só que a vida vale a pena, mas pelo que exatamente ela vale a pena.

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Murillo Leal
Murillo, o Leal.

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br