Tá todo mundo mal, mas tudo bem estar mal

Murillo Leal
Murillo, o Leal.
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4 min readJan 15, 2020

Recado antes do texto: Comecei uma newsletter que vai te enviar um texto semanal exclusivo (só pode ler quem estiver inscritos) para te fazer pensar em algumas coisas importantes na vida. O único compromisso é te provocar, te tirar do lugar comum e cutucar alguns pontos e levantar questões que podem te ajudar a melhorar sua vida sem blabláblá. O conteúdo sempre será totalmente gratuito e não vou vender nada por lá. Resolvi postar hoje o primeiro texto que foi disparado para que entenda do que estou falando, mas todos os demais serão apenas para quem assinar.

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Por que temos a impressão de que ninguém está bem?

Não precisa ser muito inteligente para notar: Existe uma quantidade enorme de pessoas com sintomas claros de doenças mentais. Todo mundo conhece um depressivo (ou sofre pessoalmente desse transtorno).

Em contrapartida, diante desse diagnóstico, existe uma massiva tentativa de resposta a essa condição que na verdade é um enorme esforço de transformar diagnósticos claros de que estamos vivendo uma vida doentia, em falas para nos convencer de que a vida pode ser sim um parquinho de diversões. Uma intenção ridícula de jogar o farelo para de baixo do tapete.

Uma amiga tentou me convencer de que somos mais corajosos que nossos pais porque “falamos mais sobre o assunto”. Bem, não me iludo com o conceito de coragem. Junto desse alarde importante — por parte da imprensa e dos debates públicos que vão desde simpósios lotados de agentes da saúde até os botecos — tem uma centena de questões que reforça o efeito epidêmico das doenças mentais.

Não acredito que a “coragem de dizer” deva ser o ponto principal do debate. Acho que chegamos num nível de liberdade de fala e de inviabilidade de viver preso a pressão emocional que o mérito da explosão do assunto nos meios de discussão se dá justamente por não conseguirmos mais evitar.

Mesmo que tenhamos falado mais sobre isso. Ainda não considero a gente tão corajoso assim. Tendo mais a acreditar que ficou tão descarado e impossível não tratar isso com a importância e a seriedade que tem que tratar, que nada mais é capaz de disfarçar.

Eu acho que estamos afundando o pé na jaca no que diz respeito a querer viver mais e de maneira mais rápida. E esse tem sido um ponto fundante da questão:

Como manter a saúde mental em meio a novos e crescentes desafios de produtividade, dinâmicas sociais distintas, tecnologia imparável e sociedade de mercado emergente? É está toda a questão que sustenta a discussão sobre saúde mental.

A questão central desse debate, acredito eu, seja mesmo propor com que deixemos de nos perguntar em que momento erramos, e tentar não buscar apenas a parcela de culpa ou responsabilidade na sua própria vida psicológica, mas comecem a encarar sua realidade para encontrar lugares de acolhimento que possam nos levar a uma nova percepção de realidade.

A mente não é tão matemática assim. Não se pode viver de palavras afirmativas e pensamentos positivos. A mente está em todas as subjetividades dos seres humanos, que, por sua vez são psicologicamente inexatos, comportamentalmente imprevisíveis e emocionalmente imprecisos, portanto, agem de maneira ambivalente.

Acho que um dano sério que estamos nos provocando é criar uma mentalidade que transforma as dores naturais da vida em grandes problemas insolúveis.

Quando tratamos alguém depressivo com uma certa invalidez, deixamos de lado a realidade do ser humano na sua maior natureza concreta, e desconsideramos a manutenção contínua que todos temos que enfrentar. Ninguém precisa estar bem o tempo inteiro.

Não tem problema ser vulnerável. Não tem problema chorar diante das agonias da vida. Não tem problema a melancolia. Não tem problema ser gente de verdade, com problema de verdade, que enfrenta uma mundo cruel. Agora, o problema está justamente em ser seduzido por esta “cultura cool” que dogmatiza a dor e gera uma contaminação radical na maneira como entendemos a saúde mental.

O alivio para a mente de um aflito não está no discurso que navega na onda ilusória de que ter uma vida simples basta meditar no pôr do sol, consumir kombucha e chá verde ao invés de Coca-Cola, viajar pra Índia ou pra qualquer ligar no mundo atrás de si, renomear as dores concretas da vida para suprimir significados auto-sufocantes, abraçar discurso do vitimismo paralisante ao invés de agir na questão, não basta comprar discursos prontos que são frutos de uma moda positivista e fofinha, entupir-se de pautas de realidades simuladas que a mídia e da classe artística endossam e encontrar morada no mercado narrativo de ideologias variadas. Isso tudo é apenas um placebo ineficiente.

Não adianta apropriar-se do discurso da vulnerabilidade como um mantra para se sentir melhor. De nada disso adianta ignorar as pressões do mundo contemporâneo fingindo que se importa as questões para sentir-se parte de um grupo de “vingadores do mundo cruel”. O que nos fortalece é conhecer-se verdadeiramente para fora das modinhas, mas para dentro de si.

É preciso acolher-se. Ser vulnerável. Trabalhar a autoestima de maneira responsável. Sondar suas intenções com sinceridade. Descobrir sua própria confiança para não tornar-se sócio de um mundo lotado de frouxos e melosos.

A depressão e suas outras versões não é brincadeira. Nunca foi. É preciso buscar ajuda como se pode ter, mas mais do que entupir-se de discurso entorpecentes para a alma e fingir que não se vê, é levantar da cama e começar a procurar ajuda com os recursos que tiver ao alcance. Já. Agora, depois que terminar esse texto.

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Murillo Leal
Murillo, o Leal.

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br